Pelo menos 32 pessoas morreram, e cerca de 190 ficaram feridas, em um tumulto registrado nesta terça-feira (7), em Kerman, ao sudeste do Irã, onde é celebrado o funeral do general Qassem Soleimani, acompanhado por milhares de iranianos – informaram fontes oficiais à televisão pública.
“Infelizmente e devido à extraordinária multidão que se concentrou, 32 dos nossos compatriotas perderam a vida”, em meio ao gigantesco cortejo fúnebre que avança em homenagem ao general, declarou o chefe do Serviço Nacional de Urgências iraniano, Pir Hossein Koulivand, à emissora estatal.
O centro de Kerman, cidade natal do oficial que foi morto em um ataque americano na sexta-feira e que será enterrado à tarde, foi invadido por uma maré humana semelhante à que varreu no domingo e na segunda-feira Teerã e outras cidades por onde os caixões do general e de seus companheiros de armas passaram.
Chefe da Força Al-Quds, uma unidade de elite encarregada das operações externas da Guarda Revolucionária (Exército ideológico iraniano), Soleimani era o arquiteto da estratégia do Irã no Oriente Médio.Ele foi morto em um ataque de drone americano em frente ao aeroporto de Bagdá.
O processo de “expulsão dos Estados Unidos da região já começou”, disse à multidão em Kerman o comandante-chefe da Guarda Revolucionária, major-general Hossein Salami.”Nossa vontade é firme. Dizemos a nossos inimigos que vamos nos vingar e que, se eles atacarem novamente, atearemos fogo no que eles adoram”, disse em tom enigmático. “Eles sabem de que lugares estou falando”, completou.
Nesta terça, o Parlamento iraniano adotou, em caráter de urgência, uma lei que classifica todas as forças armadas americanas como “terroristas” após o assassinato de Soleimani.
‘Terroristas’
Para isso, adotou uma emenda à lei que declara “terroristas” as forças americanas enviadas ao Chifre da África e à Ásia Central, passando pelo Oriente Médio.
A denominação agora se estende a todas as forças americanas, aos responsáveis pelo assassinato de Soleimani e a qualquer pessoa física, ou jurídica, envolvida em sua morte.
“O mártir Qassem Soleimani está mais poderoso e vivo agora do que morto” e “mais perigoso para o inimigo”, garantiu o chefe da Guarda Revolucionária diante dos caixões do oficial e de seu braço direito, o general de brigada Hossein Pourjafari, expostos entre coroas de flores na praça Azadi, em Kerman.
Elevado postumamente ao posto de general de corpo do Exército, patente inutilizada há anos no Irã, o oficial é amplamente considerado em seu país como um herói pela luta travada contra os extremistas do grupo Estado Islâmico (EI) no Iraque e na Síria.
Aos olhos dos iranianos, isso permitiu que sua nação multiétnica evitasse a desintegração ocorrida no Iraque, na Síria, ou no Afeganistão.
“Estamos aqui para prestar homenagem ao grande comandante da Defesa sagrada”, disse Hemmat Dehghan, referindo-se ao papel de Soleimani na defesa do país durante a guerra Irã-Iraque (1980-1988).
“Ele era amado não apenas em Kerman, ou no Irã, mas em todo mundo”, ressaltou esse veterano, de 56 anos.
“Desescalada”
“O mundo inteiro, os muçulmanos, os xiitas, o Iraque, a Síria, o Afeganistão e especialmente o Irã: todos lhe devem muito por sua segurança”, acrescentou este homem, que disse ter chegado procedente de Shiraz, a mais de 500 quilômetros de distância.
Desde o assassinato de Soleimani, a comunidade internacional teme uma nova grande explosão no Oriente Médio. Enquanto os principais líderes civis, religiosos e militares iranianos se revezam para anunciar uma terrível vingança, os pedidos de “desescalada” aumentam em todo mundo.
O ex-presidente francês François Hollande considerou que o presidente americano, Donald Trump, “ameaçou o mundo” com sua decisão “mais do que infeliz” de eliminar o general.
Nesse clima hipertensivo, após meses de pressão entre Washington e Teerã, em um cenário de escalada militar no Golfo e tensões em torno da questão nuclear iraniana, os Estados Unidos criaram confusão na segunda-feira ao transmitir por engano às autoridades iraquianas uma carta anunciando os preparativos para a retirada de seus soldados do Iraque.
A carta se referia a uma votação realizada no domingo no Parlamento iraquiano. Nela, exigia-se do governo que expulsasse as tropas estrangeiras do Iraque, depois do ataque que matou o general Soleimani.
Em entrevista coletiva, o secretário americano da Defesa, Mark Esper, garantiu que “nenhuma decisão foi tomada para deixar o Iraque. Ponto”.