O rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, que neste sábado completa 1 ano, destruiu sonhos, deixou 259 mortos e 11 desaparecidos e provocou devastação equivalente à área de 300 campos de futebol. Como se não bastasse a tragédia humana e ambiental, o estouro da estrutura também afetou e seguirá afetando a economia mineira. O prejuízo já chega a R$ 20,1 bilhões (R$ 16,8 bi em 2019 e R$ 3,3 bi em 2020).
O valor é calculado pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e leva em conta recursos que tanto a mineração quanto segmentos vinculados ou dependentes dela deixaram de movimentar em razão do ocorrido em Brumadinho e da suspensão de outras minas do Estado, paralisadas após o tsunami de lama na cidade da Grande BH.
Recuperação
Passados 12 meses, o setor trabalha para se reerguer. O preço da tonelada do minério deverá ser maior em 2020 do que no início de 2019. “Antes da tragédia, a tonelada estava em US$ 75. No meio do ano passado, houve o pico: US$ 126 (devido, entre outros fatores, à queda na produção em Minas). Fechou o ano em US$ 94. Para 2020, deverá ficar entre US$ 80 e US$ 85”, disse Daniela Brito, gerente do departamento de Economia da Fiemg.
O desastre em Brumadinho e a paralisação de minas no Estado levaram a Vale, a maior das empresas do setor no país, a recuar a produção em 2019 em 71 milhões de toneladas. Para este ano, o montante será menor: 32 milhões abaixo do seu potencial.
Mariana
Não custa lembrar que a Samarco, controlada pela Vale e responsável pelo maior crime ambiental da história do Brasil (Mariana, 2015), deverá voltar a operar parcialmente a mina naquela cidade, onde uma barragem se rompeu em 5 de novembro de 2015, deixando rastro de danos que chegou ao Oceano Atlântico.
Os dados sobre o setor não são atualizados na mesma velocidade que outros da economia. Tradicionalmente, a defasagem é de dois anos. Mas, levando-se em conta a indústria extrativa, a Fiemg informou que, em 2019, houve uma queda em Minas em torno de 25%, puxada pelo desastre em Brumadinho.
Em razão disso, quase 45 mil empregos foram fechados no Estado. A perda de receita refletiu, claro, na arrecadação tributária, sobretudo a gerada pela Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem). Do ano passado até 2021, este total poderá chegar a R$ 6 bi.</CW> “Uma vez que os municípios têm a mineração interrompida, arrecadam menos. Quando há os desastres, há perda de empregos”, alertou Glauber Silveira, professor do curso de Economia do Ibmec.
“Dos 15 municípios que mais arrecadam no Brasil, 12 estão em Minas Gerais”, informou Rinaldo Mancin, diretor de Relações Institucionais do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). Os dois primeiros do ranking nacional são Parauapebas e Canaã dos Carajás (PA), nos quais também atua a Vale.
Especialista diz que reestruturação exige sustentabilidade
Embora essencial para a economia mineira, a mineração não pode mais deixar um rastro de destruição socioambiental, como ocorrido nas tragédias de Brumadinho e Mariana. A reestruturação do setor precisa caminhar junto à proteção de vidas e do meio ambiente, dizem especialistas.
“O desafio é trabalhar para a mineração no caminho da sustentabilidade”, afirmou Rinaldo Mancin, diretor de Relações Institucionais do Ibram. Em setembro passado, a entidade publicou uma carta-compromisso à sociedade.
Nela, a entidade destaca ser “imprescindível, nesse contexto, apresentarmos respostas às indagações quanto à nossa segurança operacional e, consequentemente, quanto ao custo-benefício de nossa presença nos territórios”. “A sociedade poderá nos cobrar com base nesta carta”, assegurou Mancin.
O documento foi publicado no mesmo ano em que Minas Gerais aprovou a Lei 23.291, que criou a Política Estadual de Segurança de Barragens, proibindo o método de construção de barragens de alteamento a montante, como era a da Vale em Brumadinho e a da Samarco, em Mariana.
“O poder público precisa criar mecanismos para que a mineração seja sustentável. Ao mesmo tempo que é importante para gerar emprego e arrecadar preciso, é preciso conciliar com uma sustentabilidade ambiental, que não agrida ao meio ambiente e com barragem mais segura. O poder público tem se movimentado (neste sentido), mas não na velocidade que a gente gostaria, para melhorar as regras para a exploração mineral”, alertou Glauber Teixeira, do Ibmec.
Talvez uma proposta a ser apresentada em forma de projeto de lei pela Assembleia Legislativa de Minas em fevereiro, quando termina o recesso, sirva para que empresas e poder público não se esqueçam da importância destas mudanças. A proposta é decretar luto oficial do Estado em todo dia 25 de janeiro. “Todos que passarem pelos órgãos públicos vão lembrar desse crime, responsável pelo maior número de mortes de pessoas num único evento. Esse erro terrível passará para a história”, disse Agostinho Patrus, presidente do Parlamento.