A apresentadora Ana Maria Braga tem uma tarefa difícil pela frente: vencer um câncer de pulmão, diagnóstico que ela anunciou esta segunda-feira (27), no encerramento do programa Mais Você.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), trata-se do segundo tumor mais comum no Brasil – o primeiro do ranking é o câncer de pele não melanoma. Mais frequente em homens, a doença atinge mais de 30 mil brasileiros por ano e tem como principal fator de risco o tabagismo, hábito que a apresentadora afirmou que estava tentando abandonar em maio de 2019, em entrevista à jornalista Mônica Bergamo.
O adenocarcinoma, tipo cancerígeno detectado em Ana Maria, é o mais comum entre os que acometem os pulmões. É também o mais agressivo. “Ele tem um prognóstico um pouco pior que os demais, pois apresenta maior tendência a metástases. Logo, costuma ser diagnosticado em estágios mais avançados, quando a cirurgia associada à radioterapia ou à quimioterapia já não são muito eficazes”, explica André Murad, oncogeneticista e professor do Departamento de Clínica Médica da UFMG.
A abordagem terapêutica escolhida pela equipe médica da apresentadora global foi a imunoterapia associada à quimioterapia. O primeiro ciclo de tratamento foi administrado em 24 de janeiro. A próxima dose está programada para daqui a 21 dias. Otimista, a parceira de Louro José disse ter plena convicção de que “vai sair dessa” .
Esperança
Para o oncogeneticista André Murad, Ana Maria tem, de fato, bons motivos para estar confiante. O principal deles tem a ver com a resposta do adenocarcinoma à imunoterapia – tratamento em que os fármacos administrados induzem o próprio sistema imunológico a combater as células cancerosas. Cerca de 60% dos pacientes que se submetem a essa terapêutica, afirma André, têm seus tumores significativamente reduzidos.
“Em alguns casos – algo em torno de 10 a 15% – ocorre até mesmo um desaparecimento da massa tumoral. Eu mesmo tenho alguns pacientes que comecei a tratar há quatro anos. No segundo, suspendi os medicamentos, pois os linfócitos se mostraram bem treinados na identificação e combate das células cancerígenas. Hoje, essas pessoas estão bem”, conta o especialista.
O médico esclarece, contudo, que é precipitado falar em cura pela imunoterapia. “Não dá pra falar em cura, considerando que a imunoterapia é um tratamento muito recente, está no mercado faz pouco mais de cinco anos. A gente precisa de pelo menos dez, quinze anos de acompanhamento de um paciente para dizer que ele está curado. O que podemos afirmar é que existe a possibilidade de fazer um controle prolongado”, pondera Murad.
No campo da prevenção do adenocarcinoma, fumantes e ex-fumantes já podem contar com uma valiosa ferramenta. Chamado de tomografia com baixas doses de radiação, o recurso permite a detecção dos nódulos malignos em fase inicial. “É recomendável pedir um exame desses por ano a quem fuma ou já fumou muito. A técnica já mostrou que pode reduzir, significativamente, a mortalidade por câncer de pulmão. O problema é que é um exame caro, que os planos de saúde no Brasil, de modo geral, ainda não cobrem. Conheço apenas uns dois ou três que cobrem. Nos Estados Unidos, já é praxe. A maioria das operadoras, lá, permitem a realização dessa tomografia sem custo adicional”, relata o médico.
Prevenção
Responsável por 9,6 milhões de mortes no mundo em 2018 – dados da Organização Mundial de Saúde – o câncer de pulmão é a segunda principal causa de morte no mundo. Mais de 80% dos casos estão associados ao tabagismo – hábito de fumar cigarro, cachimbo, charuto e narguilé. Outros fatores de risco para os tumores pulmonares são a obesidade, má alimentação e o sedentarismo.
A melhor forma de evitar o câncer de pulmão, portanto, é manter uma um estilo de vida saudável, que inclua alimentação sem ultraprocessados, rica e frutas, verduras e fibras; prática de atividade física e, claro: total distância do tabaco.
“Quem não parou de fumar deve parar o quanto antes. É difícil, mas os resultados são recompensadores. Após dez anos de suspensão do tabagismo, o risco de desenvolvimento de câncer de pulmão cai pela metade. Após 15 anos, esse perigo é reduzido em 90%”, recomenda Murad.