Completando em 2020 cinquenta carnavais, a carnavalesca Rosa Magalhães, na sua segunda passagem pela Estácio de Sá, apresentará um desfile sobre a ‘Pedra’ e suas questões míticas e relevância para sociedade. Em visita do site CARNAVALESCO ao barracão da agremiação a carnavalesca explicou que o enredo nasceu da possibilidade de um patrocínio, e que, como não veio, adaptou pois ficou encantada com a temática.
“O presidente Leziário me pediu um enredo com uma determinada característica visando um possível patrocínio, de um lugar que não direi qual é pois não conseguimos o objetivo. Daí eu adaptei o que já estava pesquisado com essa coisa da pedra que, inclusive, me deixou encantada”.
Rosa acredita que o Brasil é um dos países mais ricos em minérios e pedras e falou que diversos programas valorizam o tema e tratam sobre.
“O Brasil é um país muito rico em minérios, rochas, pedras. Um dia desses liguei a televisão no National Geographic, e tinha uma viagem, para as cavernas do Mato Grosso. Lá tem cavernas enormes, tem umas que chegam a 12 metros de abertura de gruta. São coisas que eu nunca tinha visto e fiquei vendo e achei que é uma coincidência muito grande de vários programas estarem fazendo matérias sobre pedra. Daí percebemos o valor do tema”.
‘Não conheço ninguém que tenha feito enredo de Pedra’
O enredo que ainda causa estranhamento por fugir do óbvio e trazer para avenida uma temática diferente. Rosa explica que o enredo tem uma riqueza e que precisou cortar coisas para caber dentro do desfile.
“O enredo é muito atual e isso é um ponto positivo. Primeiro que é uma coisa que ninguém nunca fez, não conheço ninguém que tenha feito enredo de pedra, já é um ponto. O segundo é a riqueza do assunto, tive que cortar algumas coisas, por exemplo, não peguei músicas que abordavam o tema, e tem várias músicas que falam sobre pedra. O ruim é que tenho que selecionar para caber tudo dentro dos 70 minutos do desfile”.
Sobre a presença de escritores no enredo, Rosa explica que fará uma homenagem a Carlos Drummond de Andrade, nascido em Itabira, Minas Gerais e que escreveu sobre a exploração mineral do município.
“Tem um pedaço do Pico do Cauê no desfile, em homenagem a Drummond. Quando a primeira estrada de ferro para mineração foi feita exclusivamente durante a guerra. Quando a guerra acabou, a Vale do Rio Doce esqueceu Itabira. Era de lá que ela vendia os minérios para os EUA. Foram feitos canhões, tanques, armas, balas, e etc. Foi nessa época que deu um declínio e o que é mais interessante, é que Drummond diz o seguinte: o dinheiro foi todo embora, ninguém em Itabira recebeu nada. Lá só ficou a poeira”.
Sobre a crise que afeta o carnaval: “Tem que cair na real”, diz Rosa.
“Nós estamos economizando o que é possível. Tem que cair na real, o dinheiro está curto e precisamos pensar em alternativas. Sobre a administração da escola, como o trabalho está sendo feito, somente o presidente pode responder. Para mim está tudo dentro dos conformes e já estou indo para a minha sexta alegoria”.
“O enredo de 2020 da Estácio não deixa de ser um enredo crítico”, explica a professora.
“Sobre a questão dos enredos críticos, eu gosto e acredito que cada um tem o seu tipo. O enredo de 2020 da Estácio não deixa de ser um enredo crítico. Eu acredito que é até muito crítico porque pega várias vertentes. É a questão indígena, é a questão da exploração do homem, você tem os retirantes, você tem os renegados da Serra Pelada, quantos morreram, quantos foram sacrificados, quantos foram assassinados. Temos a aridez da lua, que é um pedaço da Terra. O Papa pediu para tomarem conta da Terra pois a situação está ficando crítica. Podemos ver, por exemplo, que fumaça das queimadas da Austrália está chegando no Rio Grande do Sul. Já se perderam milhões de animais. Temos que tomar cuidado, porque daqui a pouco a Amazônia pode virar uma Austrália”.
Com o título “Pedra” gera-se uma especulação e dúvidas sobre os caminhos que Rosa vai trilhar para contar esse enredo em 70 minutos de desfile. A professora garante que será tudo de fácil entendimento.
“Temos pessoas que dizem não entender o enredo da Estácio, mas eu garanto que no dia do desfile, ouvindo o samba e vendo as pessoas fantasiadas, as alegorias, tudo vai se resolver”, conclui.
Entenda o desfile:
Para contar “Pedra” e trazer as memórias nelas registradas e as injustiças por elas causadas, a Estácio levará para avenida seis carros, dois tripés e 26 alas.
Setor 1: “Começa com a pedra como primeiro lugar onde escreviam. Você tem todo uma parte de inscrição rupestre no Piauí, no Pará e agora estão encontrando até no Rio Grande do Sul. Ela guardava os esqueletos pois sedimentava os fósseis todos. E além dessas descrições e dessas pinturas rupestres contando o dia a dia de cada um, você tem os animais da época; as pessoas caçando, luta e dança. Tudo isso registrado”.
Setor 2: “Chegam as pedras preciosas. Todas de Minas Gerais. Diamantina, por exemplo, tem esse nome por causa da alta profusão de diamantes. Tudo isso é ligado a essa produção de diamantes. E, não é só diamantes, tem outras pedras preciosas. Então tem essa parte do garimpo, do ouro. Curiosidade: era tanto ouro, que foi registrado que em 1600, 1700 que o preço do ouro caiu na Europa. Você imagina isso? Caiu de tanto que tinha”.
Setor 3: “É o setor onde trazemos a exploração do ferro, que já é outro minério. Não é a pedra preciosa mas é a pedra pelo minério, que é descrita por Drummond lá de Minas”.
Setor 4: “Neste setor nós vamos para os índios. Essas terras todas, do Pará, dessa região, são dos índios Carajás. De acordo com a visão deles religiosa, das lendas e etc, as almas ficavam dentro das pedras e para os índios dessas grutas que eles surgiam e iam para superfície da terra. Então os Carajás são os donos dessa riqueza toda. Depois nós temos Serra Pelada, que é no Carajás e foi tirada dos índios e parecia um formigueiro, todo mundo louco pelo ouro”.
Setor 5: “A última parte do desfile é a Lua. Nesse setor entra a parte da preservação. Da Lua se vê a Terra e se não for cuidada ela vai virar uma pedra também. Não tem mistério”.