*Por RTP
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, anunciou esta segunda-feira (02/03) que milhões de pessoas irão entrar ilegalmente na Europa nos próximos meses. A ameaça decorre da suspensão de um acordo firmado com a União Europeia, em 2016, para impedir a entrada de migrantes em solo europeu.
Desde sexta-feira (28/02), quando surgiram rumores de abertura de fronteiras com a Grécia e a Bulgária, milhares de pessoas têm tentado entrar na União Europeia, através dos postos terrestres de fronteira desses países.
“Centenas de milhares atravessaram e em breve irão chegar aos milhões”, disse Erdogan num discurso transmitido pela televisão. As estimativas das Nações Unidas se referem um número muito menor, entre 10 mil e 13 mil pessoas.
Atenas impediu até agora cerca de dez mil pessoas de entrarem ilegalmente no país. Alguns migrantes, revoltados, responderam com pedras e barras de metal. Os guardas da fronteira lançaram gás lacrimogênio para dispersar a multidão.
O governo grego anunciou também, no domingo (1º/03), a suspensão de novos pedidos de asilo durante o próximo mês.
Atenas acusou Ancara de conduzir uma campanha de migração ilegal, de forma “coordenada e maciça”. Em comunicado, lamentou que “a Turquia, em vez de restringir os canais de migrantes e refugiados dos traficantes, se tenha transformado num traficante”.
“Ou fazemos estas pessoas regressar às suas terras para viverem de forma condigna, ou todos partilhamos o fardo. Agora, o período de sacrifício unilateral acabou”, salientou Erdogan, esta segunda-feira (02/03).
O presidente turco defende que o seu país esgotou a capacidade de acolhimento de migrantes e não consegue lidar com uma nova onda de refugiados sírios.
Nas últimas semanas, quase um milhão de pessoas fugiram dos combates na região síria de Idlib, que opõem forças russas e sírias a tropas turcas e grupos islamitas armados, procurando refúgio em território turco. Ancara disse que tem recebido centenas de migrantes por dia. A Turquia acolhe já mais de três milhões de pessoas, refugiados sírios, mas igualmente migrantes de outros países, como é o caso do Afeganistão.
“A crise dos refugiados está crescendo e está a piorando”, defendeu à BBC o porta-voz presidencial, Ibrahim Kalin. O país está sob uma crescente pressão.
“A terra encolhendo e o número de pessoas está crescendo”, disse Kalin.
A solução para esse problema passa pela abertura das fronteiras por parte da comunidade internacional e não apenas a Turquia, “caso contrário haverá um massacre, um grande problema”, acrescentou.
Do lado turco, os guardas fronteiriços têm ordens para deixar sair quem queira, e de impedir qualquer regresso. Milhares de pessoas estão agora encurraladas numa terra de ninguém entre fronteiras.
Merkel apela ao diálogo
O presidente turco tem acusado a UE de não honrar o compromisso de 2016, por não ajudar Ancara a reinstalar os refugiados sírios em zonas consideradas seguras, no seu próprio país.
Em resposta à nova crise de migração, a chanceler alemã, Angela Merkel, disse entender as expectativas de Erdogan, quanto ao auxílio europeu para evitar nova vaga de refugiados.
Merkel sublinhou contudo que o presidente turco não devia usar os migrantes para expressar a sua insatisfação.
“Compreendo que a Turquia está enfrentando um grande desafio quanto a Idlib”, disse a chanceler a jornalistas.
“No entanto, para mim é inaceitável que ele – o presidente Erdogan e o seu governo – não esteja a expressar a sua insatisfação num diálogo conosco enquanto União Europeia, mas antes a cavalo dos refugiados. Para mim, esse não é o caminho a seguir”.
Merkel, cujo país acolhe uma importante comunidade turca, acrescentou que a União Europeia e Ancara deviam retomar as conversações sobre o acordo dos refugiados e que a Alemanha está disposta a apoiar unilateralmente a Turquia.