Poucas vezes Nova York esteve tão perto de nossa comunidade e Raul Seixas permanece um analista social contemporâneo mais de 30 anos após sua partida. Encontramos importantes conclusões que aproximam um dos maiores centros financeiros e comerciais do mundo e o nosso quintal.
Como muito bem disse Thomas L. Friedman, colunista do New York Times, neste domingo: “Esses são dias de teste para todos os líderes – municipais, estaduais e nacionais. Todos são questionados sobre decisões importantes que envolvem vida e morte enquanto dirigem sob neblina, com informações imprecisas e todos do banco de trás gritam com eles.”
Observamos reiteradas condenações e apoios aos líderes municipais, estaduais e federais por aqueles que não detém conhecimento técnico para tal e que agem em prol de um pensamento coletivo – embasado por convicções políticas próprias, seja de um lado ou de outro. Pense! Nossa existência é muito pequena para ter aquela velha opinião formada sobre tudo.
Estudos realizados recentemente não dão conta do quão grave é essa crise de saúde global por falta de análise dos dados disponíveis. A título de exemplo, em 17 de março, o Dr. John P. A. Ioannidis, epidemiologista e co-diretor da Stanford’s Meta-Research Innovation Center, posicionou que o índice de fatalidade relativo ao COVID19 é baixíssimo. Porém, ainda não consegui visualizar um estudo apontando se tal “baixo índice de mortalidade” é verificado em razão das condutas de prevenção e repressão que vem sendo adotadas (e melhoradas) desde a notícia do epicentro da doença na China ou não. Por isso, efetivamente, não se poderia falar em certo e errado com propriedade.
Infelizmente, possuímos poucas informações sobre este novo vírus e as melhores maneiras de buscar controle da situação. Também são poucas as informações com relação à projeção de um futuro próximo (voltar ao trabalho, lazer, etc..).
Digo “infelizmente” porque o desconhecimento gera a desconfiança. E, num efeito cascata, a desconfiança leva ao desespero/desesperança. E tal sentimento pode desembocar em atitudes desmedidas.
Um exemplo destas atitudes ocorreu recentemente em Itabira-MG. Estabelecimentos que sempre foram parceiros do município (e alguns deles já haviam disponibilizado seu estoque à Prefeitura) se viram surpreendidos com ordem de requisição de produtos.
Sabe o que é isso? A propriedade dos produtos é tomada para a prefeitura, com promessa de ressarcimento (sabe-se lá quando), com preço a ser fixado pelo próprio município adotando-se por base os valores praticados no ano passado.
Ora, o preço do ano passado não é o mesmo de agora. As obrigações do empresariado com seus trabalhadores, fornecedores e clientes é imediata. Tal situação gera ainda mais desequilíbrio. Registre-se que este empresariado é responsável por mais de 80% dos empregos no país. Como bem cantou Raul Seixas: dois problemas se misturam: a verdade do universo e a prestação que vai vencer.
Não se questiona a legalidade ou ilegalidade dos atos dos governantes. Porém, a temperança deve ser adotada também em momentos extremos proporcionalmente à medida em que a realidade se apresenta crítica. Devemos observar a qualidade das ações tendo em vista seus benefícios e malefícios.
Neste momento, o que o Poder Público deve fazer?
- salvar o máximo de vidas possível;
- oferecer condições para o sistema de saúde atender os pacientes; e, por fim
- atentar para que o atendimento destes dois primeiros deveres não estrangule a economia.
Fatalmente, um cenário econômico desfavorável resultará em ainda mais mortes – justamente por inviabilizar o cumprimento das duas primeiras metas acima. Provoco uma reflexão: Como salvar vidas se fábricas e estabelecimentos se encontrarem desabastecidos de itens básicos para o salvamento?
Ainda sobre os nossos líderes: ninguém quer errar. Friedman também disse: “meu coração está com eles. Eles querem o bem.”.
E sobre nós? Por acaso sabemos o endereço mais difícil do mundo? Posso dizer: É o lugar do outro.
Quem sabe você aí, nas próximas eleições não se sinta capaz de fazer melhor e se candidate a algum cargo público ou faça mais em prol da comunidade do que realiza hoje? Reclamar em redes sociais nunca mudou nada na história da humanidade.
Ainda sobre nós: o que podemos fazer?
- Higiene;
- Precaução; e
- recolhimento social.
Estas condutas ainda são, tecnicamente, o Norte para o nosso comportamento hoje objetivando alcançar dias melhores. Ademais, não diga que a vitória está perdida. Se é de batalhas que se vive a vida.
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