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Uma faixa e um cartaz lado a lado em João Monlevade, na Região Central de Minas, se transformaram numa espécie de símbolo sobre como as cidades estão encarando o isolamento social: de um lado, comerciantes pedem a flexibilização para funcionamento das lojas; do outro, há apelo para moradores não saírem de casa. A prefeitura já antecipou que, por ora, não abrirá mão da quarentena e que seguirá as autoridades sanitárias como referência.
Na última terça-feira (14/04), algumas lojas da cidade amanheceram com faixas nas entradas: “Estão matando nossas empresas e nossos empregos!”. A mensagem foi uma reação ao decreto da prefeita Simone Carvalho Moreira (PTB), que suspendeu as atividades comerciais não essenciais.
O comércio da cidade está fechado desde o dia 21 de março. A partir daí, os comerciantes vêm protestando para abrirem as lojas. Padarias, supermercados e bancos, considerados essenciais, continuam em funcionamento.
Com isso, comerciantes locais começaram a questionar as aglomerações em determinados pontos da cidade. “A avenida principal (Getúlio Vargas) está lotada”, relata o Continua depois da presidente da Associação Comercial, Industrial e Prestação de Serviços de João Monlevade (Acimon), Cássio Barros.
Comerciantes afirmam que há uma grande quantidade de pessoas nos estabelecimentos permitidos a atender. Segundo a prefeita Simone Moreira, a fiscalização de aglomerações ocorre todos os dias. “Entretanto, este trabalho é difícil e encontra resistência, situação semelhante à que vem ocorrendo em diversas outras cidades”, afirma.
Em contraponto à faixa que pedia a volta geral do comércio, surgiu um cartaz colocado ao lado: “Sua vida e a vida da sua família valem + (mais). Fique em casa”. Responsável pela ação, um estudante, que preferiu o anonimato, alega que há uma maioria silenciosa contrária à retomada de atividades comerciais, por causa do risco de propagação da COVID-19.
“Eu sei que tem muita gente que está com medo e prefere ficar em casa. Fiz este cartaz como uma forma de mostrar que a gente não está sozinho. É um recado para trazer alívio”, afirma o estudante. Ele diz ter acompanhado a repercussão sobre o cartaz nas redes sociais e afirma ter apoio a sua posição. “Há muitos moradores ficando em casa e seguindo a quarentena. É bom que aqueles que estão na rua percebam que estão fazendo errado”, completa.
O presidente da Acimon admite que até mesmo entre alguns comerciantes há temor se houver flexibilização, enquanto aponta para o risco de falências. “A abertura (do comércio) é boa para o lado financeiro, mas, ao mesmo tempo, é ruim, pois o comerciante fica se expondo ao coronavírus”.
Em contrapartida, Barros sustenta que os lojistas estão preocupados com possíveis falências. “É um momento de insegurança e também tem o lado da frustração. Será que eu vou conseguir abrir o meu comércio mais uma vez ou eu vou falir?”, questiona. “A saúde (mental)dos lojistas também fica ruim”.
O representante de classe alega que os comerciantes estão tendo dificuldades em se comunicar com prefeitura, o que tem sido feito virtualmente. “A prefeita está afastada, mas o jurídico está respondendo por ela. Só que não estamos tendo respostas para as nossas dúvidas” reclama, sugerindo que têm faltado informações e orientações oficiais. “Os lojistas que estão assistindo à televisão estão com mais conhecimento sobre a doença”, comenta.
Entretanto, a prefeita Simone afirma que têm ocorrido reuniões com a CDL, Acimon, Polícia Militar e a Associação Médica. “Estamos nos comunicando através de decretos municipais, mensagens no rádio e nas redes oficiais de divulgação, além de contatos com aquipe de secretários e assessoria da prefeitura”, alega.
Na quarta-feira (15), reunião dos prefeitos do Vale de Piracicaba, decidiu que o comércio dessas cidades não será flexibilizado. A prefeita revela que não pôde comparecer à conferência, onde foi representado por duas assessoras. E conta que tem evitado sair de casa, já que mora com o pai, de 84 anos, pessoa do grupo de risco para a COVID-19. “Neste sentido, estou priorizando reuniões on-line”, completa.
SEM RELAXAMENTO
A Prefeitura de João Monlevade afirma que não há intenção deflexibilizar o funcionamento do comércio. “Estamos seguindo as diretrizes de Estado e, dessa forma, aguardamos orientações das autoridades médicas e sanitárias. Além disso, para uma decisão no sentido de flexibilização, é necessário a conclusão do hospital de campanha, bem como uma retaguarda no número de leitos do Hospital Margarida (único da cidade e que atende parte dos municípios da região)”, afirma a prefeita Simone Carvalho Moreira.