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O uso de máscaras passa a ser obrigatório em Belo Horizonte a partir desta quarta-feira (22/04). De acordo com decreto municipal publicado na última sexta-feira, a medida é válida para todo espaço público da cidade, transporte coletivo e para os estabelecimentos comerciais. As lojas terão de afixar cartazes informando sobre como usar a máscara e o número de clientes permitidos ao mesmo tempo no local. Medida essa para evitar aglomerações. A fiscalização será feita pelos próprios comerciantes. Se descumprirem a norma, poderão ser punidos com a perda do alvará de funcionamento.
A capital mineira não está sozinha nesta medida. Entre as prefeituras das 13 cidades do estado com mais de 200 mil habitantes, seis tornaram obrigatório o uso de máscaras para todas as pessoas que saírem de casa. Os quatro municípios mais populosos do interior (Uberlândia, Contagem, Juiz de Fora e Betim) estão na lista. A eles, soma-se Santa Luzia. Em Montes Claros, há uma recomendação pública para o uso do equipamento, mas a obrigatoriedade se restringe a quem estiver nos grupos de risco (idosos e pessoas com comorbidades). Em Divinópolis, a Secretaria de Saúde demonstrou intenção de adotar a medida, mas ainda não o fez. A prefeitura de Uberaba também recomendou a todos o uso das máscaras, mas ainda não tornou obrigatório. Em outras cidades populosas, como Ribeirão das Neves, Governador Valadares, Ipatinga e Sete Lagoas, as administrações municipais não estabeleceram regras tão rígidas e abrangentes sobre o equipamento.
Na última semana, o governador Romeu Zema (Novo) sancionou lei que obriga a utilização, em todo o estado, por “profissionais que prestam atendimento ao público em órgãos e entidades públicos, nos sistemas penitenciário e socioeducativo, nos estabelecimentos comerciais, industriais, bancários, rodoviários e metroviários, nas instituições de acolhimento de idosos, nas lotéricas e nos serviços de transporte público e privado de passageiros de competência estadual”.
Debate
A polêmica medida abraçada por prefeituras mineiras segue as recomendações atuais do Ministério da Saúde, que mudou suas instruções em relação ao uso de máscaras de proteção por pessoas que não apresentam sintomas do novo coronavírus. No entanto, especialistas divergem com relação à eficácia do uso irrestrito do equipamento. A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) admite que não existem atualmente estudos conclusivos que comprovem a eficiência de máscaras caseiras. Recentemente, a OMS reuniu em um guia orientações sobre a utilização de máscaras em países que, assim como o Brasil, recomendam o uso por pessoas sem sintomas e reforçou que as máscaras cirúrgicas e respiradores, como N95, devem ser prioritariamente distribuídas a profissionais da saúde. O guia também ressalta prós e contras do uso da máscara por pessoas assintomáticas. Uma possível vantagem seria a redução do risco de transmissão por pessoas que ainda não apresentaram sintomas como tosse seca e febre.
“Mesmo com a máscara, se a pessoa colocar a mão no rosto ela pode ser infectada. A mão é o principal veículo para trazer o coronavírus para dentro do nosso organismo”
Jordana Coelho dos Reis, professora-adjunta do Departamento de Microbiologia da UFMG
Em contrapartida, o texto elenca uma série de riscos quanto ao uso do equipamento, como autocontaminação por toque e reutilização da máscara, dificuldades respiratórias e falsa sensação de segurança, o que pode levar a uma menor adesão a outras medidas como distanciamento físico e higiene das mãos. Tendo em vista as contradições com relação ao uso do equipamento, o Estado de Minas conversou com três especialistas a respeito da questão para entender melhor a polêmica.
Para a professora-adjunta do Departamento de Microbiologia da UFMG Jordana Coelho dos Reis, como já existem estudos que comprovam que pessoas que utilizam máscaras cirúrgicas disseminam menos o vírus, em um contexto de calamidade como o atual, o uso de máscaras caseiras vem a ser uma alternativa recomendável. “Os estudos são baseados em máscaras cirúrgicas. As máscaras caseiras são alternativas e vão ter sobrevida menor, principalmente se não forem usadas adequadamente”, defende.