O isolamento social, medida adotada para impedir a propagação do coronavírus (COVID-19), atingiu duramente também os circos, que tiveram de interromper suas atividades. As dificuldades enfrentadas pelas famílias de um circo instalado em Montes Claros, no Norte de Minas, diante da pandemia, motivaram uma campanha solidária por parte da população. A ação teve como principal mobilizador o ator e humorista Dedé Santana, nomeado “embaixador do circo” no Brasil.
Crise do coronavírus atinge famílias de circo e Dedé Santana faz apelo solidáriohttps://bit.ly/2zqVaY3
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Na gravação, o ator e humorista lembra que a família dele é mineira e que sua trajetória profissional nasceu do circo. Ele pede que a população e o poder público local ajudem o Circo Nitros, montado no Bairro Independência, na Zona Norte da cidade. “Vim aqui, em um (ato de) desespero fazer um apelo (…). As famílias (do circo) estão passando por necessidades. Peço a vocês que ajudem com uma cesta básica, com material de limpeza…. Com o que vocês puderem fazer (ajudar), vou ficar muito agradecido a vocês porque venho de uma família circense. É um pedido todo especial”, conclamou o eterno Trapalhão.
Em entrevista ao Estado de Minas, nesta quinta-feira (23), Dedé Santana, que mora em Santa Catarina, lembrou que a situação da arte do picadeiro já era difícil e ficou ainda mais crítica com a paralisação decorrente do isolamento social motivado pela pandemia da COVID-19. “Estou muito preocupado com o circo no Brasil, que é uma arte que não pode acabar. O circo é a mãe de todas as artes. É o meio mais popular de cultura do país”, destacou o humorista.
“O circo realmente está numa situação muito difícil. O nosso país tem que olhar um pouquinho mais para o circo porque grandes artistas surgiram no circo”, reforçou. Entre os astros de origem circense citou o humorista mexicano Mario Moreno Cantinflas (1911/1993), “o maior humorista que o mundo já teve”.
Dedé disse que sua atividade artística também foi afetada pela pandemia do coronavírus. Informou que, por causa do isolamento social, teve de interromper a temporada da peça teatral Palhaços, dirigida por Alexandre Borges e Fiovarante Almeida. O ator e humorista, que completa 84 anos em 29 de abril, está em quarentena preventiva, como a maioria dos brasileiros.
Também nesta quinta-feira, a reportagem do Estado de Minas conversou com o proprietário do Circo Nitros, Alberto Alves Falcão, no Bairro Independência, em Montes Claros. Ele disse que o circo teve apresentações apenas num fim de semana na cidade do Norte de Minas e está parado há quase 40 dias. Por isso as famílias ligadas à companhia (13 pessoas, entre adultos e crianças) passaram a enfrentar muitas dificuldades.
“A gente depende da bilheteria. Sem entrar dinheiro na bilheteria não temos como arcar com as nossas despesas”, lamentou Falcão. Ele diz que o Nitros não tem recursos para pagar contas de luz e de água. Com a falta de pagamento, o fornecimento de energia só não foi cortado após um apelo junto à concessionária. As famílias circenses estão consumindo água de uma casa vizinha do terreno ocupado pelo circo.
Ele revela que ficou muito sensibilizado com a ajuda e a mobilização do ator Dedé Santana. Falcão afirmou que sua família vive da arte circense há 70 anos e que está há 41 anos na área. Observou que nunca enfrentou um quadro tão dramático como agora. “Ninguém no mundo do circo nunca passou por uma situação dessa”.
Vários moradores aderiram à campanha de solidariedade pelo Circo Nitros. Um deles foi o aposentado Aloísio Mendes Teixeira, que levou uma cesta básica para as famílias que ficaram sem o trabalho no picadeiro por causa da pandemia da COVID-19. Aloísio disse que decidiu pela ajuda ao circo ao receber o vídeo de Dedé Santana. “Estou divulgando a campanha junto a um grupo de motoqueiros e espero que outras pessoas possam contribuir também. O circo faz parte de uma cultura muito importante para nosso país”, reconhece o aposentado.