O presidente Jair Bolsonaro negou, nesta sexta-feira (24/4), que tenha tentado fazer qualquer intervenção na Polícia Federal, conforme acusou mais cedo o ex-ministro da Justiça Sergio Moro, ao deixa o cargo. “Nunca pedi para ele (Moro) que a PF me blindasse”, disse Bolsonaro durante proncunciamento no Palácio do Planalto, no qual estava rodeado de ministros.
Ainda deu como exemplo de respeito às ações da corporação o fato de nunca ter forçado uma investigação que respondesse quem mandou matá-lo (a PF concluiu que Adélio Bispo, autor do atentado contra ele em setembro de 2018, agiu sozinho).
Sobre as acusações de Moro, Bolsonaro se disse “decepcionado”. “Não chorei, mas fiquei muito triste.” “Uma coisa é admirar uma pessoa, outra é conviver com ela”, avaliou no começo de sua fala. Também disse que, logo cedo, afirmou a ministros que, às 11h, hora do pronunciamento de Moro, eles conheceriam quem não o quer na cadeira de presidente.
Bolsonaro também defendeu seu direito de indicar o diretor da PF e ressaltou que “autonomia não é soberania”. Ainda segundo o presidente, na quinta-feira, Moro disse que queria indicar o substituto de Maurício Valeixo na PF. “Eu disse, vamos conversar. Por que tem de ser um nome seu e não meu?”.
O discurso de Bolsonaro sobre Moro
Depois de falar de improviso por vários minutos, o presidente passou a ler o comunicado que havia preparado. Leia a íntegra:
“Meu compromisso é com o Brasil e com a democracia. Sempre dei plena liberdade aos meus ministros, sem abrir mão do meu poder de veto e da minha autoridade como presidente da República. Sempre mantive diálogos republicanos com todos os meus ministros. Temos discordâncias e divergências, mas, em qualquer situação, mantive o respeito à opinião de todos, sempre fui leal a eles.
Ontem, mais uma vez conversamos com o ministro Moro sobre a substituição na Polícia Federal. Esperava, em conjunto com ele, definir um nome para dirigir a instituição, ainda que essa seja uma prerrogativa exclusiva do presidente da República. Estou decepcionado e surpreso com o seu comportamento. Não se dignou a me procurar e preferiu uma coletiva de imprensa para comunicar sua decisão.
Meu compromisso é com a verdade, sem distorções. Não são verdadeiras as insinuações de que eu desejaria saber sobre investigações em andamento. Nos quase 16 meses em que esteve à frente do Ministério da Justiça, o sr. Sérgio Moro sabe que jamais lhe procurei para interferir nas investigações que estavam sendo realizadas, a não ser aquelas — não via interferência, mas quase como uma súplica — sobre o Adélio, o porteiro e meu filho 04.
Sobre a exoneração do Dr. Valeixo, diretor geral da PF, pela lei 1397 de 2014 é prerrogativa do presidente da República a nomeação e exoneração do diretor-geral. Bem como de vários outros cargos da administração direta. A exoneração ocorreu após uma conversa minha com o ministro da Justiça pela manhã de ontem. À noite, eu e o dr. Valeixo conversamos por telefone e ele concordou com a exoneração a pedido. Desculpe, senhor ministro. O senhor não vai me chamar de mentiroso. Não existe uma acusação mais grave para um homem como eu, militar, cristão e presidente da República, do que ser acusado disso. Essa foi a minha conversa com dr. Valeixo e mais ainda, não só a imprensa publicou no dia de ontem e de hoje, bem como entre aspas o doutor Valeixo, em contato com a superintendência do Brasil, comunicando que estava cansado, que desde janeiro queria sair. Então não foi uma demissão que causasse surpresa a quem quer que fosse.
A Polícia Federal é uma instituição de Estado. Ela deve se conduzir de acordo com a Constituição Federal e as leis do país, não importa quem as conduza. Não abro mão disso, não existe possibilidade de interferência na PF. Sua própria estrutura e seus profissionais garantem autonomia de suas investigações. Essa autonomia é inerente à instituição e independente de governos.
Não posso aceitar minha autoridade confrontada por qualquer ministro. Assim como respeito a todos, espero o mesmo comportamento. Confiança é uma via de mão dupla. Continuarei fiel a todos os brasileiros, seguirei no combate à criminalidade, às organizações criminosas e no trabalho para redução da criminalidade.
O governo continua, o governo não pode perder a sua autoridade por questões pessoais de alguém que se antecipa a projetos outros. Travo o bom combate. A minha preocupação é entregar o Brasil para quem vier me suceder no futuro bem melhor do que recebi em janeiro do ano passado. Confio nos meus ministros, nos servidores públicos que têm nos ajudado a vencer a estes obstáculos. O Brasil é maior do que qualquer um de nós. Esse é o nosso compromisso, esse é nosso dever de servir a pátria. A pátria vai ter de cada um de nós o seu empenho, o seu sacrifício e se for necessário o seu sangue para defender a democracia e a liberdade.”