O mundo se aproxima das 200.000 mortes decorrentes do novo coronavírus, enquanto a ONU une esforços internacionais para encontrar uma vacina acessível a todos, a única maneira de conter a pandemia, que também afunda as economias.
Superar a atual pandemia, que força metade da população a ficar confinada e expõe o planeta a uma recessão sem precedentes, representará o “maior esforço de saúde pública da história”, disse na sexta-feira o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres.
As vacinas devem ser seguras, acessíveis e disponíveis para todos, enfatizou Guterres em uma reunião virtual, na qual participaram os líderes da França e da Alemanha, mas não os da China, berço da pandemia, nem dos Estados Unidos, que acusam a OMS de não agir suficientemente cedo sobre a crise.
E, neste sábado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) advertiu que não há provas de que pessoas que testaram positivo para a COVID-19 estejam imunizadas, considerando que os chamados “passaportes de imunidade” podem favorecer a propagação da pandemia.
“Não há, neste momento, provas de que as pessoas que se curaram da COVID-19 e que têm anticorpos estejam imunizadas para uma segunda infecção”, apontou em comunicado.
Enquanto na Europa a curva de contágio parece entrar em uma fase descendente e na América Latina em uma ascendente, a OMS lançou uma “colaboração histórica” para acelerar a produção de vacinas e tratamentos contra a COVID-19, explicou seu diretor, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
A corrida já começou nos laboratórios, com meia dúzia de ensaios clínicos, especialmente no Reino Unido e na Alemanha.
No entanto, uma catástrofe esconde outra: cerca de 400.000 pessoas podem morrer neste ano de malária devido aos problemas de distribuição de mosquiteiros e medicamentos que o coronavírus está causando, alertou a OMS.
No Zimbábue, o número de casos de malária aumentou quase 50% em comparação com o ano passado.
– Segunda onda –
A iniciativa da ONU foi anunciada um dia após a consternação provocada pelo presidente americano, Donald Trump, ao sugerir que a COVID-19 poderia ser tratada com desinfetante industrial.
Diante da comoção – especialistas e fabricantes foram rápidos em alertar contra esse experimento – o presidente garantiu mais tarde que falou “sarcasticamente”.
Os Estados Unidos, que registraram a primeira morte relacionada ao coronavírus no início de fevereiro, é o país mais afetado, com 905.333 casos confirmados e 51.949 mortes.
As mortes pela COVID-19 em todo o mundo já ultrapassam 197.000, de acordo com um balanço da AFP. E a OMS continua insistindo que não é hora de baixar a guarda e que uma segunda onda pandêmica pode ocorrer a qualquer momento.
A Alemanha, um dos primeiros países da Europa a iniciar o desconfinamento, já se prepara com a construção pelo Exército de um hospital com mil leitos adicionais em Berlim.
A pandemia também continua devastando as economias, forçando as autoridades a tentar desenvolver planos para incentivar a recuperação rapidamente.
O colapso do petróleo, devido à falta de demanda causada pela desaceleração econômica ligada às medidas de confinamento, levou o barril venezuelano a US$ 9,9, seu nível mais baixo em duas décadas.
Mais de 26 milhões de americanos ficaram desempregados desde meados de março e, segundo previsões do Escritório de Orçamento do Congresso (CBO), o PIB da primeira economia do mundo contrairá 12% no segundo trimestre do ano.
Trump assinou na sexta um novo plano de ajuda de US$ 483 bilhões para pequenas e médias empresas e hospitais.
Na Europa, os 27 são incapazes de chegar a um acordo sobre um vasto plano para impulsionar a economia.
E no setor do turismo, onde até 75 milhões de empregos estão ameaçados, os países do G20 se comprometeram na sexta-feira a “apoiar o impulso econômico”.
– Mesquitas vazias –
Nos Estados Unidos, uma rede de solidariedade decidiu disponibilizar aos profissionais da saúde motorhomes para que possam ficar perto de suas famílias, mas limitando os riscos de contágio.
Na Europa, o continente mais atingido com mais de 120.000 mortes, segundo uma contagem da AFP, vários países estão começando a diminuir suas restrições, incentivados por indicadores positivos no número de doentes e falecidos.
A Espanha, que registrou neste sábado um ligeiro aumento no número diário de mortos, com 378 novos óbitos (22.902 no total), permitirá que as crianças saiam de casa a partir de domingo, após seis semanas confinadas.
Na Itália (quase 26.000 falecidos), um ciclista profissional, que deveria estar se preparando para o Giro, decidiu ser útil e pegou sua bicicleta para trabalhar como entregador em Collegno, perto de Turim.
Já o mundo muçulmano iniciou o mês de jejum do Ramadã com restrições às orações nas mesquitas e refeições compartilhadas.
A maioria dos países muçulmanos do Oriente Médio, Norte da África e Ásia fechou suas mesquitas e proibiu as reuniões familiares.
– Aumento na América Latina –
A América Latina, por sua vez, está perto das 150.000 infecções e já excede 7.300 mortes.
E o pior ainda está por vir, de acordo com a OMS, principalmente em países como o Brasil, onde 3.670 pessoas morreram oficialmente da COVID-19, ou México, que excede 1.000 mortes.
No Brasil, onde o presidente Jair Bolsonaro é acusado de inação diante da pandemia, os habitantes das favelas decidiram agir.
“A favela precisa lutar porque, se esperar pelo governo, nunca chegará”, explica Thiago Firmino, um guia turístico de 39 anos que se ofereceu para desinfetar as ruas da favela Santa Marta, no Rio de Janeiro.
A Venezuela já anunciou uma flexibilização da quarentena para crianças e idosos.
Na Argentina, com mais de 3.500 casos e 176 mortes, dezenas de prisioneiros se rebelaram em uma prisão de Buenos Aires em protesto por um caso de coronavírus, antes de concordar com uma trégua neste sábado.