No momento em que a quarentena começar a ser flexibilizada, o Brasil terá um ponto delicado a endereçar: o país tem 7,7 milhões de trabalhadores ocupados com mais de 60 anos, ou seja, que estão no grupo de risco para o novo coronavírus.
O cenário é bastante difícil para essa faixa da população porque 4,7 milhões de idosos atuam no setor de serviços, portanto, em atividades como o comércio, de difícil distanciamento social. Os números foram compilados pela consultoria IDados com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) trimestral do IBGE.
Depois do setor de serviços, a presença dos trabalhadores com mais de 60 anos é maior na agropecuária e na indústria de transformação.
Para conter a propagação do coronavírus, estados e municípios seguiram a recomendação dos principais organismos mundiais de saúde e impuseram a quarentena, mantendo apenas as atividades consideradas essenciais funcionando.
Nos últimos anos, houve um crescimento da presença de idosos no mercado de trabalho, acompanhando o envelhecimento do país – no primeiro trimestre de 2012, eram 5,5 milhões de ocupados. Mas ocorreu também uma entrada forçada das pessoas mais velhas desde a última recessão, encerrada em 2016.
Com o aumento do desemprego provocado pela última crise econômica, muitos lares perderam renda, o que obrigou jovens a anteciparem a entrada no mercado de trabalho e, na outra ponta, forçou idosos a um reingresso. Não por acaso, dos trabalhadores com mais de 60 anos ocupados, 5,1 milhões são chefes de família.
“Durante a crise, as famílias perderam renda e começaram a depender mais dos idosos”, diz o economista da consultoria LCA e especialista em mercado de trabalho, Cosmo Donato. “Às vezes, a aposentadoria do idoso não dava conta de bancar a família inteira e ele se via obrigado a ajudar em casa.”
Mesmo com mais idosos no mercado de trabalho, a taxa de desemprego entre quem tem 60 anos ou mais é sempre mais baixa do que a da média da população – no ano passado, foi de apenas 4,2%. A explicação é que a busca por emprego pelos mais velhos é bastante inconstante – depende do comportamento da renda familiar. As vagas também acabam se concentrando no setor informal. São 4,4 milhões nessa condição.
Cenário de dificuldade
Com a crise provocada pelo coronavírus e a piora esperada para o mercado de trabalho, os idosos deverão encontrar mais dificuldades, acreditam os analistas.
Já é possível mensurar parte do impacto da crise no emprego dos brasileiros. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desocupação subiu para 12,2% no primeiro trimestre, chegando a 12,9 milhões de pessoas.
Nos próximos anos, deve haver uma pressão adicional para os trabalhadores mais velhos com as novas regras de aposentadoria que vão fazer com os brasileiros prolonguem a permanência no mercado de trabalho.
“Com as mudanças na regra da aposentadoria, mais idosos podem entrar na estatística de desemprego porque vão ficar mais tempo no mercado”, diz Ottoni.