Comércio voltando a funcionar, carros nas ruas e pessoas circulando pelas cidades em Minas Gerais. Apesar de a orientação de autoridades de saúde ser para ficar em casa por causa do novo coronavírus, cenas de relaxamento da quarentena têm se tornado cada dia mais frequentes. E já são mensuradas. Segundo empresa In Loco, que faz monitoramento e disponibiliza os dados ao governo de Minas, a adesão ao isolamento social no estado chegou a 62% no dia 22 de março, mas caiu para 39,5% no dia 6 de maio.
A situação já tinha sido mencionada pelo Secretário de Estado de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, em entrevista coletiva no dia 24 de abril. “Notamos que houve aumento da mobilidade nos últimos 10 dias, tanto na capital, quanto nas cidades do interior. Houve uma diminuição do isolamento. Para nós, o isolamento é importante”, afirmou na ocasião, sem dar detalhes dos dados.
O levantamento feito pela In Loco, disponível no site da empresa, mostra que este percentual de adesão ao isolamento social sofre variações no decorrer dos dias. Pouco depois de o estado decretar estado de emergência em saúde pública, no dia 13 de março, é possível verificar um rápido crescimento no percentual de pessoas em casa, atingindo o pico no dia 22, com 62%. E, exatamente no dia em que o Secretário de Saúde mencionou a queda deste percentual, o índice estava em 39,9%.
Os dados apurados pela In Loco são disponibilizados ao governo de Minas desde o final de março. A parceria foi firmada após assinatura de termo de cessão da empresa com a Prodemge, com vigência enquanto durar o estado de calamidade.
De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde, cerca de três milhões de pessoas são acompanhadas através dos aparelhos celulares. É possível verificar o índice de isolamento por município e por área, conforme critérios. desenvolvidos pela empresa. Segundo a SES, os dados são sigilosos e anônimos e seguem todas as regras de proteção de dados pessoais determinadas pela legislação.
As informações são verificadas pelo governador Romeu Zema (Novo), pela Prodemge, pelo Comitê Gestor do Plano de Prevenção e Contingenciamento em Saúde do Covid-19 e outros órgãos envolvidos no enfrentamento à pandemia.
Mesmo com o registro de queda no isolamento social, o governador lançou, no dia 30 de abril, o Minas Consciente, programa para orientar os municípios na retomada gradual do comércio e outros setores. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde, todas as ações propostas “são baseadas em dados técnicos e científicos” e “seguem protocolos sanitários para garantir a segurança da população”.
Questionada há vários dias sobre o percentual de adesão ao isolamento social, a Secretaria de Estado de Saúde se limitou a informar que os dados do monitoramento são “apenas uma amostra, pois abrangem somente 3 milhões de celulares” e que “está em tratativas junto a outros órgãos e operadoras de telefonia para ampliar o monitoramento em todo o estado, “tornando o controle ainda mais efetivo”.
‘É extremamente preocupante’, diz infectologista
Registro de movimentação de veículos em via de acesso ao Topo do Mundo em Brumadinho, no domingo (3), em descumprimento à determinação de isolamento social — Foto: Redes Sociais
“É tudo de ruim que poderia acontecer. É extremamente preocupante”, disse o infectologista Unaí Tupinambás sobre a redução nos índices de adesão ao isolamento social. O especialista faz parte do Comitê para Enfrentamento à Covid-19 em Belo Horizonte.
Ele reforçou que o distanciamento social é uma das medidas mais importantes para prevenção da doença.
“As pessoas têm que entender que uma doença como esta, sem vacina, transmitida pelo ar, com alta taxa de morbidade e mortalidade, as únicas ferramentas que nós temos são quatro, muito potentes, que funcionam: isolamento social, distanciamento de 2 metros, uso de máscara e lavação de mãos. Se fizermos este dever de casa, com adesão bem intensa, a gente reduz a transmissibilidade”, falou.
Unaí acredita que a adesão ao isolamento social em Belo Horizonte nas duas primeiras semanas após o prefeito Alexandre Kalil (PSD) publicar o decreto de estado de emergência em saúde pública, em março, pode ter poupado pelo menos 500 vidas. “Está longe da partida terminar. Mas se a gente fizer nossa tarefa, bem aplicada, vamos chegar ao fim da partida com vitória”, concluiu.
Casos em Minas
De acordo com o boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES) nesta quinta-feira (7), já são 94.124 casos suspeitos de Covid-19 no estado. Foram confirmados 2.770 pacientes com a doença e 106 óbitos.
Mas estes números podem ser ainda maiores. Até agora, apenas 11% dos casos suspeitos da doença foram testados. O próprio Secretário de Estado de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, confirma que há subnotificações dos casos de contaminação por coronavírus em Minas. Na entrevista coletiva desta quinta-feira (7), ele falou sobre o assunto.
“Todo dia nós estamos buscando acabar com a subnotificação. Ter o controle da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), é isso que nós fazemos no dia a dia. A coisa não é tão simples. Temos um sem-número de pessoas envolvidas. Um colega da saúde que atende um paciente, aquele momento ali é o momento de start. O leigo tem que entender que síndrome respiratória aguda não é sinônimo da Covid-19”, falou.