Um novo método para identificar o novo coronavírus por R$ 4 e capacidade para fazer até 70 mil exames por dia. Parece fantasia em meio às dificuldades de testagem em massa da população, mas essa é a proposta feita por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para que a Prefeitura de Belo Horizonte diminua as subnotificações da doença na cidade.
De acordo com a instituição, a sugestão é realizar uma única análise laboratorial para um grupo de até 30 pessoas com sintomas leves de doenças respiratórias. Com a testagem em massa, o custo do exame, que hoje varia de R$ 50 a R$ 100, seria drasticamente reduzido.
Professor de matemática e membro da força-tarefa de modelagem da Covid-19 da UFMG, Ricardo Takahashi explica que o método surgiu em 1.924, quando os Estados Unidos tinham dificuldades para testar em massa soldados com sífilis, durante a segunda guerra.
A intenção da UFMG é readaptar a estratégia para os dias atuais. Conforme o pesquisador, o teste PCR utilizado hoje para detectar o coronavírus seria mantido. A diferença é que, ao invés de amostras de apenas uma pessoa no tubo com os reagentes químicos, seriam inseridas amostras de até 30 pessoas.
“Desta forma, se o resultado for negativo para a doença, todos do grupo são negativos. Mas, se o conjunto der positivo, voltamos a testar um por um para que descubra quem está com a Covid”, esclareceu.
Eficácia
O método, garantiu o pesquisador, é eficiente e mais barato, pois apenas 0,5% da população está com o vírus ativo da enfermidade. Desta forma, a chance de repetir o exame individualmente seria muito baixa. “Permitiria aumentar a escala de testes aplicados”, observou.
Takahashi frisou que o custo de R$ 4 por teste leva em conta apenas os insumos para fazer a análise. “Isso sem contar com a mão-de-obra e criação de laboratórios”, explicou.
Além de realizar o teste em massa, a UFMG ofereceu os quatro laboratórios que possui para fazer as análises. Juntos, eles têm capacidade de realizar 70 mil exames por dia.
Material
Nesta semana, a instituição recebeu insumos que comprou com verba disponibilizada pelo Ministério da Educação para aplicar em ações de combate à Covid. O material é suficiente para fazer até 45 mil análises em massa. “Temos os insumos químicos, mas apenas 5 mil cotonetes, e eles são individuais”, lamentou Takahashi.
A Secretaria de Saúde de BH foi procurada pela reportagem, mas não se posicionou sobre a proposta feita pela UFMG. De acordo com o pesquisador, a universidade está em contato com a prefeitura para definir os detalhes logísticos da implementação do método, como, por exemplo, quais pacientes seriam testados e como as amostras chegariam até a UFMG.
“Testar mais pessoas é extremamente importante. Não só por curiosidade, mas para conter o número de doentes. Quando se descobre uma pessoa portadora da Covid-19, conseguimos recomendar o isolamento e, também, o isolamento de quem teve convívio com ela. Isso pode ser uma ação para diminuir a curva de contágio da epidemia”, reforçou.