No atual momento que estamos vivendo é muito fácil enxergar dificuldades, tanto em relação aos desafios na área da saúde quanto aos problemas econômicos, sociais, ambientais e tantos mais. Mas eu sou um daqueles otimistas incorrigíveis e lembro que um dos símbolos do conceito “crise” traz duas partes que podem ser vistas como “perigo” e “oportunidade”.
Por isso começo hoje uma série de textos sobre oportunidades existentes em Itabira, que representam possibilidades de geração de renda, trabalho e desenvolvimento em todas as áreas, seja para as pessoas, individualmente, ou para grupos de cidadãos que se unam através de entidades sem fins lucrativos, empresas, cooperativas ou outras organizações e, assim, gerar ações que possam levar o município ao tão sonhado “desenvolvimento com sustentabilidade”, em todos os aspectos: econômico, social, ambiental, cultural e todos mais que couberem na ideia representada por esse conceito.
Para começar, quero falar de uma coisa que é essencial na vida de cada pessoa: a alimentação. Sim, nessa área sempre haverá muitas oportunidades, desde produção de alimentos “in natura”, lá na roça ou em hortas e pomares urbanos ou em espaços próprios para criar animais, até atividades sofisticadas, como restaurantes finos e eventos de alta classe, passando por bares e serviços de produção e entrega de alimentos pelo sistema que estamos nos acostumando a chamar de “delivery”.
Destaco aqui uma informação muito importante que é ignorada por grande parte da nossa população e das lideranças de diversos setores: 90% de nosso território é área rural – façamos a conta: se a área total do município é 1254 km2 então temos mais de 1100 km2 de áreas rurais, dentro das quais o município de Belo Horizonte (330 km2) caberia mais de três vezes – é muita área disponível, mesmo se separarmos todas as áreas de preservação e as áreas onde os terrenos têm grandes inclinações ou outras características que inviabilizam seu aproveitamento econômico.
Juntemos a isso outras informações: a população de Itabira, de acordo com dados e projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), se aproxima de um total de 120 mil almas vivas (população a ser alimentada), das quais cerca de 80 mil pessoas têm idade entre 18 e 60 anos (população em idade “economicamente ativa”, em princípio com todas as condições de trabalhar e produzir), e parte do restante da população (abaixo de 18 e acima de 60 anos) também pode produzir (ou pelo menos ajudar em alguns tipos de atividades) – e tem mais: parte significativa da população de 18 a 60 anos, infelizmente, encontra-se desempregada (as estimativas variam, mas com certeza são alguns milhares de pessoas).
Apresentadas essas informações sobre nosso cenário populacional e econômico, voltemos ao tema principal do nosso texto: as oportunidades, em especial na área de alimentação e mais especificamente na nossa área rural… Nos últimos anos muitas ações foram desenvolvidas buscando viabilizar a diversificação econômica de Itabira e as atividades rurais estão a cada dia mais em evidência, inclusive com a criação de programas e projetos específicos para esse setor, como o AgroWin (grupo formado por entidades, empresas e empreendedores da área agropecuária que participam do WIN – Workshop Itabirano de Negócios, evento criado pela Acita – Associação Comercial, Industrial, de Serviços e Agropecuária de Itabira) e o AGIR (Apoio à Geração e ao Incremento de Renda – programa implantado em 2016 pela mineradora Vale S/A, através da “Fundação Vale”, em parceria com empreendedores e entidades ligadas à produção rural, ao setor de alimentação e ao artesanato). Além disso, entidades como o Sindicato dos Produtores Rurais de Itabira, Associação dos Produtores da Agricultura Familiar de Itabira (APAFI), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) e várias outras organizações, incluindo órgãos públicos municipais e estaduais, têm sido protagonistas na realização de atividades de capacitação e na criação de novos projetos, como a “Central de Compras” e a Feira da Agricultura Familiar “Terra Nossa”.
Por uma feliz coincidência, recebi recentemente uma mensagem da Fundação Renova divulgando a implantação do PASEA (Plano de Adequação Socioeconômica e Ambiental), que vem sendo desenvolvido no município de Mariana(MG) com o objetivo de apoiar a retomada das atividades na zona rural após a tragédia do rompimento da barragem de Fundão, que causou grandes impactos ambientais, sociais e econômicos. Segundo o texto de divulgação da Fundação Renova, o PASEA analisou a capacidade de produção agropecuária da região e realizou diversas ações, como recuperação de Áreas de Preservação Permanente (APPs), e agora está preparando um trabalho com todos os produtores que aceitaram participar, no qual será elaborado um plano completo do que pode ser feito de melhoria em cada propriedade rural.
E aí surge então uma sugestão: que as organizações itabiranas ligadas ao setor rural desenvolvam parcerias entre si e criem aqui um projeto semelhante ao PASEA que está sendo implantado em Mariana(MG) pela “Fundação Renova” – não precisamos (e nem podemos) esperar que as atividades da mineração sejam encerradas para criarmos alternativas para o futuro de Itabira… Seria interessante convidar também para o desenvolvimento dos projetos em Itabira a Vale, que tem fácil acesso a todos os trabalhos da “Fundação Vale” e da “Fundação Renova” e desenvolve outros projetos semelhantes em outros municípios, e ainda outras organizações que possam colaborar com suas experiências na área do “desenvolvimento rural sustentável”, como Instituto Espinhaço, Comitês de Bacias Hidrográficas do Rio Piracicaba e do Rio Santo Antônio, além de entidades e empresas que possam ser parceiras e ajudar a formar uma grande rede de ações e parcerias em prol do futuro de Itabira.
Nos próximos textos traremos mais informações e sugestões para o futuro de Itabira e região. Aguardem!
Até breve!