Dezesseis famílias, ao todo, devem ser retiradas de suas casas em Itabirito e Ouro Preto, cidades da região Central do Estado, após a ampliação da área de risco das barragens da Vale. As remoções começaram na manhã desta quarta-feira (1º).
As famílias vivem em áreas rurais que ficam de 30 minutos a uma hora do centro de Itabirito. O deslocamento é feito por estrada de terra.
“Houve um novo estudo de uma mancha de dam break. Esse novo estudo aumentou a área de inundação e a legislação é muito impositiva. Essas barragens da Forquilha, em que as manchas de inundação, em um possível rompimento, carreia para esses locais. Então, com a barragem em nível 3 as pessoas precisam ser evacuadas”, explicou o coordenador adjunto da Defesa Civil de Minas, tenente-coronel Flávio Godinho.
Até o fim da manhã, cinco famílias, totalizando 17 pessoas foram retiradas de casas. Dessas, sete foram para hotéis em Itabirito e Congonhas, seis para casa de parentes e quatro para outras residências próprias.
Atualmente, Forquilha I e III estão em nível 3. Forquilha II está em nível 2 e IV em nível I. Além das equipes do órgão, Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, Ministério Público e funcionários da Vale acompanham as retiradas dos moradores.
A princípio, as famílias retiram documentos e roupas. Posteriormente, um caminhão de mudança pago pela Vale vai recolher móveis, eletrodomésticos e outros objetos. Animais também serão recolhidos.
“Não houve nenhuma notificação da Vale de mudança na leitura de segurança da barragem. Simplesmente, um novo estudo que aumentou essa mancha e casas que antes não estavam na mancha agora estão. Antigamente, nós tínhamos uma mancha que era Forquilha I, II e IV. Essas três barragens formavam uma mancha de inundação. O Ministério Público determinou que Forquilha III também entrasse nesse estudo e fizesse uma situação hipotética do rompimento de todas as barragens ao menos tempo. De uma forma conservadora. Por isso, com essas quatro barragens rompendo ao mesmo tempo, aumenta a mancha de inundação. Volto a dizer, não estamos falando aqui que a barragem vai romper ou está com alguma anomalia que mudou a característica dela de um ano atrás. Essa barragem tem um ano que permanece no nível 3”, detalhou o tenente-coronel.
Empatia
Durante a comunicação para as famílias da necessidade de desocupação dos imóveis, todas as informações são passadas para os moradores – desde a ida, no primeiro momento para um hotel até o aluguel das novas moradias.
“A gente tem que trabalhar com aquele sentimento de empatia, se colocar no lugar das pessoas. Você vir até a casa das pessoas para falar que elas precisam sair do patrimônio que elas conquistaram. Cada pessoa tem uma história, o hotel é confortável nos cinco primeiros dias, depois ele se torna um dificultador. A gente tenta dar toda tranquilidade e segurança para essas pessoas. A primeira onda é levar para os hotéis e pelo segundo momento retirar do hotel e oportunizar para essas pessoas uma residência para que tenha um espaço apropriado que possa levar os seus pertences e tentar voltar a normalidade”, destacou Godinho.
Um dos moradores do distrito de Eugênio Correia estava trabalhando quando foi avisado que deveria deixar a casa em que mora sozinho.
“Tem dois anos que moro lá. Tirei as minhas coisas e agora e aguardar. Tocar a vida para frente”, contou o caseiro de 56 anos, que pediu para não ter o nome divulgado.
O que diz a Vale
Por meio de nota, a Vale informou que a ação é de forma preventiva e que presta assistência integrada às famílias.
Veja o comunicado na íntegra:
“Por orientação das Defesas Civis Municipais e Estadual, em consonância com o Ministério Público e a Vale, moradores das zonas rurais de Itabirito e Ouro Preto estão sendo transferidos, nesta quarta-feira (1), para hotéis da região, respeitando suas preferências. A mudança é uma medida preventiva de segurança decorrente da ampliação da Zona de Autossalvamento (ZAS) das barragens Forquilha I, II, III e IV e Grupo, do Complexo de Fábrica da Vale. O aumento dos limites da ZAS é resultado do Termo de Compromisso firmado entre o Estado de Minas Gerais, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e a Vale para a revisão do dam break dessas barragens. O novo estudo passou a considerar um cenário extremo de rompimento das quatro Forquilhas ao mesmo tempo, e individual de Grupo, e segue as diretrizes previstas no TC assinado com o MPMG._
A Defesa Civil está conduzindo a realocação com o apoio da Vale. As famílias já estão recebendo assistência integral da empresa. Além da hospedagem em hotéis, elas estão sendo assistidas por atendimento psicossocial, alimentação e transporte para necessidades básicas e emergenciais, como trabalho, escola e consulta médica. Em breve, todas serão transferidas para moradias temporárias, com aluguel social custeado pela Vale. Seus animais também estão sendo resgatados e acolhidos na fazenda administrada pela Vale na região, onde ficam sob cuidados de 50 médicos veterinários, biólogos e auxiliares. A operação cumpre todos protocolos de saúde e segurança recomendados diante do quadro de pandemia da Covid-19. Outras 11 famílias já haviam sido realocadas em 2019, em virtude da subida de nível de alerta das Forquilhas I e III.
_Cabe ressaltar que não houve alteração nos dados técnicos das estruturas ao longo dos últimos meses e que as últimas inspeções não detectaram anomalias. As barragens do Complexo de Fábrica são monitoradas continuamente por meio de piezômetros automatizados, radares terrestres, estações robóticas totais, capazes de detectar movimentações milimétricas, e microssísmica, além de observadas por câmeras de vigilância 24 horas por dia pelo Centro de Monitoramento Técnico (CGM) da Vale”