Com a pandemia, pelo menos R$ 7 bilhões de investimentos estão congelados em Minas Gerais. São recursos que já estavam anunciados para negócios no Estado, mas que, diante das incertezas, foram temporariamente suspensos. Entretanto, a expectativa é a de que, quando a crise passar, não só esses valores serão recuperados, como os investimentos serão ainda maiores. “Em relação aos investimentos, vamos sair da pandemia melhor do que entramos”, afirma o presidente do Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais (Indi), Thiago Romano.
Segundo ele, em março, a soma dos negócios suspensos chegou a R$ 9 bilhões. “Mas, com o passar dos dias, a reativação começou, e cerca de R$ 2 bilhões já foram destravados”, explica Romano. Um exemplo é a fábrica de batatas fritas que a canadense McCain começou a construir em Araxá, no Triângulo. O empreendimento, de US$ 100 milhões, vai gerar 600 empregos diretos e indiretos.
“Outro investimento que estava programado e foi retomado é o da mineração Nossa Senhora do Sion, em Santa Bárbara (região Central). Serão R$ 257 milhões, com 630 empregos gerados”, anuncia Romano.
O presidente do Indi afirma que Minas vai conseguir sair mais forte da pandemia graças ao planejamento de desenvolvimento econômico, que possibilitou uma atração recorde de investimentos ainda no ano passado. “Temos tido grande procura de empresas de outros Estados interessadas em vir para cá. Estamos negociando com um fabricante de eletroeletrônicos de São Paulo que quer se instalar no Sul de Minas”, afirma.
Cenário
Um levantamento da Fundação João Pinheiro mostra que, no primeiro trimestre, os investimentos anunciados para Minas Gerais caíram 111% em relação ao quarto trimestre. Mas, na comparação com o mesmo período no ano passado, está 28% maior.
No primeiro trimestre de 2019, a previsão era de US$ 700 milhões. No quarto trimestre, subiu para US$ 1,9 bilhão, e, nos três primeiros meses de 2020, os anúncios caíram para US$ 900 milhões.
Na avaliação do economista Izak Carlos Silva, da Fiemg, a queda dos investimentos em relação ao fim de 2019 pode ser explicada por fatores sazonais e pelos efeitos da pandemia. “Com esse ambiente de incertezas, é natural que os investimentos de curto prazo sejam suspensos. No entanto, aqueles que já estavam no horizonte, para um longo prazo, permanecem, pois em algum momento essa pandemia vai passar”, observa Silva.
De acordo com o professor de ciências contábeis Ivan Melo, da Estácio, apesar da pandemia, muitos setores continuam com demanda. “É o caso da energia, por exemplo. Com todo mundo em casa, é preciso investir na transmissão. E não dá para esperar para investir só depois da pandemia”, avalia.
Setor elétrico: maior anúncio de negócios
O estudo da Fundação João Pinheiro (FJP) mostra que, no primeiro trimestre deste ano, o setor de energia foi o que mais recebeu anúncios de investimentos, com 91,4% das intenções de negócios. “Isso chama atenção, pois, normalmente, a indústria de transformação é destaque em Minas”, afirma a pesquisadora em ciência e tecnologia Carla Aguilar, coordenadora do Núcleo de Análise Insumo-Produto da FJP. No primeiro trimestre do ano passado, a indústria de transformação ficou com 73% dos investimentos previstos.
Na avaliação da pesquisadora, espera-se uma desaceleração nos investimentos para o segundo trimestre devido à paralisação de várias atividades por conta da pandemia. “Por enquanto, temos visto mais investimento em modernização e expansão. Mas, quando tudo acabar, o que está parado vai vir à tona”, afirma.
O estudo também indica os efeitos da pandemia na origem dos recursos. No primeiro trimestre do ano passado, 68,9% dos investimentos anunciados eram estrangeiros.