Parte dos problemas ambientais gerados durante a produção do aço podem estar com os dias contados. Uma pesquisa que vem sendo desenvolvida no Departamento de Engenharia da Universidade Federal de Lavras (Ufla), no Sul de Minas, constatou que o óleo de girassol tem a mesma eficiência no procedimento de têmpera de um aço específico, usado, por exemplo, na indústria automobilística, que o óleo mineral empregado atualmente no processo de produção do material.
Coordenador dos estudos, o professor de Engenharia de Materiais Leonardo Pratavieira Deo explica que o óleo de girassol se propõe a ser uma fonte renovável de produção. “A ideia é tentar substituir óleos de origem mineral por óleos mais ecologicamente corretos”, conta o pesquisador.
O aço tem uma infinidade de aplicabilidades, podendo ser empregado desde na indústria mecânica até na medicina e, segundo detalha o professor Leonardo Deo, o óleo usado na sua produção é armazenado em galões e, muitas vezes, acaba indo para aterros. Há maneiras de polimerizar esses óleos que já não têm mais aplicação, informa.
“Isso significa que é colocado um reagente químico nesse óleo mineral, de forma que ele se torne sólido, para não entrar no lençol freático, o contaminando, o poluindo. A quantidade desse tipo de resíduo gerada diariamente no mundo é um problema ambiental muito grande. Boa parte não tem tratamento adequado”, afirma.
O estudo do Departamento de Engenharia da Ufla confirmou a eficácia do óleo de girassol na produção de um aço liga comum, de baixo teor de carbono, com alta resistência, usado na confecção de peças automotivas, por exemplo, como virabrequim e parafusos, conta o professor.
Isso gera uma expectativa, portanto, de que possa vir a ser possível tentar minimizar o impacto causado pelo uso dos óleos minerais na produção do aço.
“Provavelmente, o óleo de origem vegetal vai degradar mais rápido, mas será preciso usar um volume de óleo maior na produção”, pondera Leonardo Deo.
Ele diz que há várias possibilidades para as etapas seguintes da pesquisa, como comparar a biodegradabilidade do óleo de girassol e a dos outros usados na siderurgia, averiguar o tempo de vida útil do óleo vegetal e do mineral, ou, ainda, quantos picos térmicos (necessários à produção do aço) suporta o óleo de girassol.
Parcerias
O professor admite o interesse de fazer parcerias com indústrias, para o avanço e a aplicabilidade comercial da pesquisa. Tanto, diz ele, que os óleos e amostras que fomentaram a fase inicial do estudo foram doações de empresas. Leonardo Deo acredita que isso será o caminho natural, a partir dos resultados obtidos em laboratório, mostrando que as análises têm potencial científico.
Além disso, o viés da pesquisa voltado para o meio ambiente é uma vocação muito forte da Ufla, ressalta o professor. “Achei legal trabalhar em uma linha de pesquisa multidisciplinar que envolvesse minha principal área de dedicação, que são os materiais metálicos, com esse viés ambiental”.
Além disso
Alunos de outros cursos da Universidade Federal de Lavras (Ufla), como Engenharia Mecânica e Engenharia Ambiental, estão interessados em participar da pesquisa que confere eficácia do uso do óleo de girassol na produção de aço, revela o professor Leonardo Pratavieira Deo, do Departamento de Engenharia.
Ele conta que a primeira fase do estudo foi registrada no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), na Engenharia de Materiais, pela aluna Fernanda Resende Lima. “Existem muitas variáveis que podem ser estudadas a respeito desse tipo de processamento de materiais metálicos”, acredita.
Um aluno da Engenharia Ambiental, por exemplo, está fazendo levantamento do impacto de óleos, como os usados em oficinas mecânicas, que, se descartados de maneira errada, poluem muito o meio ambiente, revela o professor. Esse trabalho, pondera, está entre os que podem se associar ao estudo sobre o uso do óleo de girassol.
“Há possibilidade de, talvez, virmos a sugerir um projeto de lei municipal para uma solução melhor do que as que existem atualmente na produção de aço. Para isso, outra vertente do estudo pode ser averiguar o que vigora como legislação”, considera ainda.