Números de junho do Cadastro de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados ontem, reforçaram a visão de que a grave crise econômica provocada pela Covid-19 parece estar perdendo força. Analistas dizem, contudo, que ainda é cedo para comemorar e que muitas armadilhas podem surgir no caminho, comprometendo a recuperação.
Segundo o levantamento, o saldo entre admissões e demissões em junho foi negativo (-11 mil vagas) no país pelo quinto mês seguido, mas apresentou forte queda em relação a março (-260 mil), a abril – que teve o pior resultado (-918 mil) – e a maio (-350 mil).
Em Minas, a situação foi ainda mais favorável: o saldo do Caged foi positivo (1,8 mil contratações a mais que demissões), ante déficits significativos, sobretudo, em abril (-88 mil) e maio (-33 mil).
Flexibilização
Para o economista Guilherme Almeida, da Federação do Comércio de Minas Gerais (Fecomércio-MG), o balanço no Brasil e particularmente no Estado, que apresentou o melhor desempenho do Sudeste, é consequência direta da flexibilização das atividades econômicas ocorridas em parte dos municípios, no mês passado.
“A retomada gradual de alguns segmentos em muitas cidades impulsionou a economia, alavancando contratações”, diz.
Ele alerta, contudo, que incertezas persistem quanto a outros indicadores, como o grau de confiança de consumidores e empresários, a própria imprevisibilidade da evolução da pandemia e o encerramento, em breve, de medidas governamentais adotadas para preservar empregos, como as da MP 936, transformada em lei – que devem deixar de ter efeito a partir de agosto.
“A continuidade de divulgação dos dados do Caged para os próximos meses deve ser observada com cautela. Isso porque temos quase 6 milhões de trabalhadores com contratos suspensos no país, hoje, e, certamente, quando a validade dessas medidas findar, muitas empresas que não estão com liquidez e capacidade para honrar seus compromissos, e que não estão conseguindo acesso a fontes de financiamento, vão acabar não tendo outra alternativa, a não ser fazer desligamentos”, afirma.