Um grande número de congressistas republicanos, incluindo membros da liderança na Câmara e do Senado americano, rejeitou abertamente a sugestão do presidente Donald Trump nesta quinta-feira (30) de que as eleições presidenciais de novembro deveriam ser adiadas, uma medida para a qual não teria autoridade, já que o poder de escolha da data de votação é dado ao Congresso pela Constituição.
Esse é o exemplo mais recente dos comentários incendiários do presidente no Twitter — que colocam os republicanos em posição de constrangimento ao lidarem com a repercussão.
O presidente do Comitê de Justiça do Senado, Lindsey Graham, um republicano da Carolina do Sul e aliado de Trump, respondeu à CNN quando questionado sobre o chamado do presidente por um adiamento da eleição: “Eu não acho que essa é particularmente uma boa ideia”.
O líder da bancada da maioria, senador John Thune, membro da liderança republicana, disse à CNN que haverá uma eleição em novembro, apesar do tuíte do presidente.
“Eu acho que essa é uma declaração que ganha alguma atenção da imprensa, mas duvido que ganhará tração séria”, disse.
“Acredito que tivemos eleições em todos os novembros desde 1788 e eu espero que esse seja novamente o caso neste ano”, completou.
O líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, insistiu similarmente que a eleição continue como planejado.
“Nunca na história do país, através de guerras, depressões e da Guerra Civil, não realizamos uma eleição marcada federalmente na hora certa. Nós encontraremos uma maneira de fazer isso novamente em 3 de novembro”, disse em entrevista ao canal WKNY.
Mais cedo nesta quinta, Trump tuitou: “Com votação por correspondência universal (não voto ausente, o que é bom), 2020 será a eleição mais imprecisa e fraudulenta da história. Será uma grande verghonha para os EUA. Adiar a eleição até que as pessoas possam votar segura e adequadamente ???”.
A CNN já havia checado anteriormente declarações feitas por Trump de que há uma distinção entre o voto por correspondência e o voto ausente — e especialistas dizem que esses sistemas são basicamente a mesma coisa. Também não há evidência de fraude ampla nas eleições americanas.
O presidente também não tem o poder de alterar a data da eleição. O dia da eleição é marcado pelo estatuto congressional, e a maioria dos especialistas concorda que ele não poderia mudar sem aprovação dos parlamentares.
Apesar da falta de autoridade do prresidente, sua mensagem oferece uma abertura —temida há muito pelos democratas — de que ele e seus apoiadores podem se recusar a aceitar os resultados da eleição presidencial.
A presidente da Câmara, Nancy Pelosi, uma democrata da Califórnia, respondeu ao presidente em um tuíte citando o artigo dois, seção um, da Constituição, que dá ao Congresso o poder para “determinar o tempo de escolha dos eleitores, e o dia em que eles darão seu voto”.
O parlamentar republicano Adam Kinzinger, de Illinois, ecoou essa ideia, tuitando, “Lembrete: datas das eleições são marcadas pelo Congresso. Eu irei me opor a qualquer tentativa de adiar a eleição de 2020”.
O líder dos republicanos na Câmara, Kevin McCarthy, da Califórnia, descartou a ideia de adiar as eleições, mas defendeu as preocupações do presidente sobre fraude nos votos.
“Nunca na história das eleições federais não realizamos o pleito, e devemos seguir em frente com as nossas eleições”, disse. “De maneira alguma não devemos ter as eleições no dia marcado”.
O senador republicano Thom Tillis, que está enfrentando uma batalha difícil pela reeleição na Carolina do Norte, declarou: “A eleição acontecerá em novembro e ponto final”.
“A eleição será realizada em novembro. Votos ausentes na Carolina do Norte são fortemente recomendados, assim como o presidente os recomendou. Espero que tenhamos o lado seguro dos votos por correspondência, porque, de outro modo, eles podem comprometer a integridade da eleição”, disse.
O senador republicano Ted Cruz, do Texas, disse: “Fraude eleitoral é um problema sério, nós precisamos pará-la e combatê-la, mas não, a eleição não deve ser adiada”.
O senador correligionário Marco Rubio, da Flórida, respondeu ao tuíte de Trump, dizendo: “Eu queria que ele não tivesse dito isso, mas não vai mudar: nós teremos uma eleição em novembro e as pessoas devem ter confiança nela”.
O presidente do comitê de finanças do Senado, Chuck Grassley, de Iowa, minimizou os comentários do presidente, dizendo: “Tudo o que posso dizer é que não importa o que um indivíduo neste país diz. Ainda somos um país baseado no regimento da lei. E nós devemos seguir a lei até a Constituição mudar ou a lei mudar”.
O senador republicano John Barrasso, de Wyoming, disse em uma entrevista à Fox Business: “Não, não iremos atrasar a eleição. Completaremos a votação e a eleição no dia marcado”.
O representante republicano Dusty Johnson, da Dakota do Sul, levantou a preocupação de que qualquer alteração pudesse ferir a legitimidade da eleição.
“Mover o dia da eleição prejudicaria seriamente a legitimidade do pleito. Autoridades locais, estaduais e federais precisam continuar a trabalhar duro para garantir que os americanos possam votar com segurança, seja votando com antecedência ou em 3 de novembro”, tuitou.
Nem todos os republicanos do Capitólio, incluindo alguns membros da liderança, quiseram comentar a fala do presidente.
“Não responderei a nenhuma pergunta”, disse o senador Joni Ernst, um republicano de Iowa que também está enfrentando uma corrida difícil para a reeleição, quando questionado sobre o tuíte de Trump.