Os hospitais Eduardo de Menezes, Júlia Kubitschek, a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Centro-Sul e o Hospital das Clínicas, todos em Belo Horizonte, irão testar a hidroxicloroquina em mil profissionais de saúde com alto risco para infecção pelo novo coronavírus. Objetivo do estudo, que é coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), é avaliar a eficácia e a segurança do remédio no combate à doença.
“Realizaremos acompanhamento de segurança composto por exames de sangue e eletrocardiograma. Se a pessoa sentir qualquer sintoma suspeito de Covid, ela será atendida remotamente e em seguida, feita a testagem. Em caso positivo, ela passará por exames para que possamos entender a dinâmica viral do coronavírus com o uso da cloroquina”, disse o infectologista do hospital Mateus Westin. A ideia, segundo o médico, é verificar cientificamente se os trabalhadores que usaram a cloroquina teriam uma infecção mais leve e um clareamento viral mais rápido.
O pesquisador da Fiocruz que está liderando o estudo, o infectologista Israel Molina, explicou que o tratamento com a cloroquina ainda não é recomendado, mas não há estudos que falam sobre a prevenção. “Hoje, além do distanciamento e isolamento social, apenas duas estratégias podem ser usadas contra a infecção pelo novo coronavírus: a vacina e as intervenções farmacológicas. A vacina ainda vai demorar um tempo para ser acessível a toda população. Já sabemos que a cloroquina, para tratamento da infecção, não é recomendada, mas não há estudos falando sobre prevenção. O que queremos avaliar é o seu efeito na prevenção e até hoje isso não foi evidenciado”, afirmou.
Ainda conforme ele, se comprovado o efeito seguro e protetor do medicamento, ele poderia ser recomendado para pessoas vulneráveis, como profissionais de saúde ou pessoas com comorbidade, enquanto uma vacina não é criada.
Segundo a Ebserh, as medicações já chegaram às unidades de saúde e o financiamento do estudo é da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
Hidroxicloroquina
Remédio defendido ferrenhamente pelo presidente Jair Bolsonaro, o qual ele afirmou ter tomado após ser diagnosticado com coronavírus, a hidroxicloroquina (HCQ), ou cloroquina, é normalmente usada no tratamento de malária, lupus e artrite reumatoide.
Diversas pesquisas, estão sendo realizadas mundialmente para avaliar se o seu uso ajuda a prevenir ou diminuir a gravidade da Covid-19 entre pessoas que estejam saudáveis, mas em alto risco de infecção. Embora esses medicamentos não tenham demostrado eficácia como tratamento, ainda não há evidências quanto ao seu papel na prevenção da pré-exposição à doença.
Conforme um artigo publicado pela Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), um dos estudos avaliou pacientes com Covid-19 nos Estados Unidos e Canadá. O grupo que recebeu hidroxicloroquina, em comparação aos pacientes que receberam placebo (preparação neutra sem efeitos farmacológicos), não teve nenhum benefício clínico: não houve redução na duração dos sintomas, nem de hospitalização, nem impacto na mortalidade.
Diante disso, a SBI orientou que: a cloroquina seja abandonada no tratamento de qualquer fase da doença; os agentes públicos, incluindo municípios, Estados e Ministério da Saúde reavaliem suas orientações de tratamento, não gastando dinheiro público em tratamentos que são comprovadamente ineficazes e que podem causar efeitos colaterais; que o recurso público seja usado em medicamentos que comprovadamente são eficazes e seguros para pacientes com Covid-19 e que estão em falta.