Em todo o mundo, há muito destaque para o uso de máscaras para controlar a disseminação do novo coronavírus. Mas na Nova Zelândia – que atingiu o marco invejável de mais de 100 dias sem registro de casos domésticos da doença, com todas as novas infecções oriundas de outros países – esses itens não têm sido uma grande ferramenta contra a pandemia.
Há poucas razões para isso. O país não tem uma cultura de usar máscaras, e em março, quando o país se preparava para entrar em lockdown (bloqueio total), era difícil comprar esses produtos em lojas locais. Quando as pessoas puderam começar a sair de casa e viajar pelo território novamente, havia poucos casos de Covid-19 no território neozelandês.
A Nova Zelândia adotou outras estratégias de saúde pública e também teve algumas vantagens naturais. O país não tem fronteiras terrestres, o que facilita o controle de quem entra no país.
Ela também não é densamente povoada. De acordo com dados do Banco Mundial, tem apenas 18 pessoas por km², em comparação às 36 nos EUA e as 275 no Reino Unido. A Índia, por outro lado, que está em terceiro lugar na lista de países com mais casos da doença, tem 455 pessoas por km².
Até esta segunda-feira (10), a Nova Zelândia registrou 1.219 casos confirmados do novo coronavírus, incluindo apenas 21 infecções ativas, todas acompanhadas em unidades de isolamento. No total, a ilha de 5 milhões de habitantes teve 22 mortes causadas pela doença.
Enquanto outros países, incluindo a vizinha Austrália e os Estados Unidos, continuam na luta contra a pandemia, a Nova Zelândia vem sendo citada com um exemplo de como combater a doença. Uma razão chave para isso é que apesar de o país parecer ter o vírus sob controle, as autoridades seguem testando milhares de pessoas diariamente.
“Estamos vendo o quão rápido o vírus pode voltar a emergir e se espalhar em lugares onde estava sob controle antes, e precisamos estar preparados para rapidamente eliminar qualquer caso futuro na Nova Zelândia”, disse o diretor-geral de Saúde, Ashley Bloomfield, nesse domingo (9). “Precisamos estar preparados para rapidamente eliminar qualquer caso futuro na Nova Zelândia. Não baixem a guarda, nenhum de nós pode se dar ao luxo de fazer isso.”
Como a Nova Zelândia conseguiu
A estratégia foi simples: nas palavras da primeira-ministra, Jacinda Ardern, o país precisou “agir pesado e antecipadamente”.
Quando ela fechou as fronteiras aos estrangeiros no dia 19 de março, a Nova Zelândia tinha apenas 28 casos confirmados do novo coronavírus. E quando ela anunciou o lockdown nacional em 23 de março, havia apenas 102 casos confirmados – e nenhuma morte.
O lockdown foi relativamente restrito – sem praias e sem sair do bairro. As regras mais rígidas ficaram em vigor por cerca de cinco semanas, mas o país permaneceu sob um lockdown eficaz por mais de duas semanas. Tudo isso fazia parte de uma estratégia mais ampla: eliminação.
“Eliminação não significa erradicar o vírus permanentemente da Nova Zelândia. Em vez disso, é estar confiante de que eliminamos as cadeias de transmissão em nossa comunidade por ao menos 28 dias e podemos conter de forma eficaz qualquer caso futuro importado”, de acordo com o site do Ministério da Saúde neozelandês.
A Nova Zelândia esperou até que conseguisse baixar a curva para aliviar as restrições. No dia 8 de junho, quando a premiê anunciou que todas as restrições seriam levantadas, os cerca de 40 mil testes feitos nos 17 dias anteriores não tinham dado um resultado positivo sequer.
Desde junho, o país vinha quase voltando ao normal, e não havia necessidade de voltar ao lockdown.
A Nova Zelândia também combinou o bloqueio total com restrições mais duras nas fronteiras. Apenas cidadãos neozelandeses tinham permissão para entrar no país, e eles precisavam ficar duas semanas em uma instalação aprovada pelo governo.
Os que voltarem para casa agora terão que pagar 3.100 dólares neozelandeses (2.040 dólares americanos) pelas estruturas, caso seja uma volta temporária.
No total, 95 casos confirmados da Covid-19 foram identificados na fronteira, e 70% dos casos dos neozelandeses foram importados ou tiveram relação com casos importados, segundo estatísticas do Ministério da Saúde.
Futuro
Apesar de tudo isso, só porque as máscaras não foram utilizadas como parte da estratégia da Nova Zelândia no passado, não significa que esse será o caso no futuro. O Ministério da Saúde recomenda que todas as pessoas se preparem para uma possível nova onda e estoquem máscaras.
“É uma questão de quando, não se”, disse Bloomfield à emissora Radio New Zealand na semana passada, quando questionado se outro caso de transmissão doméstica no país era inevitável. “Estamos trabalhando com a possibilidade de que isso pode acontecer a qualquer momento.”