“Planejamos ter os primeiros lotes em fevereiro ou março”. Essa é a época provável para a chegada da possível vacina contra a Covid-19 que a Universidade de Oxford e o laboratório AstraZeneca produzirão na Argentina para a América Latina.
A declaração foi dada por Esteban Corley, diretor da mAbxience, empresa argentina de biotecnologia que produzirá o princípio ativo da vacina. “Depois de ser produzido no país, o princípio ativo irá para o México, para ser formulado e embalado em seringas”, acrescentou.
De acordo com Corley, estarão disponíveis “cerca de 250 milhões de doses em uma primeira etapa”. Elas serão distribuídas por toda a América Latina, exceto para o Brasil que tem outros acordos de produção de vacinas.
A Fundación Slim, do magnata mexicano das telecomunicações Carlos Slim, também participa do projeto. Graças ao seu financiamento, a vacina terá “preços mais razoáveis”, entre US$ 3 (R$ 16) e US$ 4 (R$ 21), explicou o presidente da Argentina Alberto Fernández.
“É um preço muito diferente do que dizem outros fabricantes”, disse o ministro da Saúde argentino, Ginés González García, que acrescentou: “Isso nos dá maior acessibilidade, especialmente em um país onde existem dificuldades econômicas”.
Apesar de os anúncios terem sido feitos pelos governos da Argentina e do México, tanto o desenvolvimento quanto o financiamento são conduzidos pelo setor privado. E é preciso considerar o risco de a vacina não funcionar ao final dos testes.
“Para não esperar até o final dos testes [para então começar a produção], a AstraZeneca pediu às empresas que trabalhassem com risco: ou seja, se a vacina for aprovada, será vendida; se não for, o que foi fabricado será jogado fora”, explicou Hugo Sigman, proprietário do Grupo Insud, ao qual a mAbxience pertence, em entrevista à Rádio Mitre da Argentina.
A vacina já passou pelas Fases 1 e 2 de testes e já entrou na Fase 3, que avalia sua eficácia contra o vírus Sars Cov-2 e contempla a inoculação em milhares de pessoas em diversos países.
“A imunidade com uma dose, segundo um estudo internacional, foi detectada em 91% das pessoas e isso é muito alto; já com uma segunda dose, no segundo mês, 100% foi alcançado”, explicou o ministro da Saúde da Argentina.
Ao produzi-la dentro dos países, a América Latina terá “a vacina ao mesmo tempo que os países centrais”, acrescentou Sigman, do Grupo Insud.
O presidente da Argentina fez uma declaração parecida: na quarta-feira (12), ele disse que, graças a este acordo, a Argentina vai antecipar seu acesso à vacina em um período “entre seis e doze meses”.
O governo argentino argumentou que os primeiros a receber a dose serão aqueles que compõem a população de risco: pessoas com mais de 60 anos com fatores de risco, pessoal de saúde e das forças de segurança.
Além dessa produção inicial de 250 milhões de doses, a mAbxience esclareceu que “caso seja necessário, a capacidade de produção será ampliada para que se possa atender a demanda”.
Embora o presidente frise que a vacina da Oxford “está adiantada na fase clínica” em relação às demais desenvolvidas no mundo contra o novo coronavírus, o governo argentino esclareceu que essa “não é a única negociação, nem a única alternativa”.
O ministro da Saúde disse que a Argentina continua a “conversar com outros fornecedores” para garantir “a vacina mais eficaz”. Por isso, negocia também outros estudos, como o da farmacêutica CanSino com a unidade militar de pesquisa da China, e da BioNTech com a Pfizer, que já está fazendo testes clínicos no país.
“É um grande alívio para o futuro. Não é uma solução para o presente – no presente continuamos a enfrentar os mesmos problemas”, afirmou o presidente Fernández durante a apresentação do acordo, referindo-se ao crescimento do número de infectados e mortos por Covid-19 no país.