A pandemia impôs um paradoxo para o orçamento doméstico: ao mesmo tempo em que a renda caiu, as despesas dispararam. Um levantamento feito em julho pela Mobills, startup de gestão de finanças pessoais, revela que quatro em cada dez mineiros perderam parte da renda. Quando a pergunta é sobre aumento de despesas, 69,9% estão gastando mais no supermercado, e 44,8% tiveram aumento nas contas de água, luz e gás.
A pesquisa da Mobills ouviu 2.153 pessoas em todo o Brasil, sendo 223 em Minas Gerais, entre os dias 2 e 13 de julho. “O aumento dos gastos não é uma surpresa, pois muita gente está trabalhando em home office, passou a cozinhar em casa e está gastando mais energia. Por outro lado, tem outras despesas que estão caindo, como o lazer. E a questão é se policiar para que as despesas que subiram não se sobreponham”, alerta o fundador da startup, Carlos Terceiro.
É esse exercício de equilíbrio que a técnica administrativa Adriana Negreiros está tentando fazer em casa. “Minha renda está menor, porque tive redução de jornada. Já o supermercado subiu cerca de 200%, pois, além de estar cozinhando mais, os preços do óleo, leite, arroz, feijão e carne têm subido. Também estou gastando mais água, porque meu marido é enfermeiro e lavamos muita roupa, além de lavar as compras, usar mais a descarga”, conta.
Para compensar os gastos extras, Adriana pediu descontos na escola, no inglês, no dentista e está fazendo pilates em casa mesmo. A estratégia dela também está retratada na pesquisa, que mostra que 62% dos mineiros cortaram os gastos com lazer, e 50%, com restaurantes. “Não tem balada, não tem shopping, não tem presentes, não tem Uber. No máximo, uma pizza”, conta.
A produtora de eventos Cláudia Perdigão também está sentindo no bolso o impacto da pandemia. A conta de água praticamente dobrou. A de luz subiu 20%. “Com certeza é por causa do home office e também das aulas remotas, que consomem. E se a gente economiza de um lado, com o lazer fora de casa, por outro lado, acaba gastando mais com luz e internet, que é o lazer dentro de casa mesmo”, destaca Cláudia.
O professor de economia e finanças Cleyton Izidoro, da Una, acredita que retomar os hábitos antigos será um desafio quando a pandemia passar. “Estamos vivendo um momento ímpar, literalmente sem precedentes, e não dá muito para prever como será. Mas, nessa parte do lazer, mesmo quando tudo passar, as coisas não serão como antes. Na parte da alimentação e do consumo de energia, também vai demorar para voltar aos hábitos anteriores, por isso a redução desses gastos no orçamento doméstico também pode demorar um pouco”, afirma Izidoro.