Passados cinco meses do início da pandemia ainda não está claro o que pode acontecer no mercado de trabalho. Enquanto as estatísticas fiscais não conseguem captar a realidade, há uma modalidade de emprego que cresce rapidamente e pode chegar a 1,9 milhão de vagas em 2020. O trabalho temporário passou a ser uma opção para muitas empresas receosas em assumir o custo de empregar num cenário de tanta incerteza.
A previsão de alta de 28% da geração de vagas nesta categoria é da Associação Brasileira do Trabalho Temporário (ASSERTTEM). Segundo a entidade, a pandemia provocou uma inversão na sazonalidade da geração de vagas temporárias. Historicamente, é no segundo semestre que acontece o maior volume de contratações por causa das datas mais importantes para o comércio e a indústria, como Dia das Crianças e Natal.
Em 2020, houve 1 milhão de novos contratos entre janeiro e julho. Agora no segundo semestre, outras 900 mil vagas devem se concretizar. Para a Asserttem, a indústria deve liderar o processo, marcando outra diferença com anos anteriores, quando o varejo gerou mais demanda.
“Agora durante a pandemia, 20% a mais de empresas passaram a usar o trabalho temporário. Há muita insegurança com futuro e, ao mesmo tempo, emergência de encomendas, necessidade por uma força tarefa ou até mesmo de substituição de quem acabou pegando o vírus”, disse Marcos de Abreu, presidente da ASSERTTEM.
A taxa de conversão para permanência no emprego tem sido, em média, de 15%. Para o presidente da associação, ela deve se manter agora na pandemia, mas ainda é cedo para dizer. A incerteza com o ritmo da retomada e também de sobrevivência de empresas até o final do ano atrapalha formação de cenários.
Os setores que mais demandaram trabalhadores temporários no primeiro semestre foram as áreas médica, de logística, alimentícia, agro e tecnologia. O varejo pode ter alguma alta no final do ano, com a chegada das datas comemorativas, mas vai depender da recuperação da demanda e da presença dos consumidores nas lojas físicas.
No ano passado, o governo editou um decreto para regularizar o trabalho temporário.
A regulamentação esclareceu e deu mais segurança às duas pontas dessa relação: empresas e trabalhadores. A lei necessitava de atualização e de uma distinção mais clara sobre o regime temporário e outras categorias que convivem no mercado, como o terceirizado e o intermitente.
O Brasil é apontado como um dos países que mais contrata temporários no mundo, mas ainda é pouco para o tamanho da nossa economia. A média entre 2014 e 2018 rodou perto de 1 milhão de pessoas por ano. No ano passado, depois da edição do decreto, a geração de vagas acelerou, levando a um crescimento de 20% dos temporários.
Os dados sobre esse mercado específico são poucos e superficiais. Mesmo garantidos os direitos dos celetistas e com registro na carteira de trabalho, os temporários não estão sob a CLT e por isso não são lançados no Caged, o cadastro oficial de empregos formais.