Em agosto de 2020, o Instituto RAS de Problemas de Petróleo e Gás, apoiado pelas autoridades siberianas, fez uma grande expedição para a nova cratera. Os pesquisadores da Skoltech fizeram parte das etapas finais dessa expedição.
Foto: Evgeny Chuvilin
Ao voar sobre a tundra siberiana neste verão (do Hemisfério Norte), uma equipe de TV russa avistou uma enorme cratera de 30 metros de profundidade e 20 metros de diâmetro. Ela é impressionante tanto por seu tamanho e simetria como pela força explosiva da natureza que deve ter sido necessária para criá-la.
Os cientistas não sabem ao certo como se formou o enorme buraco, que é pelo menos o nono visto na região desde 2013 – a primeira cratera foi descoberta perto de um campo de petróleo e gás na Península Yamal, no noroeste da Sibéria. No início, especulava-se que as crateras tivessem surgido a partir do impacto de meteoritos, de colapsos de depósitos militares subterrâneos secretos e até de pouso de OVNIs.
Embora os cientistas agora acreditem que o buraco gigante esteja ligado a um acúmulo explosivo de gás metano (que pode ser um resultado preocupante do aquecimento da região), ainda há muito que os pesquisadores não sabem.
Vista aérea da mais nova cratera surgida este ano, que é uma das maiores. Em agosto de 2020, o Instituto RAS de Problemas de Petróleo e Gás, apoiado pelas autoridades locais, fez uma grande expedição para a nova cratera. Os pesquisadores da Skoltech fizeram parte das etapas finais dessa expedição
Foto: Evgeny Chuvilin
“No momento, não há uma única teoria aceita sobre como esses fenômenos complexos são formados”, afirmou Evgeny Chuvilin, pesquisador-chefe do Centro de Recuperação de Hidrocarbonetos do Instituto de Ciência e Tecnologia Skolkovo, que visitou o local da cratera mais recente para estudar suas características.
“É possível que elas estejam se formando há anos, mas é difícil estimar os números. Uma vez que as crateras geralmente aparecem em áreas desabitadas e em grande parte intocadas do Ártico, muitas vezes não há ninguém para vê-las e relatá-las”, comentou o cientista.
“Mesmo agora, as crateras são encontradas principalmente por acidente durante voos rotineiros de helicópteros não científicos ou por pastores de renas e caçadores”.
O permafrost (solo permanentemente congelado), que corresponde a dois terços do território russo, é um enorme reservatório natural de metano, um potente gás de efeito estufa. Os verões quentes recentes na região, inclusive o de 2020, podem ter desempenhado um papel na criação dessas crateras.
A cratera Yamal foi a primeira a ser descoberta na região. Foi vista pela primeira vez em 2013, mas ganhou as manchetes em 2014.
Foto: Vladimir Pushkarev
Minerando um mistério
Chuvilin e sua equipe estão entre os poucos cientistas que desceram em uma dessas crateras para investigar como ela se formou e de onde vem o gás que causou a explosão. O acesso às crateras deve ser feito com equipamento de escalada logo depois de descobertas – elas se transformam em lagos dois anos depois de formadas.
Os cientistas coletaram amostras de solo permafrost, terra e gelo da borda de um buraco, conhecido como cratera Erkuta, durante uma viagem de campo em 2017. A Erkuta foi descoberta por biólogos que estavam na área observando a nidificação de falcões. Os pesquisadores fizeram observações usando drones seis meses depois.
“O principal problema com essas crateras é a velocidade incrível, geologicamente falando, de sua formação, e como elas duram pouco antes de se transformarem em lagos”, disse Chuvilin. “Encontrar uma no remoto Ártico é sempre um golpe de sorte para os cientistas”.
Um pesquisador desce pela cratera Erkuta
Foto: Anton Sinitsinki
O estudo, publicado em junho, mostrou que gases, principalmente o metano, podem se acumular nas camadas superiores do permafrost vindo de múltiplas fontes – tanto de camadas profundas da Terra quanto mais próximas à superfície. O acúmulo desses gases pode criar uma pressão forte o suficiente para romper as camadas superiores do solo congelado, espalhando terra e rochas e criando a cratera.
“Queremos enfatizar que os estudos dessas crateras estão em um estágio muito inicial, e cada nova cratera leva a novas pesquisas e descobertas”, pontuou.
No caso da cratera Erkuta, o modelo dos cientistas sugeriu que ela se formou a partir de um lago seco que provavelmente tinha algo chamado talik sublacustre – uma zona de solos não congelados que começou a congelar gradualmente depois que o lago secou, aumentando o estresse que finalmente provocou uma explosão poderosa. Ou seja, um tipo de vulcão de gelo.
“O criovulcanismo, como alguns pesquisadores o chamam, é um processo muito pouco estudado e descrito na criosfera. Trata-se de uma explosão envolvendo rochas, gelo, água e gases que deixa para trás uma cratera. É uma ameaça potencial à atividade humana no Ártico, e precisamos estudar a fundo como os gases, especialmente o metano, se acumulam nas camadas superiores do permafrost e quais condições podem levar a situação a extremos”, observou Chuvilin. A criosfera se refere a porções da superfície da Terra onde a água está na forma sólida (ou seja, gelo).
“Essas emissões de metano também contribuem para o aumento das concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera, e a própria mudança climática pode ser um fator no aumento do criovulcanismo. Mas isso ainda é algo que precisa ser pesquisado”.
O cientista russo disse que sua equipe publicará em breve informações mais detalhadas sobre a mais nova cratera em um jornal científico – segundo ele, uma das maiores encontradas até agora.