Em apenas oito meses de 2020, as apreensões de cocaína nas rodovias mineiras quase triplicaram se comparado a todo o ano passado. De janeiro a agosto, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) recolheu 1.827 quilos do pó, contra 647 quilos nos 12 meses de 2019. Outras drogas não ficam para trás. Segundo a corporação, o aumento nos flagrantes de pessoas transportando diversos tipos de entorpecentes está sendo registrado em todo o Estado.
Neste ano, os agentes apreenderam 33 quilos de haxixe – 140% a mais em relação a 2019 – em veículos que trafegavam pelas estradas de Minas. Outro destaque é o skunk, conhecido como “supermaconha”: em uma única ação foram descobertos 72,3 quilos.
A quantidade de cocaína apreendida de janeiro a agosto de 2020 também é maior que a soma do que foi confiscado de 2016 a 2019, conforme os dados da PRF. Nos últimos quatro anos, no total, a corporação recolheu 1.152 quilos da droga
De acordo com a Polícia Federal (PF), que também investiga ocorrências registradas pela PRF, em relação à cocaína, em regra, as cargas confiscadas vêm da região de fronteira no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. “Quando se trata de maconha, costumam ter origem nos estados do Paraná e Mato Grosso do Sul”, informou a corporação, em nota.
O maior número de interceptações de entorpecentes vindos de outras unidades federativas deve-se ao aprimoramento do trabalho integrado e dos serviços táticos e de inteligência, afirma o inspetor Aristides Junior, da PRF.
“Esse processo vem ocorrendo em âmbito nacional. No treinamento do efetivo, pegou-se o conhecimento que antes ficava restrito às fronteiras, por exemplo, e disseminou-se para estados longe desses locais. Quando se qualifica, o trabalho fica mais eficiente”.
Apesar de não ter sido fator primordial para o aumento das apreensões em 2020, Aristides Junior disse que a pandemia contribuiu para os números expressivos. “A criminalidade pode ter achado que a polícia não ia continuar com as fiscalizações. E por causa do menor movimento nas rodovias, o policial passou a ficar menos tempo em ocorrências de acidentes”.
Ex-delegado federal e professor do curso de Direito das Faculdades Kennedy, José Roberto Lima diz que o momento atual levou mais pessoas para o crime. “Muitas se tornaram usuárias e outras passaram a transportar drogas por causa de desemprego”, diz. “Mas o serviço das delegacias de PRF está cada vez mais eficiente em inteligência e informações. Hoje se consegue mais êxito nas operações”.
Além disso
Por sua extensa malha rodoviária, que faz interligação com várias localidades brasileiras, Minas Gerais é conhecida por ser rota de pessoas transportando drogas por via terrestre.
Conforme o chefe do Departamento Estadual de Combate ao Narcotráfico (Denarc), da Polícia Civil, delegado Júlio Wilke, os entorpecentes com destino ao Estado vêm, de forma geral, de outros países. A exceção fica por conta dos tipos mais sofisticados, como maconhas especiais plantadas em estufas.
O ex-delegado federal José Roberto Lima diz que, além da droga que vem de outros países pelas fronteiras, hoje, no Brasil, se destaca o tráfico com plantação interna. “Principalmente no Nordeste, que é conhecido como ‘polígono da maconha’. O agreste pernambucano e paraibano, por exemplo, tem muitas lavouras dessa droga”, diz.