Visão microscópica da bactéria Brucella responsável pela brucelose, também conhecida como febre de Malta.
Foto: Universal Images Group Editorial
Milhares de pessoas no noroeste da China testaram positivo para uma doença bacteriana, como relataram autoridades na terça-feira (15), em um surto causado por um vazamento em uma empresa biofarmacêutica no ano passado.
A Comissão de Saúde de Lanzhou, capital da província de Gansu, confirmou que 3.245 pessoas contraíram brucelose, que costuma ser causada pelo contato com rebanhos portadores de bactérias do gênero Brucella.
Outras 1.401 pessoas foram testadas como preliminarmente positivas. Nenhum óbito foi registrado, de acordo com a autoridade de saúde. No total, as autoridades testaram 21.847 pessoas entre os 2,9 milhões de habitantes da cidade.
A doença, também conhecida como febre de Malta ou febre do Mediterrâneo, pode causar sintomas que incluem dores de cabeça, dores musculares, febre e fadiga. Tais sintomas podem diminuir, mas outros podem se tornar crônicos ou nunca desaparecer, como artrite ou inchaço em certos órgãos, de acordo com os Centros para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA.
De acordo com o CDC, a transmissão entre humanos é extremamente rara. Na realidade, a maioria das pessoas é infectada ao comer alimentos contaminados ou respirar a bactéria — o que parece ser o caso em Lanzhou.
O surto foi causado por um vazamento na fábrica de produtos farmacêuticos biológicos Zhongmu Lanzhou, que ocorreu entre o final de julho e agosto do ano passado, de acordo com a Comissão de Saúde da cidade. Enquanto produzia vacinas contra brucelose para uso animal, a fábrica usava desinfetantes vencidos — o que significa que nem todas as bactérias foram erradicadas no gás residual.
Contaminado, o gás residual formou aerossóis que continham a bactéria e vazou no ar, levado pelo vento até o Instituto de Pesquisa Veterinária de Lanzhou, onde a epidemia ocorreu pela primeira vez. Funcionários do instituto começaram a relatar infecções em novembro, e os casos avançaram rapidamente. Até o final de dezembro, pelo menos 181 pessoas do instituto haviam sido infectadas com brucelose, segundo informações chinesas da agência de notícias estatal Xinhua.
Outros pacientes infectados incluíram alunos e membros do corpo docente da Universidade de Lanzhou. A epidemia chegou a se espalhar para a província de Heilongjiang, no extremo nordeste do país: 13 casos positivos foram encontrados em agosto no instituto veterinário da região, como informou a Xinhua na época.
Nos meses após a epidemia, as autoridades provinciais e municipais lançaram uma investigação sobre o vazamento na fábrica, de acordo com o Comissão de Saúde de Lanzhou. Em janeiro, as autoridades revogaram as licenças de produção da vacina para a fábrica e retiraram os números de aprovação do produto para suas duas vacinas contra a brucelose.
Sete códigos de aprovação de medicamentos veterinários da empresa também foram cancelados.
Em fevereiro, a fábrica emitiu um pedido público de desculpas e disse que havia “punido severamente” oito pessoas que foram consideradas responsáveis pelo incidente. Ela acrescentou que cooperaria com as autoridades locais nos esforços de resposta e limpeza, e contribuiria para um programa de compensação para as pessoas afetadas.
A Comissão de Saúde de Lanzhou também anunciou em seu relatório desta semana que 11 hospitais públicos forneceriam exames gratuitos e regulares para os pacientes infectados. O relatório não deu detalhes adicionais sobre a compensação para os pacientes, exceto que seria lançado em parcelas a partir de outubro.
A brucelose era mais comum na China na década de 1980 e os casos diminuíram com o surgimento de vacinas e melhor prevenção e controle de doenças. Ainda assim, tem havido relatos da doença em todo o mundo nas últimas décadas. Um desses casos aconteceu na Bósnia em 2008, quando um surto infectou cerca de 1.000 pessoas, levando ao abate de ovelhas e outros animais infectados.
Nos EUA, a brucelose custou bilhões de dólares ao governo federal e à indústria pecuária. Cerca de 60% dos bisões fêmeas em Parque Nacional Yellowstone carregam a bactéria, de acordo com as autoridades do parque nacional.