Milhares de pessoas saíram às ruas para protestar nesta quarta-feira (23) na cidade americana de Louisville, depois que a Justiça se limitou a acusar, de forma indireta, apenas um dos policiais envolvidos no tiroteio que causou a morte da enfermeira Breonna Taylor, cujo nome se tornou um dos símbolos do movimento contra o racismo. Um policial foi baleado durante a manifestação.
Brett Hankison, um dos três agentes envolvidos no tiroteio, foi acusado de por em risco a vida de três vizinhos da vítima. Mas nem Hankison, nem os outros dois policiais que efetuaram os disparos que mataram Breonna foram acusados pelo homicídio da enfermeira, uma mulher negra de 26 anos.
Milhares de manifestantes foram às ruas em Louisville, principal cidade de Kentucky, após o anúncio da decisão, para denunciar os abusos policiais contra a minoria negra. Um dispositivo policial foi mobilizado na localidade, de 600 mil habitantes, e houve várias prisões à tarde.
Segundo a imprensa local, Hankison apresentou-se em uma prisão da região e, em seguida, foi colocado em liberdade, após o pagamento de uma fiança de US$ 15 mil, quantia bem menor do que em casos semelhantes. Demitido pela polícia de Louisville em junho, ele pode ser condenado a até 15 anos de prisão.
O namorado de Breonna garantiu que confundiu os policiais com ladrões, mas os policiais afirmaram ter anunciado sua presença antes de entrar, uma versão confirmada por uma testemunha, de acordo com o promotor Cameron.
A investigação não determinou qual dos policiais matou a mulher. “Segundo a lei de Kentucky, o uso da força por Mattingly e Costgrove foi justificado, porque eles se protegeram”, assinalou o promotor.
Toque de recolher
“Irmã, o sistema para o qual você trabalhava tão arduamente te abandonou”, reagiu no Instagram Juniyah Palmer, irmã da vítima. O advogado da família Taylor, Ben Crump, expressou em comunicado sua indignação: “Isso constitui um novo exemplo de ausência de responsabilidade pelo genocídio dos negros cometido por policiais. É irônico e típico que a única acusação neste caso seja por tiros disparados no apartamento de um vizinho branco.”
A morte de Breonna não despertou muita atenção da imprensa no momento dos fatos, mas o caso ganhou notoriedade após as manifestações em massa contra o racismo que se espalharam pelo país após a morte de George Floyd.
“Sei que a decisão anunciada hoje não irá contentar a todos”, reconheceu o promotor Cameron, que confessou ter tido “uma conversa difícil” com a família Taylor. “Entendo perfeitamente o sofrimento causado pela perda trágica da senhora Taylor. Entendo como promotor e como negro.”
Cameron pediu àqueles que forem às ruas para “lembrarem que marchas pacíficas” são seu “direito como cidadãos americanos”, mas que “violência e destruição”, não. “Buscar justiça com violência não rende justiça, e sim, vingança”, declarou.
O caso de Taylor foi especialmente lembrado durante a onda de protestos contra a violência policial e o racismo que abalou os Estados Unidos depois da morte de George Floyd em 25 de maio – um americano negro que morreu asfixiado por um policial branco em Minneapolis.
“Escandaloso”
O advogado da família Taylor, Ben Crup, expressou sua indignação pelas acusações, destacando que elas se devem ao fato de as balas terem chegado a outros apartamentos, mas não estão relacionadas com a morte de Taylor. “Isso é escandaloso e ofensivo!”, disse no Twitter.
Esta decisão é “uma negação grosseira de justiça”, comentou a Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor (NAACP). A influente organização de direitos civis ACLU denunciou, por sua vez, “forças da segurança e uma justiça criminal podres por dentro”.
Na semana passada, a família da vítima chegou a um acordo civil com a cidade de Louisville para receber uma indenização de US$ 12 milhões.
- ESTADOS UNIDOS
* FONTE: G1