O médico veterinário e virologista da Universidade de São Paulo (USP) Paulo Brandão afirmou, nesta segunda-feira (28), que é possível treinar cachorros para que identifiquem pessoas contaminadas com o novo coronavírus.
A afirmação foi feita após a notícia de que um aeroporto na Finlândia está contando com a ajuda de cães para ajudar a reconhecer passageiros que estariam com a doença.
“O olfato dos cães foi primordial para que se tornassem exímios caçadores, então para um animal ser um bom caçador, ele tem que ter um bom olfato, pelo menos”, afirmou o especialista.
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De acordo com Brandão, os animais não sentem cheiro do vírus, mas reconhecem as nuances da variação fisiológica causada por ele no organismo dos infectados.
Ou seja, os hormônios e o suor, por exemplo, ficam diferentes. “O cachorro consegue detectar sutilezas mínimas nesse odor. Se ele for treinado a detectar uma pessoa doente com essas alterações – que podem vir de gripe, novo coronavírus, resfriado etc –, ele vai apontar quem está doente”, acrescentou.
O veterinário ainda destacou que a detecção não significa um diagnóstico preciso. “Uma pessoa com o novo coronavírus ou alguma outra doença vai ter um odor diferente, mas [vale ressaltar] que isso não quer dizer que se ela for detectada [pelo cão] ela tem Covid-19”, explicou.
Para ele, comprovar cientificamente essa habilidade de reconhecer o novo coronavírus é algo “pouco improvável” devido as especificidades da doença – que, muitas vezes, nem causa sintomas nos contaminados.
“O grande problema da Covid-19 são as pessoas assintomáticas, que são a maioria dos casos, e essas passariam desapercebidas – seja por cães ou por termômetro. E esse é um problema central da triagem em aeroportos”, concluiu.
Caso da Finlândia
Voltado principalmente para passageiros que chegam do exterior, o serviço é voluntário e visa detectar a Covid-19 de forma mais “rápida e eficiente”.
De acordo com testes preliminares conduzidos por um grupo de pesquisa da Faculdade de Veterinária da Universidade de Helsinque, “nossos cães são capazes de cheirar o vírus com quase 100% de acerto. Eles também podem identificar o vírus dias antes do início dos sintomas. Isso é algo que os testes de laboratório não conseguem fazer”.
A instituição informa que eles são capazes de identificar o coronavírus a partir de uma amostra muito menor do que os testes de PCR usados por profissionais de saúde. A diferença é enorme, já que um cão só precisa de 10 a 100 moléculas para identificar o vírus, enquanto o equipamento de teste requer 18 milhões.
No entanto, a participação dos cachorros não inclui contato direto com o indivíduo testado. O cão executa seu trabalho em uma cabine separada. Aqueles que fazem o teste limpam a pele com um pano de teste e colocam em um copo, que é dado ao cão.
“Isso também protege o dono do cão contra infecções (…) Todos os testes são processados anonimamente”, afirmou o aeroporto.