O primeiro confronto entre o presidente Donald Trump e seu oponente democrata, Joe Biden, nesta terça-feira (29) à noite, é também considerado o mais importante e o que pode alterar o rumo desta atribulada e atípica campanha eleitoral. Os dois candidatos chegam ao debate de 90 minutos em Cleveland com sangue nos olhos. É a chance de o atual presidente reverter o mau desempenho nas pesquisas e a do ex-vice de Obama de afastar a tendência à apatia ou às costumeiras gafes.
Embora a votação já esteja em curso e mais de 900 mil americanos tenham depositado suas cédulas nas urnas ou em caixas de correio, o número representa apenas 0,7% do comparecimento registrado no pleito de 2016.
Isso equivale também a não desperdiçar a chance de conquistar os indecisos nos principais campos de batalha — os estados que poderão definir o vencedor. Até o próximo debate, no dia 15, espera-se que a cifra de votantes tenha aumentado consideravelmente. Então, este é o momento.
O formato do primeiro embate prevê dois púlpitos e distanciamento social entre o republicano e o democrata, moderados pelo âncora Chris Wallace, da Fox News. Seis temas — histórico dos candidatos, Suprema Corte, Covid-19, economia, violência racial e integridade da eleição — vão pautar o confronto.
Como showman, Trump está habituado ao palco. Tanto que desprezou simulações para o debate desta terça-feira. Mas os acontecimentos do fim de semana o distraíram — menos pela indicação da juíza Amy Coney Barrett à Suprema Corte, aproveitando-se da oportuna brecha antes das eleições, e mais pela divulgação de uma reportagem do “New York Times” sobre o histórico de evasão fiscal nas suas declarações de imposto de renda.
O presidente entra em desvantagem pela condução da pandemia do novo coronavírus, que matou 204 mil americanos e não está ultrapassada como ele tenta fazer crer. Mas já deixou claro, pelos últimos comícios e entrevistas, que baterá forte em Biden, tentando desqualificá-lo como líder e pintando-o como fraco ou ligado à extrema esquerda.
É a tática do presidente para desviar o foco das crises de seu governo, insistindo que o ex-vice-presidente, a quem só se refere como Joe Sonolento, faça um exame antidoping antes e depois do debate, para comprovar que não está sob efeito de medicamentos.
É desta imagem que Biden, apático em alguns debates durante a temporada das primárias, deve fugir, com o presidente no seu encalço. Se pretende sair vitorioso esta noite, o candidato democrata deve optar por outra variante, também presente nesta campanha — a de líder vigoroso e capaz de unificar o país.