O avanço da flexibilização e a queda do número de casos e mortes por Covid-19 em Minas Gerais e no Brasil podem transmitir a sensação de que a pandemia está no fim e que é possível voltar a ter uma vida normal. Mas basta olhar os números para ver que a realidade é outra: apesar da redução registrada nas últimas semanas, a média de mortes diária no país ainda é superior a 430.
Especialistas alertam que a banalização dos cuidados preventivos contra o coronavírus pode levar a um aumento de internações e óbitos ainda dentro da primeira onda, sem data para acabar no Brasil. A possível ocorrência de uma segunda onda, como a que está levando vários países da Europa a fechar novamente, também preocupa.
Dentro do Brasil, já é possível verificar o aumento de casos de Covid-19 em alguns Estados, como o Amazonas. Na capital Manaus, a alta de casos nas últimas duas semanas foi de 55%, e a ocupação de leitos clínicos destinados à doença na rede estadual cresceu 51% em 14 dias.
Em Minas Gerais, a tendência é de queda, mas os números ainda são elevados. No primeiro dia deste mês, o Estado contabilizava 7.436 óbitos por Covid-19, número que ontem chegou a 8.962, segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG). Foram 1.526 mortes no período, uma média de 50 por dia. No Brasil, os óbitos já ultrapassam 159 mil. Somente em outubro, foram cerca de 15 mil.
“A gente observa diferentes formatos da pandemia. Na Itália, França e Espanha, houve momentos pandêmicos em que um grande número de pessoas adoeceu e morreu e, depois, uma queda vertiginosa do número de casos e mortes. No Brasil, não foi assim. Nós tivemos uma subida rápida no número de casos e mortes, que depois se estacionou em um platô. Os números estão diminuindo, mas 400 pessoas morrendo em um dia é uma coisa absurda”, afirma o médico infectologista e professor titular da Faculdade de Medicina da UFMG, Geraldo Cunha Cury.
Segundo ele, o vírus continua agindo e, apesar da flexibilização, a recomendação é ficar em casa. “As medidas que existem para prevenir são as que já estão colocadas: o uso de máscara, manter dois metros de distância das pessoas com as quais nós estamos conversando, lavar sempre as mãos com água e sabão e ficar em casa, só sair em caso de necessidade”, reforça.
Em Belo Horizonte, um sinal do relaxamento é a redução da taxa de isolamento social. De 26 de abril a 2 de maio, o índice era de 42,02% e, entre 18 e 24 de outubro, estava em 36,30%, segundo dados do painel de monitoramento da SES-MG.
Segundo o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia e membro do comitê de enfrentamento da pandemia da Prefeitura de Belo Horizonte, Estevão Urbano, se os cuidados não forem mantidos, os números de casos, internações e mortes vão aumentar, ainda dentro da primeira onda. “Com a flexibilização e o tempo de pandemia, que gera um certo esgotamento, as pessoas estão relaxando, mas o vírus continua circulando. Ele adora essa situação em que as pessoas baixam a guarda, porque encontra ali um terreno fácil para a multiplicação e transmissão”, diz.
Urbano lembra que, por mais que a ocupação de leitos esteja controlada, o risco individual não diminuiu. “Não adianta o hospital estar mais vazio se você estiver lá dentro, internado. É uma roleta russa, não se sabe quem vai evoluir bem e quem vai evoluir mal. O tratamento continua muito frágil, e as pessoas continuam tendo casos graves”, pontua o especialista. Em Belo Horizonte, os leitos de UTI exclusivos para Covid-19 estão com taxa de ocupação de 30,2%, e os de enfermaria, de 28,2%, segundo o boletim epidemiológico divulgado anteontem pela prefeitura.
O infectologista e diretor científico do Hospital Felício Rocho, Adelino Freire Júnior, ressalta que é preciso manter a guarda alta até que haja uma solução definitiva, no caso, uma vacina eficaz e segura contra a Covid-19. “Não há como deixar de ter esses cuidados. Os dados de taxa de movimentação de pessoas mostram que nós não tivemos uma quarentena semelhante a da Europa, não tivemos medidas implementadas com o mesmo rigor, então como a epidemia vai se comportar neste cenário é uma incógnita”, afirma.
Estado mantém estrutura para o caso de aumento da incidência da Covid-19
O governo de Minas Gerais está mantendo a estrutura criada e ampliada ao longo da pandemia para estar preparado caso o número de infecções e mortes por Covid-19 voltem a subir no Estado. Atualmente, são mais de 3.900 leitos de UTI no SUS, ante 2.072 antes da pandemia, e mais de 21 mil de enfermaria. Em fevereiro, eram 11.625.
“O Estado teve uma estrutura para conseguir atender todos os casos, sem maiores transtornos e indisponibilidade de atendimento e leitos. Temos equipes que estão o tempo inteiro monitorando a ocorrência de casos em todas as macrorregiões para termos um controle maior, e essa estrutura vai permanecer ao longo do tempo para a gente possa se antever a uma segunda onda”, afirma a coordenadora da Sala de Situação e do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde do Estado de Minas Gerais, Eva Lídia Arcoverde Medeiros.
Ela diz que a colaboração da população é fundamental para que a flexibilização possa ser mantida, mas, se necessário, o Minas Consciente pode determinar o retrocesso da reabertura. Atualmente, cerca de 80% do Estado, o que representa 11 das 14 macrorregiões de Saúde, estão incluídos na onda verde, a mais avançada do plano.
Segundo Eva, a orientação do Estado é que, em caso de sintomas respiratórios, as pessoas procurem imediatamente o serviço de saúde ou realizem uma teleconsulta por meio do aplicativo Saúde Digital MG para a adoção dos cuidados necessários e a realização de teste de detecção do coronavírus. “Em Minas, a gente preconiza a realização dos testes para todos os casos suspeitos de Covid-19”, diz.
Em Belo Horizonte, a Secretaria Municipal de Saúde informou que, considerando a continuidade da pandemia, o sistema de saúde da capital “continuará recebendo demanda excepcional nos próximos meses para atendimento de casos da Covid-19”, e é “imprescindível a soma de esforços para que a capacidade estrutural seja a melhor possível para o atendimento aos cidadãos”. A rede SUS-BH tem, atualmente, 1.079 leitos de UTI e 4.666 leitos de enfermaria disponíveis à população.
1 comentário
Q nada em Itabira não tem covid19 não, vida noturna mais quente doq nunca. Q morram,bom pra esvaziar o planeta.