Um homem de 35 anos ficou ferido após ser agredido por policiais militares, nessa sexta-feira (20), na rua Curitiba, no centro de Belo Horizonte, após a compra de acessórios para um celular. Conforme consta no boletim de ocorrência da Polícia Militar, comerciantes da área afirmam que os agentes trabalham como seguranças, o que não é permitido pela corporação.
À polícia, a vítima contou que tinha comprado um celular e resolveu ir até uma loja para adquirir uma capinha. O homem estava na companhia de um amigo, de 22 anos. No estabelecimento, ele comprou também uma película, sendo o total da compra de R$ 93. Ao perceber que não tinha notas, ele saiu da loja para sacar o dinheiro e, ao retornar, encontrou o segurança ordenando que o amigo saísse da porta da loja. O homem entrou no estabelecimento, pagou e, ao sair, falou com a vendedora que a loja deveria melhorar o atendimento.
Nesse momento, ele alega que recebeu tapas no rosto, revidou e correu. Já na porta, ele teria sido chutado e recebeu uma rasteira do segurança de outra loja, sendo que as agressões não pararam. A vítima ainda afirmou ter visto uma arma cair no chão. Durante a confusão, o cliente viu a chegada de duas viaturas da Rotam e os militares conversando com outras pessoas. Ainda conforme relato dele, “os militares se mostravam muito coniventes com os seguranças não dando atenção à vitima que estava machucada”. Ele precisou ser encaminhado a um hospital particular com vários ferimentos pelo corpo.
Já o amigo contou a mesma versão e acrescentou que o segurança da loja de celulares teria dito: “saiam da loja porque vocês são ladrões”, sendo necessário que a funcionária dissesse que eram clientes. Ao falar que entraria em contato pelo telefone 190, um dos seguranças teria ficado exaltado afirmando que era “policial”. O jovem também afirma ter visto uma arma no chão. Ele não ficou ferido.
Versão do soldado
Um dos policiais, que, supostamente, seria o segundo segurança, foi localizado e preso por lesão corporal. Conforme registro policial, ele, que um soldado lotado na Rotam, contou que foi até uma drogaria da rua Curitiba para comprar um medicamento. Quando seguia para o carro, o militar teria ouvido “pega ladrão”.
O agente disse que viu uma pessoa no chão e, para tentar contê-la, deu um chute. O militar afirmou que sentiu dores após o chute e precisou ser encaminhado ao Hospital de Pronto Socorro João XXIII. Apesar da versão dele, comerciantes afirmaram à polícia que dois militares trabalham, sim, como seguranças em lojas de acessórios.
O primeiro segurança, da loja de celulares, foi identificado por fotos, mas não foi encontrado.
Posicionamento PM
Por meio de nota, a Polícia Militar informou que a corregedoria da corporação acompanha o caso. Veja o posicionamento na íntegra:
“A Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) esclarece que, no final da tarde de sexta-feira (20.11), foi acionada para atender uma ocorrência de vias de fato/agressão no interior de um shopping popular, localizado no centro de Belo Horizonte, surgida após um desacordo comercial, e que envolveu quatro pessoas. Ao chegarem ao local, os militares foram informados que dois envolvidos haviam sido encaminhados ao hospital, sendo um para o Socor e o outro para o João XXIII, e que outro havia saído do shopping popular, sem ser identificado. O quarto indivíduo permaneceu no local, onde narrou sua versão aos militares.
Segundo informações preliminares apuradas no local, durante uma compra numa loja deste shopping, um indivíduo saiu para sacar o dinheiro para pagar os produtos e um outro indivíduo, que o acompanhava, permaneceu à frente da loja, momento em que foi abordado por um dos seguranças, em razão de uma suspeição inicial. A abordagem gerou uma discussão entre as partes. Ao retornar ao local após sacar o dinheiro, o outro indivíduo também se envolveu na discussão com o segurança, o que culminou em vias de fato e lesões mútuas.
A PMMG esclarece que o segurança, identificado como policial militar, foi conduzido pela guarnição PM pelo crime de lesão corporal, permanecendo no Hospital João XXIII, sob escolta, por necessidade de continuar tratamento médico. A corporação esclarece ainda que o individuo que saiu do local foi identificado por meio de fotos e, em princípio, seria um policial militar, que também atuava no local como segurança.
A Polícia Militar de Minas Gerais ressalta que todo o desenrolar da ocorrência foi acompanhado pela Corregedoria da instituição que já apura, para as providências cabíveis, tanto o envolvimento dos militares em segunda atividade, quanto a postura diante dos fatos”.