Por O Tempo
Os mais de 90 mil eleitores de Itabira, na região central de Minas Gerais, seguem apreensivos sobre o futuro da próxima gestão do município. Se nas urnas, o jornalista Marco Antônio Lage (PSB) venceu o atual prefeito, Ronaldo Magalhães (PTB), por 50,59% a 43,44% dos votos válidos, a decisão final ficou para o judiciário. Com a candidatura impugnada em primeira instância, Lage aguarda julgamento de recurso em segunda instância nesta quarta-feira (25).
Marco Antônio teve sua candidatura indeferida depois que Justiça Eleitoral aceitou um pedido de impugnação movido pelo Partido Social Cristão (PSC). A ação afirma que o candidato não respeitou os prazos estabelecidos por lei para se desvincular de cargos que ocupava na Cemig e no Instituto Minas Pela Paz (IMPP). Segundo o processo, o jornalista ocupava um cargo de diretor na companhia, o que lhe exigiria desvinculação em período de no mínimo seis meses e quanto ao IMPP, o candidato teria deixado o cargo de diretor um dia depois do prazo estipulado.
A defesa de Marco Antônio, no entanto, recebeu parecer favorável do Ministério Público Estadual que pede a anulação do processo de impugnação. Segundo a Procuradoria Regional Eleitoral, de acordo com a lei, o cargo que era ocupado por Lage na Cemig exigia uma desvinculação feita em um período de três meses anteriores ao registro de candidatura, o que foi respeitado.
“Quanto à função de consultor técnico especializado III desempenhada na Cemig, afirmam os recorrentes que, de acordo com informado pela referida sociedade de economia mista, o candidato desempenhava tão somente atribuições consultivas e típicas de assessoramento ao diretor-presidente, as quais se enquadram no prazo de três meses de desincompatibilização”, aponta o parecer do MP Eleitoral.
No caso do IMPP, a procuradoria ressalta que a instituição, por mais que seja de interesse público, não atribuía ao candidato poder de interferência no processo eleitoral de Itabira, bem como a atuação da entidade não possui vínculo com o município.
“A desincompatibilização do candidato recorrente deu-se em 05/06/2020 e portanto, somente um dia após o prazo legal exigido, não havendo como se afirmar que o candidato tenha se valido do cargo ou da Administração Pública em proveito de
sua candidatura”, concluiu o procurador em sua decisão.
Caso a Justiça não aceite o recurso movido pelo candidato e mantenha a impugnação, os 33.141 votos que ele recebeu, bem como os sufrágios recebidos por outros candidatos serão anulados e haverá uma nova eleição, conforme a legislação eleitoral.
Procurado pela reportagem, Marco Antônio disse estar apreensivo com o resultado, mas que confia na justiça e na anulação da sentença.
“Todas as análises que fizemos foi de que agimos de forma correta e dois pareceres do Ministério Público são favoráveis a nós, sendo um do MP municipal e outro estadual. Então nossa expectativa é que tecnicamente o julgamento seja justo e favorável a nós”, acredita.
“Não sou político profissional e venho de uma conduta ilibada de comportamento absolutamente correto com tudo que me propus fazer na vida, quer dizer, não cometeria um erro primário que colocaria em risco a vontade de 51% do eleitorado que me deu a eleição. Desde o início eu analisei todos os aspectos para não cometer nenhum tipo de erro, porque eu sabia que qualquer erro burocrático poderia sacrificar minha campanha e a vontade popular”, destacou Marco Antônio Lage.
Tendo ficado com o segundo lugar no pleito, o atual prefeito, Ronaldo Magalhães, também foi procurado pela reportagem de O TEMPO para comentar o imbróglio no processo eleitoral itabirano. No entanto, ele afirmou por meio de seu corpo jurídico que pelo processo não ter sido movido por nenhum partido de sua base e por estar ainda em andamento na Justiça, ele prefere se pronunciar a respeito após a decisão final.
Procurado, o presidente municipal do PSC, Dalton Albuquerque, informou que a legenda só irá se pronunciar após resultado do julgamento desta quarta-feira.
Perfil técnico e da iniciativa privada
O jornalista e empreendedor Marco Antônio Lage fez sua estreia nas urnas nestas eleições concorrendo ao cargo de prefeito da sua terra Natal, Itabira. Na disputa, ele enfrentou cinco candidatos e conquistou 33.141 votos, representando 50,59% dos válidos. Mesmo sua vitória eleitoral estando embargada judicialmente, o empresário classifica o resultado da eleição como o “desejo da população de se romper com a continuidade política em Itabira”
“A cidade hoje vive quatro medos. O medo das barragens, o medo da exaustão mineral, o medo da Covid-19 e o medo da continuidade desse grupo político que está há 20 anos no poder e que não promoveu um projeto que a cidade anseia por ele”, afirmou Lage.
Oriundo da iniciativa privada, Lage iniciou na Fiat Automóveis em 1992 como assessor de imprensa e chegou à diretoria de Comunicação e Sustentabilidade para a América Latina, cargo que exerceu por duas décadas antes de assumir a Comunicação, a Sustentabilidade e as Relações Institucionais da Cemig nos últimos anos.
“Sou um filho da terra (Itabira) que fez carreira vitoriosa na iniciativa privada e volta para terra para assumir o papel para levar essa transformação na gestão pública no momento que a cidade mais precisa”, destaca.
O jornalista elencou alguns pilares que quer aplicar durante sua gestão, mas destacou a diversificação econômica para além da atividade mineradora como uma das prioridades.
“Venho estudando isso há algum tempo para contribuir para a cidade. Um nome fora da política, da iniciativa privada, um itabirano e que possa estruturar esse projeto com essa agenda técnica e desenvolver um plano de metas para que a Vale, governo e iniciativas privadas possam participar”, afirmou.