Por G1 Mundo
Os dias de Trump à frente da Casa Branca se aproximam do fim e um silêncio assustador toma conta do local, ao mesmo tempo em que o presidente tenta desafiar o resultado da eleição nos tribunais.
Brian Morgenstern, o vice-diretor de comunicações, usava uma jaqueta com o emblema da Casa Branca em seu escritório na Ala Oeste. A jaqueta estava totalmente fechada, como se ele estivesse saindo. A sala, a algumas portas do Salão Oval, estava escura, com as cortinas fechadas.
O chefe dele, o presidente, estava em outra parte da Casa Branca. Naquele momento, Donald Trump estava no viva-voz com Rudy Giuliani, o chefe de seu esforço legal para contestar a eleição, e um grupo de legisladores estaduais que se reuniram para uma “audiência”, como eles definiram, em um hotel em Gettysburg, na Pensilvânia.
“Esta eleição foi fraudada e não podemos permitir que isso aconteça”, disse o presidente por telefone.
Morgenstern estava monitorando o evento pela tela do computador, distraído. Um momento depois, ele girou em sua cadeira e falou com um visitante sobre faculdade, imóveis, beisebol e, quase como uma reflexão tardia, as realizações do presidente.
O esforço de Trump para contestar os resultados da eleição na Pensilvânia fracassou na semana passada, não muito tempo depois da chamada audiência, e mesmo isso teve uma base legal duvidosa. Um juiz do Tribunal de Apelações disse que “não havia base” para contestação. Uma certificação das cédulas mostrou que o presidente eleito Joe Biden venceu o Estado por mais de 80 mil votos.
Os resultados das eleições em Michigan, Wisconsin, Nevada, Geórgia e Arizona foram certificados e Biden foi confirmado como o vencedor em todos os cinco.
Funcionários do governo começaram a trabalhar para uma transição para a nova administração, e o novo presidente assume em 20 de janeiro.
Trump continua a reivindicar vitória. Ainda assim, nos bastidores da Casa Branca, as pessoas veem as coisas como elas são. Eles sabem que seus dias na Ala Oeste estão contados. E também sabem que, quando o chefe está perdendo, é melhor ficar longe dele.
“Estamos otimistas. Ainda estamos trabalhando duro”, diz Morgenstern.
Ele era, no entanto, o único em um labirinto de escritórios da Ala Oeste. Ele segurava uma máscara de pano nas mãos e brincava com os cordões da máscara. O único som era o zumbido baixo de uma TV em outra sala.
Normalmente, esses escritórios estão cheios de pessoas, com assistentes trabalhando todas as horas. Mas agora não.
Jack O’Donnell, que já administrou um cassino em New Jersey para Trump, diz que entende por que as pessoas que trabalham para o presidente iriam embora em um momento como este.
“Você está pisando em cascas de ovo. Ninguém quer dizer a coisa errada.”
Certa vez, lembra O’Donnell, Trump estava caminhando por uma sala de teto baixo em um prédio que estava em reforma. “Houve alguns problemas”, diz O’Donnell. Ele estava se referindo a problemas com a reforma, erros que Trump logo percebeu.
“Ele deu um pulo no ar e atingiu o teto”, diz O’Donnell. “Ninguém quer ficar perto dele quando ele está bravo.”
A raiva do presidente, sua ambição e determinação são lendárias. Ele teve sucesso em parte ao abraçar aforismos positivos e negar o fracasso, um estilo de liderança que foi estabelecido no início de sua carreira e que ultimamente anda exagerado.
Ele apareceu na sala de reuniões da Ala Oeste na semana passada para se gabar do mercado de ações. O Dow Jones havia fechado acima de 30 mil pontos, um nível recorde. O presidente, diz Morgenstern, estava “comemorando o sucesso do mercado que certamente se deveu em parte às suas políticas”, como “melhorar os negócios” e “independência energética”.
Investidores disseram que as ações subiram porque a transição para um governo Biden foi oficialmente anunciada. Mas para Trump, a vitória pertencia a ele.
Suas reivindicações de vitória e sua recusa em admitir a derrota não têm impacto no resultado: a transição para a Casa Branca de Biden está em andamento.
No entanto, a postura do presidente é importante, já que milhões de pessoas o admiram. Essas pessoas o seguirão assim que ele deixar a Casa Branca, seja concorrendo novamente a um cargo, como muitos esperam, ou construindo um império de mídia. No dia em que Trump falou com parlamentares em Gettysburg, os apoiadores se reuniram em frente ao hotel com cartazes: “Parem a fraude eleitoral”.
No livro Trump: The Greatest Show on Earth: The Deals, the Downfall, the Reinvention (Trump: O maior espetáculo da Terra: os Negócios, a Queda, a Reinvenção, em tradução livre), do jornalista Wayne Barrett, pessoas que conhecem Trump disseram que ele encarava o caso do ex-presidente Jimmy Carter, derrotado em 1980 após apenas um mandato, como um sinal de alerta.
“A velocidade com a qual você dispara para cima é a velocidade com a qual você pode despencar”, teria dito ele, de acordo com as fontes do livro, acrescentando que Carter caiu na obscuridade depois de deixar a Casa Branca e se tornou tão anônimo quanto “um caixeiro viajante”.
Para evitar o fracasso, Trump nega a realidade, dizem aqueles que o conhecem. Ele fez vários pedidos de falências como empresário, mas agiu como se fosse parte de um plano. “Ele dizia: ‘fiz isso intencionalmente'”, lembra Jack O’Donnell, que trabalhava para ele, acrescentando: “É um absurdo”.
“Em sua mente, ele não perdeu”, disse O’Donnell, descrevendo a eleição. “Ele nunca vai ceder. Sempre dirá: ‘foi tirado de mim.'”
Trump agora está lutando pelo controle republicano do Senado e planeja ir à Geórgia no sábado, onde haverá nova eleição, para apoiar os candidatos.
Enquanto isso, do lado de fora do escritório de Morgenstern, uma das mesas vazias é decorada com um porta-copos: “O fracasso não é uma opção”.
O lema resume a filosofia de Trump e sua abordagem em relação à Presidência — pelo menos até ele sair.