Por G1 Mundo
Sem o reconhecimento da OEA e da União Europeia, as eleições deste domingo (6) na Venezuela servirão para o regime de Nicolás Maduro conquistar o último reduto dominado pela oposição — a Assembleia Nacional — e consolidar o controle sobre todos os poderes. Para isso, o Conselho Nacional Eleitoral, alinhado ao governo, aumentou em 110 o número de cadeiras (66% a mais do que no último pleito) e mudou a fórmula de representação populacional para a eleição de deputados.
As novas regras favorecem o Partido Socialista Unido da Venezuela, de Maduro, como o grande vencedor nas urnas. A votação é considerada uma farsa e não terá observadores internacionais. Diante das manobras do CNE, que interferiu nas lideranças dos quatro maiores partidos de oposição, 27 legendas decidiram boicotar a eleição e advogam pela abstenção ao voto.
O regime contorna a indiferença dos eleitores com intimidação. Foi o que fez Diosdado Cabello, número 2 do chavismo, esta semana num comício em Carabobo: “Quem não vota, não come”, advertiu. Para bom entendedor, a frase bastou. Ele associava a presença nas urnas às bolsas de alimentação, única solução de sobrevivência para os mais pobres.
O autoproclamado presidente interino do país, Juan Guaidó, deve perder o posto de deputado e pede que os venezuelanos fiquem em casa no domingo. E também que, em vez de votar, participem da consulta popular entre os dias 7 e 12, embora sem reconhecimento das autoridades eleitorais, para rejeitar o resultado das eleições.
Como observou o escritor Alberto Barrera Tyszka, em artigo publicado no “New York Times”, não haverá surpresas no domingo. O chavismo venceu a eleição antes mesmo de os eleitores começarem a votar. “As eleições representam novamente o uso dos procedimentos e dos rituais da democracia para incrementar o autoritarismo”, prevê.
A retomada do controle do Parlamento é o braço de poder que falta a Maduro, que se mostra indiferente ao fato de não ter o respaldo de grande parte da comunidade internacional. Exibe uma boa dose de sarcasmo, ao assegurar que deixará a Presidência da Venezuela caso a oposição vença as eleições para o Parlamento. Como se fosse viável.