*Por G1
O governo entregou nesta sexta-feira (11), ao Supremo Tribunal Federal (STF), o plano nacional de imunização contra a Covid-19, informação que foi divulgada neste sábado (12). O documento prevê a disponibilização de 108,3 milhões de doses para mais de 51 milhões de pessoas de grupos prioritários, divididos em quatro fases.
O documento, entretanto, não apresenta uma data para o início da vacinação dos integrantes desses grupos, que incluem profissionais de saúde e idosos, entre outros (veja as fases abaixo).
Uma nota técnica, que acompanha o plano encaminhado ao Supremo, diz que a previsão é vacinar esses grupos prioritários ao longo do primeiro semestre de 2021.
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Horas após o anúncio, pesquisadores que assessoraram o Ministério da Saúde e têm os nomes citados no documento emitiram nota conjunta afirmando não terem sido consultados antes de envio do plano de vacinação ao STF. O G1 procurou o Ministério da Saúde, mas não obteve retorno sobre a manifestação dos pesquisadores até a última atualização desta reportagem. Nota divulgada no site da pasta na noite deste sábado diz que o plano será apresentado e detalhado à população na próxima quinta-feira (17); e que o documento poderá sofrer modificações “durante o seu processo de implementação”.
O documento enviado ao STF, pela Advocacia-Geral da União, tem o título de “Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19”, assinado pelo Ministério da Saúde. O material tem a data do dia 10 de dezembro e foi anexado na noite desta sexta-feira (11) às ações que tramitam no STF sobre o tema (veja mais detalhes ao final esta reportagem).
O plano é dividido em 10 eixos, entre os quais vacinas, o orçamento para viabilizar a vacinação e comunicação. Apesar do documento, ainda não há vacina liberada pela Agência Nacional de Vigilância (Anvisa) no país.
Segundo o plano enviado ao STF, o Brasil “garantiu” 300 milhões de doses de vacinas por meio de três acordos:
- Fiocruz/Astrazeneca: 100,4 milhões de doses até julho e mais 30 milhões no segundo semestre;
- Covax Facility: 42,5 milhões de doses
- Pfizer: 70 milhões de doses (ainda em negociação)
Os dados informados, porém, resultam em 242,9 milhões de doses.
Os números incluem a negociação para adquirir a vacina da Pfizer, já utilizada no Reino Unido e que recebeu aprovação para uso emergencial da agência reguladora de medicamentos americana, a FDA.
A nota técnica que acompanha o plano apresenta outras informações. Segundo a nota, o Brasil tem, atualmente, acordos para aquisição de 142,9 milhões de doses:
- Fiocruz/AstraZeneca: 100,4 milhões
- Covax Facility: 42,5 milhões
Além disso, conforme a nota, a capacidade de produção, por meio de acordo bilateral de transferência de tecnologia com AstraZeneca/Oxford, por intermédio da Fiocruz, será de 160 milhões de doses, previstas para o segundo semestre de 2021.
“Somados os 142 milhões + 160 milhões, o Brasil poderá ofertar 300 milhões de doses na rede pública de saúde, além de outras que venham a ser aprovadas futuramente pela Anvisa”, diz a nota.
A Covax Facility é um programa global coordenado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para impulsionar o desenvolvimento e garantir a compra de vacinas contra a Covid-19. A coalizão envolve mais de 150 países.
Segundo o plano, a interrupção da circulação do vírus no Brasil depende de uma vacina “altamente eficaz” tomada por mais de 70% da população. Conforme o governo, enquanto não há ampla disponibilidade de vacinas no mundo, é preciso definir grupos prioritários a fim de “contribuir para a redução de morbidade e mortalidade” pela Covid-19.
O plano tem um quadro com a estimativa de quantas pessoas deverão ser vacinadas em cada grupo prioritário, a partir do cronograma e quantitativo de doses já acertado pelo governo da “vacina de Oxford”, produzida em parceria pela universidade britânica e a empresa AstraZeneca, que tem parceria no Brasil com a Fiocruz.
Grupos prioritários
O plano define grupos prioritários para a vacinação. Essa etapa é dividida em quatro fases. Somando as quatro fases dos grupos prioritários, o plano prevê 108,3 milhões de doses.
O Ministério da Saúde pondera no plano que os grupos são “preliminares” e passíveis de mudanças a depender das indicações da vacina após aprovação da Anvisa, bem como possíveis contraindicações.
Primeira fase:
- Trabalhadores de saúde: 5.886.718 pessoas
- Pessoas a partir de 80 anos: 4.266.553
- Pessoas de 75 a 79 anos de idade: 3.480.532
- Pessoas de 60 anos ou mais institucionalizadas: 198.249
- Indígenas: 410.348
- Número de doses estimadas (duas doses por pessoa) + 5% de perda: 29.909.040
Segunda fase:
- Pessoas de 70 a 74 anos: 5.174.382
- Pessoas de 65 a 69 anos: 7.081.676
- Pessoas de 60 a 64 anos: 9.091.902
- Número de doses estimadas (duas doses por pessoa) + 5% de perda: 44.830.716
Terceira fase:
- Pessoas com comorbidades: 12.661.921
- Número de doses estimadas (duas doses por pessoa) + 5% de perda: 26.590.034
Quarta fase:
- Professores, nível básico ao superior: 2.344.373
- Forças de segurança e salvamento: 850.496
- Funcionários do sistema prisional: 144.451
- Número de doses estimadas (duas doses por pessoa) + 5% de perda: 7.012.572
Logística
O eixo de logística do plano trata de recebimento, armazenamento, envio e distribuição de insumos para vacinação. Segundo o Ministério da Saúde, a logística é feita por uma empresa terceirizada.
O governo dispõe de um de complexo central em Guarulhos (SP), ao lado do aeroporto da cidade paulista. A estrutura ainda conta ainda com outras três sedes (Brasília, Recife e Rio de Janeiro).
O ministério informou que conta com uma frota de 150 veículos “refrigerados”. O plano cita a entrega de insumos por rodovia para: Santa Catarina, Espirito Santo, Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Federal, Rio Grande do Sul e Minas Gerais e demais estados em um raio de 1.400 km.
Também há previsão de envio por avião para pontos distribuição, de onde o material seguirá por rodovia. No Nordeste, Recife receberá o material levado por aviões.
No Norte, o governo tem acordos com as companhias aéreas Azul e Latam, além de companhias de aviões cargueiros particulares, com entregas em Manaus, de onde segue para Rio Branco, Porto Velho e Boa Vista. Também será enviado insumo por avião para Belém, seguindo até Macapá.
Treinamento
O plano informa que haverá treinamento para profissionais de saúde do SUS que atuarão nas campanhas de vacinação, em especial para quem trabalha na Atenção Primária em Saúde e nas mais de 38 mil salas de vacina do país. O curso será na modalidade de Educação a Distância (EaD).
CoronaVac
No plano, o Ministério da Saúde diz que governo disponibilizará crédito extraordinário, ou seja, dinheiro para “aquisição de toda e qualquer vacina que adquira registro de forma emergencial ou regular que apresente eficácia e segurança para a população brasileira”.
Em outro trecho, o material trata de “vacinas candidatas” que estão na terceira e última etapa de testes e que podem ser compradas pelo ministério. A lista tem 13 vacinas, entre as quais a CoronaVac, desenvolvida no Brasil em parceria pelo Instituto Butantan com a empresa chinesa Sinovac. A CoronaVac tem sido motivo de briga política entre o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e o presidente Jair Bolsonaro.
Em outubro, Ministério da Saúde afirmou que compraria doses da CoronaVac, mas a possível aquisição foi desautorizada pelo presidente Jair Bolsonaro.
Em novembro, Bolsonaro chegou a comemorar em uma rede social a suspensão de testes do imunizante, determinada pela Anvisa após a morte de um voluntário que cometeu suicídio. A agência reverteu a própria decisão e os estudos foram retomados dois dias depois.
João Doria já definiu o próximo dia 25 de janeiro como data de início da aplicação da CoronaVac em São Paulo.
Na última quinta-feira (10), um grupo de cientistas pediu ao Ministério da Saúde que incluísse a CoronaVac no plano de imunização. Os pesquisadores destacaram a necessidade de um grande número de doses para assegurar a cobertura vacinal no país.
Nesta sexta-feira (11), após reunião com o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), afirmou, em uma rede social, que o governo federal iria requisitar todas as vacinas disponíveis contra a Covid-19, possibilidade que seria prevista em uma medida provisória. O Ministério da Saúde negou a informação.
No mesmo dia, João Doria reagiu e disse que a suposta requisição representaria um “confisco”, por parte do governo, de imunizantes.
Comunicação
O governo planeja uma campanha de comunicação para incentivar a vacinação, com informações sobre o processo de produção e aprovação de uma vacina a fim de “dar segurança à população em relação a eficácia” das vacinas.
A campanha também tem objetivo de informar sobre públicos prioritários, dosagens e locais de vacinação. Por meio de redes sociais do Ministério da Saúde e de parceiros, o plano prevê “manter toda a população informada, respondendo as fakenews e mensagens”.
Ação no STF
A elaboração de um planejamento do governo para vacinação da população brasileira foi alvo de ações de partidos no STF. O caso começou a ser analisado em plenário virtual, mas foi retirado pelo presidente da Corte, ministro Luiz Fux.