Um jogo de futebol foi brutalmente interrompido por integrantes da Polícia Militar na tarde deste domingo (27), em um campo da Praça JK, no bairro Sion, região centro-sul de Belo Horizonte. Segundo testemunhas, no local acontecia a final de um campeonato de moradores da Vila Acaba Mundo, quando uma viatura chegou reclamando do uso de fogos de artifício.
Um morador do Acaba Mundo que presenciou a ação da PM contou que depois de resolvida a questão dos fogos de artifício, os militares abordaram dois jovens que estariam fumando maconha. Com os desdobramentos das discussões, outras quatro viaturas chegaram ao local.
A testemunha, que prefere não se identificar, relatou que após fazer uma revista nos dois rapazes, nada foi encontrado, mas quando um deles falou com os militares, um policial ficou bastante alterado e começou a agredi-lo e o jogou dentro da viatura. A situação revoltou as pessoas que estavam no local, que se revoltaram com a brutalidade dos militares. Uma bomba de gás lacrimogêneo foi jogada contra o grupo que criticava a atitude da PM.
A situação causou um tumulto e um dos policiais disparou uma bala de borracha, que atingiu a barriga de um homem que tentava retirar uma criança da confusão. Ele ficou caído no chão, momento em que a PM não permitiu a aproximação de ninguém para socorrer o ferido. Após um longo impasse e com a situação já controlada, a PM colocou o ferido na viatura. Mas ao deixar o local os militares dispararam uma bala de borracha contra as pessoas e jogaram uma bomba de efeito moral.
A PM informou, por meio de nota, que os militares compareceram na praça JK por perturbação do sossego, queima de rojões de maneira temerária e de aglomeração de mais de 100 pessoas. No local eles presenciaram um indivíduo usando drogas, que ao ser abordado jogou o produto fora e negou-se a obedecer os militares, reagindo inclusive com ofensas e incitando que as pessoas presentes jogassem pedras e garrafas contra os policiais. O homem foi detido por desacato e desobediência, momento em que várias pessoas tentaram soltá-lo. O outro detido, ainda de acordo com a versão da PM, foi preso por dano, acusado de jogar uma pedra em uma das viaturas.
O líder comunitário Laerte Gonçalves mora na Vila Acaba Mundo e conta que a PM foi agressiva desde de que chegou. Ele explica que, antes mesmo da chegada da PM, uma moradora de um prédio que fica ao lado da praça foi até a rua, para pedir que parassem de soltar fogos de artifício e foi prontamente atendida. Quando os militares chegaram a situação já estava resolvida, mas os policiais resolveram dar uma geral em um dos espectadores da partida, que tem várias passagens pela polícia. “Quando os policiais viram que ele não estava com nenhuma droga, de fato ele deve ter falado algum desacato, mas isso não justifica a forma com que tentaram prender ele”, descreveu.
Laerte confirma que as pessoas do local jogaram pedras e garrafas contra as viaturas, mas que isso só aconteceu depois que militares dispararam vários tiros de bala de borracha e de bombas de gás lacrimogêneo, em um espaço onde estavam várias crianças e mulheres. Segundo ele, três outras pessoas que estavam na praça foram atingidas por balas de borracha, inclusive um motorista de ônibus, que foi atingido na cabeça. “Os jogos aqui acontecem há muitos anos, sempre de forma pacífica. É triste ver que a PM está trazendo a violência para dentro da comunidade, ao invés de vir aqui para pacificar ela’, lamentou.
Leia a nota da PM na integra:
MILITARES SÃO AGREDIDOS E VIATURA DEPREDADA DURANTE ATENDIMENTO DE OCORRÊNCIA NA PRAÇA JK/SION
Na tarde de hoje, após inúmeras solicitações da comunidade acerca de perturbação do sossego, de indivíduos suspeitos, de queima de rojões de maneira temerária e de aglomeração de mais de 100 pessoas na Praça JK (Sion), mesmo numa época de pandemia e descumprindo todas as medidas sanitárias, equipes da PMMG deslocaram-se até o local para averiguação de todo ocorrido. Chegando à Praça JK, os militares depararam com aglomeração de mais de 100 pessoas e um indivíduo fazendo uso de drogas no meio da praça.
No momento da abordagem, o autor jogou fora a droga e negou-se a cumprir a determinação dos policiais, inclusive ameaçando os militares. Mesmo após inúmeras determinações dos policiais, o autor negou-se a cumprir, inflamando as pessoas ali presentes a jogarem pedras, garrafas e outros materiais em direção aos policiais e viaturas.
Ato contínuo, diversos indivíduos tentaram arrebatar o autor, preso pelos crimes de desacato e desobediência, sendo necessário o uso diferenciado da força com instrumentos de menor potencial ofensivo para conter os agitadores.
Outro indivíduo, conduzido pelo crime de dano, arremessou pedra em uma das viaturas, quebrando o para-brisa.
O autor possui 17 passagens pela polícia, sendo 5 por violência doméstica.