A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) investiga denúncias de assédio e estupro contra o dono de uma loja de roupas de Belo Horizonte. Nos últimos dias, relatos de mulheres foram feitos nas redes sociais contra o suspeito, dono da Ana Modas, localizada no UAI Shopping. Por meio de nota, a PCMG afirmou que as vítimas que registraram ocorrência já estão sendo ouvidas. O suspeito nega e diz se tratar de denúncias “infundadas e caluniosas”.
A amiga de uma das vítimas relatou no Twitter os abusos sofridos por ela e, após o caso vir à tona, pelo menos outras quatro mulheres relataram terem sido vítimas do homem identificado por elas como Cleidson dos Santos Fernandes.
No último dia 26, a estudante Maria Eduarda Amaral fez um relato em seu perfil no Instagram reportando o assédio sofrido por uma amiga e, segundo ela, recebeu mais de 20 histórias parecidas após o post. Entre as vítimas, funcionárias, clientes e potenciais parceiras de divulgação da loja.
Uma ex-funcionária de 19 anos que preferiu não ser identificada relatou à reportagem que, quando trabalhou na loja, entre abril e junho de 2019 – ainda menor de idade – foi assediada recorrentemente pelo suspeito. “Várias vezes no fim do expediente quando as lojas do shopping já estavam fechadas e tinha pouco movimento, ele ia atrás de mim no segundo andar do shopping, onde é o banheiro, me prensava contra o box tentando me beijar, puxando meu cabelo, segurando meu rosto. Porém, ele fazia tudo isso como se fosse uma brincadeira”, diz.
Uma colega que trabalhava há anos na loja a orientou a “relaxar”, dizendo que ele fazia isso com todas no começo e que com o tempo iria se cansar e parar de “encher o saco”. Mas isso não aconteceu, pelo contrário, a situação se agravou, com Fernandes supostamente chegando a mostrar o órgão sexual para a então funcionária e pedindo que ela fizesse sexo oral nele. “Graças a Deus, sempre acontecia algo que impedia ele de continuar, chegava alguém ou algo do tipo. Senão hoje eu seria mais uma vítima de estupro e não só de assédio”, relata.
Sem entender direito a situação na época, ela não registrou ocorrência na polícia, mas pretende fazê-lo agora. “Na época eu tinha 17 anos e nunca tinha passado por uma situação de assédio, então eu não entendia a gravidade da situação como entendo hoje”, afirma a vítima.
A advogada de Fernandes, Renata Jaconi, emitiu nota dizendo que “a loja Ana Modas, bem como seu proprietário, repudiam veementemente as acusações infundadas e levianas, e ao final provarão a verdade dos fatos, sua inocência e idoneidade. A reportagem não conseguiu contato com o suspeito.
A nota da Polícia Civil reforça a importância de que as vítimas de assédio e estupro sempre procurem a Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher, na Avenida Barbacena, 288, Barro Preto, para que as providências cabíveis sejam adotadas o quanto antes.
A loja Ana Modas do Uai Shopping, no centro de Belo Horizonte, está fechada há alguns dias, segundo lojistas que trabalham no local.
Funcionário de loja vizinha à de Fernandes diz que “todo mundo já ouviu falar. Já teve caso de cliente fazendo escândalo dentro da loja, gritando que ia chamar a polícia para ele”.
Segundo o diretor jurídico do Grupo Uai, Bernard Martins, a administração do shopping nunca recebeu reclamações de clientes ou funcionárias sobre o lojista e só tomou ciência das denúncias de assédio por meio da imprensa. “Esperamos que tudo seja esclarecido. É uma loja bastante antiga, bem consolidada, uma das mais movimentadas do shopping. A grande maioria dos clientes é mulher, e nunca recebemos qualquer tipo de reclamação. É uma situação que nos surpreende”, disse.
A loja Ana Modas funciona shopping há pelo menos cinco anos e, apesar de estar atualmente fechada, não foi entregue. Conforme Martins, o suspeito ainda não procurou a administração para conversar sobre as denúncias. “Estamos dispostos a contribuir com as investigações”, finalizou o diretor jurídico.