Familiares de uma idosa de 91 anos que morreu na madrugada da última segunda-feira (11), após ficar internada no Hospital São Francisco de Assis, no bairro Concórdia, na região Nordeste de Belo Horizonte, levaram um susto ao saber no velório, que ela já tinha sido enterrada. E o pior: em outro cemitério, em uma cova destinada ao parente de outra família.
Nesta terça-feira (12), a família de Leonora de Jesus Celestina, aguardava a chegada do corpo dela no Cemitério da Saudade, no bairro Saudade, na região Leste. No entanto, o corpo não chegou. Foi quando eles foram comunicados que ela havia sido enterrada no Cemitério da Consolação, em Venda Nova, em uma cova coletiva.
“A gente ficou preocupado e ligou para a funerária. Foi quando eles disseram que havia tido um probleminha e não estavam localizando o corpo da minha avó e pediram pra gente ir no hospital novamente. No hospital falaram que o corpo dela tinha sumido. Quando depois nos foi informado que o corpo dela já tinha sido sepultado um dia antes, às 12h45”, afirmou o neto de Leonora, o microempreendedor Jaílson Rocha, 41.
Ele conta que, apesar da avó ter sido internada após uma parada cardíaca e exames terem comprovado que ela não estava com covid-19, ela foi internada em uma área destina a atendimento de pessoas com a doença. Por esse motivo, o hospital também não teria deixado que a família fizesse o reconhecimento do corpo.
Após o enterro de Leonora no Cemitério da Consolação, outras duas pessoas também foram enterradas na cova coletiva. Por esse motivo, para fazer a exumação do corpo, também seria necessária a autorização dessas duas outras famílias. A família só conseguiu a autorização nesta quarta-feira (13) e a exumação está marcada para às 15h30.
“É um descaso. O sentimento de tristeza. Ela deixou um filho de 66 anos, doente, com problemas de saúde e ele está arrasado. Ela deixou três filhos e vários netos”, afirma.
Duas famílias machucadas
A família descobriu que o corpo de Leonora de Jesus Celestina foi enterrado no lugar de Fernando Jesus Reis, 68. O filho dele, o vendedor Flaviano Rodrigues Reis, 41, tomou um susto quando descobriu que apesar de achar que tinha enterrado o pai na segunda-feira (11), no dia seguinte, dois dias a após a morte dele, o corpo ainda estava no hospital.
“Ontem (terça-feira) a noite a funerária me liga que fala que meu pai não foi enterrado e disse que ele estava no hospital ainda. Enterramos uma que não era meu pai. Fomos no hospital hoje (quarta-feira) e vi que era o meu pai mesmo”, explica o vendedor.
Flaviano afirma que a mãe dele, também idosa e debilitada, chegou a perguntar se o marido ainda estaria vivo, já que não teria sido enterrado no cemitério. “Quando eu falei com ela nem acreditou. Perguntou se meu pai tava vivo. Aí expliquei que na verdade eles trocaram os corpos. O problema é que agora estão jogando a culpa um no outro. O hospital fala que funerária é que foi culpada. Meu sentimento é de tristeza e revolta, porque só Deus mesmo”, lamenta.
Em nota, o Hospital São Francisco de Assis afirma que houve um equívoco por parte da funerária Emirtra, responsável pelo translado do corpo, na hora da retirada no hospital.
“Quando o paciente vai a óbito, é feita a identificação para o mesmo e essa identificação o acompanha em todas as etapas, seguindo todos os processos sistêmicos da Fundação. Todas as etapas são registradas e conferidas por meio de protocolos para garantir a segurança da informação. Neste caso específico, foi identificado que não houve a devida conferência por parte da Funerária o que, infelizmente, ocasionou na troca dos corpos”, disse na nota.
O hospital disse ainda que ao identificar o problema se reuniu com os familiares e que a funerária “assumiu a responsabilidade informando que adotará as ações necessárias para remediar o ocorrido, arcando com todas as despesas”.
A reportagem tentou contato com a funerária Emirtra e uma funcionária disse que caso a empresa tivesse um posicionamento sobre o assunto entraria em contato. O que não foi feito até o momento.
Veja a nota do Hospital São Francisco de Assis na íntegra:
Em relação a troca de corpos de pacientes com Covid-19 questionada no dia 12 de janeiro de 2021, terça-feira, a Fundação Hospitalar São Francisco de Assis (FHSFA) esclarece que realmente houve um equívoco por parte da Funerária Emirtra no recolhimento do corpo para deslocamento ao local do enterro.
Quando o paciente vai a óbito, é feita a identificação para o mesmo e essa identificação o acompanha em todas as etapas, seguindo todos os processos sistêmicos da Fundação. Todas as etapas são registradas e conferidas por meio de protocolos para garantir a segurança da informação. Neste caso específico, foi identificado que não houve a devida conferência por parte da Funerária o que, infelizmente, ocasionou na troca dos corpos. Após tomar conhecimento do ocorrido, a alta gestão da Fundação prontamente realizou uma reunião com os envolvidos para solucionar o problema e acolhimento dos familiares. Na ocasião, a Funerária Emirtra assumiu a responsabilidade informando que adotará as ações necessárias para remediar o ocorrido, arcando com todas as despesas.
Ressaltamos que a Fundação é uma instituição filantrópica com atendimento exclusivo ao Sistema Único de Saúde (SUS), e, em seus 10 anos de atuação, nunca passou por uma situação como essa justamente por seguir criteriosos protocolos de segurança. Uma dessas medidas é a opção para as famílias de pacientes que falecem com a Covid-19 reconhecerem os corpos dos seus entes queridos seguindo diversas medidas de segurança.
Apesar de não ter nenhuma responsabilidade sobre o triste fato ocorrido, a Fundação lamenta muito e se solidariza com as dores dos familiares. Sabemos que é um momento de muita tristeza e o enterro faz parte do processo de luto.