Nelson Rodrigues criou a expressão: complexo de vira-lata. Ele se referia ao trauma nacional vivenciado em 1950 quando nossa seleção de futebol foi derrotada pela seleção uruguaia em plena final de Copa do Mundo no Maracanã.
Por esse trauma o brasileiro, voluntariamente, se coloca como um Narciso ao contrário. Ou seja, se deprecia fortemente frente aos demais. Adota-se o pessimismo como modus operandi de uma nação.
Cabe ressaltar: recentemente, em 2014, o “viralatismo” foi reavivado com a surra sofrida pela seleção brasileira durante a Copa do Mundo.
Mas por que falar em complexo de vira-lata?
Muito se falou nos últimos dias sobre a FORD, grande produtora mundial de automóveis, deixar o nosso Brasil. Porém, muito também deixou de ser dito.
Não foi dito que a FORD enfrenta crise em todas as suas unidades espalhadas pelo globo terrestre. A título de exemplo, nos próprios Estados Unidos – terra onde nasceu a empresa, ela deixou de produzir carros de passeio. Limitando-se, portanto, a fabricar SUVs e carros elétricos.
Não foi dito que na América do Sul a queda de vendas e faturamento alcançou 39%; que na Europa a queda de vendas foi de 20% e receitas 10% menores. Tais situações refletiram 25 Bilhões de dólares a menos que o ano de 2019 (que também já apresentava franco declínio).
Não foi dito que a participação de mercado da FORD vem decaindo desde 2016.
Não foi dito que a América do Sul representa apenas 1,73% do faturamento da FORD. Como também não foi dito que o nosso continente é o que a empresa possui menor participação no mercado (5,7%).
Não foi dito que a FORD deixou de ser a 4ª maior vendedora de veículos do Brasil, passando ao 6º lugar, segundo o Ranking da FENABRAVE.
Não foi dito que os ajustes e reestruturação da FORD na América do Sul ocorre desde o ano de 2011. A planta de São Bernardo do Campo-SP que produziu veículos como a Rural, Willys, Corcel, Belina, Maverick Brasileiro, Del Rey, Pampa, Escort, Fiesta, Courier e Ka foi paulatinamente desativada. Sendo certo que no ano de 2019 todas as atividades nessa “fábrica” já se encerraram. Digo “fábrica” pois anteriormente a isso já não se fabricava nenhum veículo ali.
Não foi dito que em 12/2020 o Presidente da FORD na América do Sul declarou o “ambiente crítico” que a empresa se insere, bem como “pressão de custos”. E que a decisão de alterar a participação da FORD no mercado de automóveis prioriza a “saúde financeira” como tática de sobrevivência.
Não foi dito que a Sede da FORD da América do Sul continua em São Paulo-SP. Apesar das fábricas brasileiras ficarem desativadas, o cérebro da operação da montadora na América do Sul permanece no Brasil.
Poucos disseram que a FORD continuará com o Centro de Desenvolvimento de Produtos e com o Campo de Provas no Brasil. Que fornecerá amparo aos proprietários de veículos, que importará veículos de melhor e maior envergadura tecnológica (nova Ranger, nova Transit, Bronco e Mustang). Que a empresa está comprometida em desenvolver novos modelos elétricos.
Se você aí… leitor… você mesmo… tiver sua renda reduzida em, aproximadamente, 40%: certamente buscaria novos rumos para sua vida antes que se visse sem nada.
A decisão da FORD é dura. Terá impactos sociais e financeiros em nosso país. Mas é uma decisão global. Não é nossa culpa.
Cuidado com quem fala. Por vezes… essa(s) pessoa(s) também cala(m). E pior! Por muitas vezes distorcem os fatos de modo a impor responsabilidade pelo ocorrido em uma pessoa OU grupo de pessoas. E pior ainda: apresentam a distorção simplesmente por querer comprovar alguma teoria pessoal maluca OU posição política contrária.
Somos cidadãos de um país forte. Somos integrantes de uma terra reconhecida mundialmente por suas criações e aperfeiçoamentos. São exemplos: radiografia, aeróstatos (balões, dirigíveis, etc…), máquina de escrever, avião, motores bi-combustíveis, identificador de chamadas, aparelho de som portátil (Walkman), coração artificial, câmbio automático para veículos, relógio de pulso, soro antiofídico, escova progressiva, dentre outros.
Apesar de não possuirmos nenhum Prêmio Nobel, tivemos grandes representantes como por exemplo:
- Carlos Chagas (que sofreu campanha contrária por próprios brasileiros). Naquele ano de 1924, o prêmio não foi entregue a ninguém.
- César Lattes (que descobriu o Méson Pi). Naquele ano de 1947, o prêmio foi entregue a Cecil Powell que era seu chefe e sequer participou das pesquisas.
Como ensinou Nelson Rodrigues: “Invejo a burrice, porque é eterna”. Ela permanece nos corações e mentes dos descrentes de si. Não vamos nos abater. Acreditemos em nós. Temos grandes desafios pela frente. Sejamos maiores e melhores neste ano de 2021.
Fale com o colunista: [email protected].
2 Comentários
Muito bom! Parabéns
Muito boa matéria,parabéns! Acho que qualquer decisão sobre Itabira teria que ouvir a população! Morei 40 anos em Itabira, sempre os Políticos falaram nessa palavra bonita”Diversificação Econômica”,mas nunca praticaram,pois o Básico do Básico,ainda não conseguiram que é a Água! Acorde Itabiranos!!!