Em um passo inesperado neste sábado (13), o Senado americano aprovou a convocação de testemunhas no julgamento do impeachment do ex-presidente Donald Trump. A medida, que na prática adia a votação final do julgamento, foi tomada para que os democratas possam chamar uma congressista republicana como testemunha.
Os deputados democratas que atuam como promotores querem convocar a representante republicana Jaime Herrera Beutler para depor, disse o chefe da acusação, o congressista Jamie Raskin.
A ideia dessa convocação veio após surgir a notícia de que Trump disse a um importante congressista republicano que a multidão que invadiu o Capitólio em 6 de janeiro estava “mais chateada” com sua derrota nas eleições do que os legisladores.
“Queremos ter a oportunidade de acessar seu depoimento através (da plataforma de videochamada) Zoom por menos de uma hora ou também de citar outros documentos relevantes”, disse Raskin no quinto dia do julgamento contra Trump pela acusação de “incitamento à insurreição “pelo ataque de seus partidários ao Capitólio”.
Raskin observou que os democratas também querem acesso às comunicações da deputada com o líder da minoria republicana da Câmara, Kevin McCarthy, e às notas que ela fez sobre uma conversa entre Trump e McCarthy durante o ataque ao Capitólio.
A votação de 55-45 a favor de permitir testemunhas significa que é improvável que uma decisão no julgamento seja tomada no sábado. Antes dessa mudança de rumo, esperava-se que ocorressem apenas os argumentos finais dos deputados democratas que atuam como promotores e dos advogados de defesa de Trump.
Um julgamento mais longo poderia frustrar os esforços do presidente democrata Joe Biden de superar logo as controvérsias em torno de seu antecessor e levar adiante sua própria agenda legislativa sobre o combate à Covid-19 e medidas de recuperação econômica.
Herrera Beutler é uma de dez deputados de seu partido que votaram pelo impeachment de Trump na Câmara no mês passado. Ela relatou nesta-sexta-feira (12) em um comunicado os detalhes de uma ligação entre Trump e o principal deputado republicano da Câmara, Kevin McCarthy.
“‘Bem, Kevin, acho que essas pessoas estão mais chateadas com a eleição do que você'”, teria dito Trump, segundo Beutler. Ela afirmou que Trump inicialmente negava que seus apoiadores estivessem envolvidos no ataque, alegando que a multidão era membro do movimento de esquerda Antifa, o que McCarthy rejeitou.
Trump, que deixou o cargo em 20 de janeiro, é o primeiro presidente americano ter impeachment aprovado duas vezes na Câmara e o primeiro a enfrentar um julgamento desse tipo após deixar o cargo.
Se condenado, o Senado poderia votar para impedi-lo de concorrer a um cargo novamente. No entanto, a condenação é considerada improvável, já que pelo menos 17 republicanos na Casa de 100 assentos teriam que se juntar aos 50 democratas para considerar o ex-presidente culpado. O líder republicano do Senado, Mitch McConnell, deve votar pela absolvição de Trump, disse uma fonte familiarizada com a situação no sábado.
O julgamento teve como tema central o perigo que os legisladores enfrentaram em 6 de janeiro, quando Trump, num comício em frente à Casa Branca, instou seus seguidores a marcharem sobre o Capitólio e “ficarem selvagens” na tentativa de reverter sua derrota na eleição. O então vice-presidente Mike Pence e os congressistas presentes tiveram que se esconder às pressas por segurança. Cinco pessoas morreram no caos.
As palavras de Trump naquele dia aconteceram depois que repetiu por meses falsas afirmações de que a vitória de Biden seria resultado de uma fraude generalizada.