A população voltou a protestar nesta quinta-feira (4) nas ruas de Mianmar contra o golpe militar, mesmo depois do dia mais violento da repressão. Ao menos 38 manifestantes pacíficos foram mortos a tiros pelas forças de segurança ontem, segundo a ONU.
“Foi o dia mais sangrento desde o golpe ocorrido em 1º de fevereiro. 38 pessoas mortas. Agora, mais de 50 pessoas morreram desde o início do golpe”, afirmou a enviada especial da ONU para Mianmar, Christine Schraner Burgener, a repórteres na sede da ONU na quarta-feira (3).
Entre as vítimas estão quatro menores de idade, incluindo um adolescente de 14 anos, segundo a ONG Save the Children. Até então, o dia mais violento tinha sido o domingo (28), quando 18 pessoas foram mortas.
Burgener se ofereceu para viajar a Mianmar, e exército respondeu que ela é bem-vinda, “mas não agora”.
As forças de segurança têm usado munição letal em várias cidades contra as manifestações pró-democracia. Imagens divulgadas nas redes sociais mostram manifestantes cobertos por sangue e com ferimentos na cabeça.
Seis jornalistas birmaneses, entre eles um fotógrafo da agência de notícias americana Associated Press, foram acusados de “propagar o medo entre a população, divulgar informações falsas (…) ou incitar os funcionários do governo à desobediência” e podem ser condenados a três anos de prisão.
Quase 1,5 mil pessoas já foram detidas, acusadas ou condenadas desde o golpe militar de 1º de fevereiro, segundo uma ONG de assistência aos presos políticos. Mas o número pode ser muito maior.
Em Yangon, a capital econômica do país, pequenos grupos se protegiam atrás de barricadas construídas com pneus velhos, tijolos, sacos de areia, bambu e arame farpado nesta quinta.
Em Mandalay, a segunda maior cidade do país, uma multidão se reuniu para o funeral de uma jovem de 19 anos que foi morta ontem, baleada com um tiro na cabeça. “Sem perdão para vocês até o fim do mundo”, gritaram as pessoas reunidas ao redor do caixão, coberto de flores.
Ma Kyay Sin se tornou um símbolo no país. Em uma fotografia registrada minutos antes do tiro que acabou com sua vida, ela aparece com uma camisa com a frase que viralizou nas redes sociais: “Tudo vai ficar bem”
O golpe militar
Os militares, que já usaram extrema violência nas revoltas populares de 1988 e 2007, tomaram o poder em 1º de fevereiro e prenderam o presidente do país, Win Myint , e a líder política do país, Aung San Suu Kyi, que ganhou o prêmio Nobel da Paz em 1991 e continua detida em um local secreto.
Depois do golpe, Suu Kyi foi acusada pelo novo governo por quatro crimes, incluindo “incitação aos distúrbios públicos”, e o ex-presidente, de violar a Constituição.
Mianmar vivia uma fase democrática desde 2011, depois de quase 50 anos de regime militar.
Desta vez, o exército tomou o poder por rejeitar o resultado da eleição de novembro, que foram vencidas por ampla maioria pelo partido da Nobel da Paz, e declarou estado de emergência e prometeu novas eleições, mas sem divulgar datas.
Fonte: G1 Mundo