Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), as mulheres ocupam 59% do corpo técnico e representam 56% dos alunos de mestrado e doutorado. Mesmo sendo maioria, as cientistas, muitas delas mães, ainda têm que enfrentar desconfiança e falta de acolhimento.
“A pesquisa não é um campo masculino, mas como em todos os aspectos da sociedade brasileira existe ainda um certo machismo na comunidade científica que, geralmente, acontece de forma velada”, disse a pesquisadora Santuza Teixeira, que integra o Centro de Tecnologia de Vacinas da UFMG.
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As mulheres representam 53% das bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Mas, de acordo com Santuza, a medida que as cientistas avançam na carreira, este percentual diminui drasticamente, chegando a apenas 17% do total dos membros titulares da Academia Brasileira de Ciência, do qual faz parte desde 2020.
“Provavelmente um dos motivos é o fato destas escolhas – quem será eleito para a Academia, quem terá o seu projeto aprovado, quem será convidado para dar uma palestra em uma reunião científica importante – serem feita por grupos nos quais os homens são maioria. Um segundo motivo diz respeito, é claro, à maternidade”, disse a pesquisadora.
O acolhimento à mulher cientista que também precisa se dedicar à família é uma das demandas do grupo “Parent in Science”, que discute maternidade e carreira no campo de pesquisa científica.
“Por falta de incentivo e amparo, mulheres cientistas que são mães e precisam dar conta de suas famílias, acabam não produzindo tanto quanto os homens. É um campo onde, em muitos setores de pesquisa, a maioria dos cientistas é formada por mulheres, mas ainda é um campo machista”, disse a pesquisadora da UFMG e embaixadora da “Parent in Science”, Viviane Alves.
Por ser uma mulher negra, a professora teve que enfrentar muitos desafios em sua carreira.
“Por ser negra, escuto que não tenho cara de professora da UFMG, não tenho cara de cientista. Quando estava na graduação, não consegui uma vaga de estágio, mesmo tendo a maior nota. Mas hoje sou cientista, divulgadora científica, produzo podcast e vejo um aumento de negros entre os alunos da universidade”, contou ela.
Mesmo com a ampliação da diversidade, a luta pela equidade de gênero e acesso às oportunidades é diária. Para Santuza, a esperança é que chegue o tempo em que o Dia da Mulher, celebrado nesta segunda-feira (8), não seja mais necessário.
“Espero que a geração da minha filha ainda possa ver o dia que o dia da mulher deixe de existir”, disse ela.
Fonte: G1