No começo de março, chamei atenção sobre a tendência de órgãos de saúde internacionais orientarem a redução da idade para rastreamento do câncer colorretal. Agora, para fechar o Março Azul Marinho, que é dedicado à conscientização sobre esse tipo de tumor, vou compartilhar com você, leitor, algumas dicas para a prevenção da doença.
De acordo com o mapeamento realizado pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA), este tipo de carcinoma é recorrente em países desenvolvidos, onde ocorrem em 65% dos casos, sendo mais comum em homens do que em mulheres.
No Brasil, estimam-se, para cada ano do triênio de 2020-2022, 20.540 casos de câncer de cólon e reto em homens e 20.470 em mulheres. Esses valores correspondem a um risco estimado de 19,64 casos novos a cada 100 mil homens e 19,03 para cada 100 mil mulheres.
O câncer de intestino é um tumor de fácil prevenção e um dos mais eficientemente curáveis, desde que se faça um diagnóstico precoce. E isso pode ser feito com ações acessíveis na rotina diária.
eja sete maneiras de ajudar a proteger a saúde do seu intestino
1) Faça o rastreamento para câncer colorretal
Os exames objetivam encontrar o câncer de cólon ou reto antes que os sinais e sintomas se desenvolvam, e diagnosticar o tumor mais cedo, quando os tratamentos têm maior probabilidade de sucesso.
Conforme expliquei no artigo anterior, a American Cancer Society recomenda testes a partir dos 45 anos para pessoas com risco médio. Alguns exames de rastreamento colorretal também podem localizar e remover crescimentos pré-cancerosos (pólipos) no cólon ou reto.
Os pólipos não são câncer, mas com o tempo o câncer pode começar nos pólipos. Removê-los diminui o risco de câncer. Converse com seu médico sobre quando você deve iniciar o rastreamento e quais exames podem ser adequados para você.
2) Coma muitos vegetais, frutas e grãos inteiros
Dietas que incluem muitos vegetais, frutas e grãos inteiros têm sido associadas a uma redução do risco de câncer retal ou de cólon. Além disso, é recomendável comer menos carne vermelha (bovina, suína ou cordeiro) e carnes processadas (salames, salsichas, linguiças, presuntos, carnes enlatadas, molhos à base de carne, etc), que foram associadas a um risco aumentado de câncer colorretal.
3) Faça exercícios regularmente
Se você não é fisicamente ativo, pode ter uma chance maior de desenvolver câncer colorretal. Ser mais ativo pode ajudar a reduzir o risco. Busque ajuda de um profissional da área de educação física para planejar uma rotina de atividades físicas própria para você.
4) Assuma o controle de seu peso
Estar acima do peso ou ser obeso aumenta o risco de contrair e morrer de câncer retal ou de cólon. Uma alimentação mais saudável e o aumento da atividade física podem ajudá-lo a controlar o peso.
Pesquisas mostram que os hábitos relacionados à dieta, peso e exercícios, estão fortemente ligados ao risco de câncer colorretal. Mudar alguns desses hábitos de vida pode ser difícil. Mas, fazer as mudanças também pode diminuir o risco de muitos outros tipos de câncer, bem como de outras doenças graves, como doenças cardíacas e diabetes.
5) Não fume
Os fumantes de longo prazo têm maior probabilidade de desenvolver e morrer de câncer retal ou de cólon do que os não fumantes.
6) Evite o álcool
O consumo de bebidas alcoólicas tem sido associado a um maior risco de câncer colorretal. As atualizações científicas mostram que é melhor não beber álcool. Mas, se você fizer isso, a American Cancer Society não recomenda mais do que dois drinques por dia para homens e uma bebida por dia para mulheres.
7) Atente-se ao histórico de câncer na família
Se houver casos de câncer colorretal em familiares próximos, especialmente se diagnosticados em idade abaixo dos 50 anos, procure um oncogeneticista. Até 25% dos casos de câncer colorretal possuem componentes gene%u0301ticos heredita%u0301rios.
As si%u0301ndromes de ca%u0302ncer colorretal heredita%u0301rio se subdividem em polipose – que compreende a polipose adenomatosa familiar (PAF), a polipose familiar juvenil e a si%u0301ndrome de Peutz-Jegher – e na%u0303o polipose – representado pelo ca%u0302ncer colorretal heredita%u0301rio na%u0303o polipose (HNPCC) ou síndrome de Lynch.
Estas doenças hoje são detectadas com eficácia através da análise genética da saliva ou sangue. Uma vez identificada a mutação ou mutações predisponentes, um aconselhamento especializado é oferecido. As condutas preventivas variam entre colonoscopias anuais, uso de medicamentos preventivos, como a aspirina, e até a remoção preventiva do intestino grosso.
Incidência de câncer colorretal aumenta entre os mais jovens
Um estudo divulgado recentemente pela American Cancer Society revela que, de cada dez pacientes diagnosticados com a doença, três têm menos de 55 anos. Diante disso, especialistas vêm recomendando a antecipação dos exames de detecção dos tumores e a atenção aos hábitos de vida.
Os pesquisadores analisaram 490.305 casos diagnosticados em pacientes com mais de 20 anos nos Estados Unidos, entre 1974 e 2013. Em geral, a incidência está em declínio desde a metade da década de 1980, graças a novas técnicas de detecção.
Mas, entre adultos de 20 a 39 anos, a taxa de incidência de câncer de intestino vem crescendo entre 1% e 2,4% anualmente desde a década de 1980. E na faixa etária dos 40 aos 54 anos, a variação anual tem sido entre 0,5% e 1,3%, desde meados da década de 1990.
O aumento nas taxas de incidência de câncer no reto é ainda mais evidente, com variação média anual de 3,2%, entre 1974 e 2013, para adultos na faixa etária entre 20 e 29 anos. Entre 40 e 54 anos, o crescimento foi de 2% ao ano, desde a década de 1990. Em 2013, 29% dos casos diagnosticados da doença foram em pacientes com menos de 55 anos, contra percentual de 15%, registrado em 1990.
Para finalizar, reforço que todos os cuidados de prevenção citados acima são fundamentais para a redução da incidência e mortalidade por câncer colorretal, visto que a obesidade, a alimentação pouco saudável, o estilo de vida sedentário e a predisposição genética são algumas das hipóteses para o crescimento da incidência desse tipo de tumor entre adultos jovens e de meia-idade. Então, em parte, a redução dessa tendência depende de cada um de nós.
*André Murad é oncologista, pós-doutor em genética, professor da UFMG e pesquisador. É diretor-executivo na clínica integrada Personal Oncologia de Precisão e Personalizada e diretor Científico no Grupo Brasileiro de Oncologia de Precisão: GBOP. Exerce a especialidade há 30 anos, e é um estudioso do câncer, de suas causas (carcinogênese), dos fatores genéticos ligados à sua incidência e das medidas para preveni-lo e diagnosticá-lo precocemente.