Maior força de oposição no Parlamento, AfD opta pela radicalização e entra em campanha para as eleições gerais com pautas como a saída alemã da UE, mais barreiras migratórias e fim da obrigatoriedade do uso de máscaras.
O populismo de direita alemão deu um passo mais à direita. Neste domingo (11/04), o partido Alternativa para a Alemanha (AfD) apresentou, após dois dias de convenção, suas principais diretrizes para as eleições deste ano. O caminho escolhido foi o da radicalização: com pautas contra a União Europeia, medidas de restrição na pandemia e a imigração.
Em setembro, a Alemanha realiza eleições gerais que definirão quem será o sucessor de Angela Merkel, que já anunciou que não concorrerá após 16 anos no poder. A AfD, hoje maior bancada de oposição no Parlamento, tem cerca de 11% das intenções de voto.
As intenções de voto estão abaixo do resultado obtido pela AfD em 2017, quando, com 13% de apoio das urnas, foi o terceiro partido mais votado. Desde então, seus correligionários estão imersos em divisões sobre o quão radical a legenda deve ser. E, nesta queda de braço, a ala mais à direita parece ter prevalecido.
Flerte com o negacionismo pandêmico
Durante a pandemia, a AfD frequentemente tentou capitalizar o descontentamento popular sobre as medidas de restrição. Alguns membros do partido chegaram a se unir a manifestações antivacina e antilockdown no país.
Na convenção deste fim de semana, os delegados do partido apoiaram uma resolução com o slogan “Alemanha, mas normal”, evocando o retorno a uma suposta norma ou normalidade alemã.
No tema pandemia, o manifesto inclui o repúdio ao que o partido chamou de “políticas de medo”, como o lockdown, e à “obrigação do uso de máscara”, medida que comprovadamente evita a propagação do coronavírus.
“A AfD quer mostrar que essas orgias de proibição, esse emprisionamento, essa loucura de lockdown, que não há necessidade disso”, disse no sábado Jörg Meuthen, colíder do partido.
Durante a convenção, o tema da liberdade individual foi um foco recorrente. Os correligionários observaram com orgulho que 570 deles se reuniram pessoalmente em Dresden, ao contrário de outros partidos alemães, que insistiram em eventos on-line neste ano – o que é cientificamente recomendado para minimizar a propagação de um vírus que matou quase 80 mil pessoas na Alemanha.
Além da rejeição às máscaras, os membros do partido concordaram em uma plataforma que se opõe a pressionar as pessoas para obter testes, vacinas ou aderir a aplicativos de rastreamento e participar de programas de “passaportes de vacinação”.
A Alemanha luta para conter uma terceira onda da pandemia, e as pesquisas mostram que a maioria no país apoia medidas de restrições. O governo Merkel está preparando uma lei para conseguir impor restrições de movimentação a nível nacional – atualmente maior parte do poder para isso está nas mãos dos governadores dos estados.
“Dexit” e imigração
A AfD decidiu no domingo por uma plataforma solidamente anti-UE para as eleições de setembro.
“Consideramos necessária a saída da Alemanha da União Européia e o estabelecimento de um novo grupo econômico e de interesse europeu”, afirmou o partido em uma resolução.
É a primeira vez que o partido pede tão claramente uma saída da Alemanha da UE em uma plataforma eleitoral. “Dexit” – abreviação de “Deutschland” + “exit” – apareceu entre os principais tópicos no Twitter no domingo da Alemanha.
O partido anti-islã e anti-imigração votou também a favor da proibição total da entrada de parentes de refugiados já aceitos na Alemanha.
Os membros da legenda concordaram em manifestar-se contra “qualquer reunificação familiar para refugiados”, revisando a diretriz anterior que havia solicitado que tais reuniões fossem permitidas somente em circunstâncias excepcionais.
A AfD também pediu que a migração fosse restringida “de acordo com um modelo japonês”, conhecido por ser altamente restritivo, porém sem entrar em detalhes.
“De acordo com o manifesto eleitoral do partido, ser alemão deve voltar a ser uma questão de hereditariedade. Segundo ele, somente aqueles que têm pais alemães são alemães. Assim, centenas de milhares de alemães seriam ideologicamente declarados ‘não alemães'”, escreveu, em artigo de opinião, o comentaria político da DW Hans Pfeifer.
Histórico
Embora a AfD seja hoje o maior partido de oposição no Parlamento, sua chegada ao poder é tida como improvável neste ano. Para nomear um chanceler federal, uma legenda ou várias unidas precisam ter maioria absoluta dos votos, e todos os partidos já descartam se aliar à extrema direita.
A AfD começou como um partido eurocético (contra a moeda única) e ganhou um impulso político durante a crise migratória de 2015. Mas isso também atraiu muitos membros mais alinhados a políticas identitárias.
Brigas internas irromperam, e membros foram removidos – alguns se envolveram na negação do Holocausto ou demonstraram simpatia aberta a formas de extremismo. Para muitos dentro da legenda, o slogan “Alemanha, mas normal” é um sinal de que o partido está voltando aos valores conservadores.
O partido atingiu seu auge nas últimas eleições na Alemanha, em 2017, quando garantiu cerca de 13% dos votos, entrando no Parlamento pela primeira vez como maior partido de oposição.
Mas a AfD perdeu apoio à medida que a Alemanha se recuperava da pandemia do coronavírus. E ultimamente o partido vem sendo assombrado por divisões internas e acusações de vínculos com grupos neonazistas.
As pesquisas mais recentes apontam para um apoio de entre 10% e 12% para a AfD. À frente nas pesquisas de opinião está a chapa CDU/CSU de Merkel, com 27%, seguida pelo Partido Verde, tecnicamente empatado.
A AfD não decidiu sobre quem enviar para as eleições como seu principal candidato, mas definiu que será uma chapa dupla, com dois políticos. Os nomes serão determinados posteriormente.
Fonte: DW