Aquele friozinho na barriga de pais e mães do primeiro dia de aula dos filhos deve aparecer para as famílias que levarão as crianças para as escolas no retorno do ensino presencial em Belo Horizonte, previsto para esta segunda-feira (26/4) em escolas particulares. O sentimento, que normalmente é experimentado em fevereiro e agosto, na abertura do primeiro e segundo semestres letivos, vem de forma tardia e extemporânea neste fim de abril, e com um ingrediente a mais: os protocolos contra a disseminação do novo coronavírus.
Nesta segunda-feira, a retomada será para crianças com idades de até 5 anos e 8 meses, que cursam o ensino infantil nas escolas particulares. Em 3 de maio, voltam os alunos da rede municipal. A Secretaria Municipal de Educação informa que, no total, são cerca de 108 mil crianças nessa faixa etária, divididas entre a rede própria (52.818), as creches parceiras (27.447) e a rede privada (28.112). A suspensão das aulas nas escolas da capital foi determinada pelo prefeito Alexandre Kalil (PSD) no Decreto 17.304, de 18 de março de 2020. As aulas presenciais ficaram suspensas por quase 13 meses.
Em agosto do ano passado, Kalil afirmou que o ensino remoto é uma “agressão à pobreza”. A crítica voltou a ser feita em 30 de novembro, ao participar do programa Roda Viva, em resposta a pergunta do Estado de Minas. “O ensino remoto deu certo em algum lugar? Se deu certo, vou lá aprender. No Brasil, fracassou. Não vou copiar coisa que fracassou”, disse. Na época, explicou que a prefeitura seguiria plano pedagógico de dois anos em um. Em agosto, Kalil afirmou que as aulas presenciais na capital estavam condicionadas à oferta de uma vacina contra a COVID-19, o que, na época, estava em fase de pesquisa. No entanto, os professores retornam às salas de aula sem terem sido imunizados.
A não vacinação da categoria, a queixa em relação aos protocolos sanitários e o número de casos de COVID-19 por 100 mil habitantes levaram os professores da rede municipal a decretar “greve sanitária” na quarta-feira (20/4) depois de assembleia virtual. De acordo com Daniel Wardil, diretor do Sindicato dos Trabalhadores de Educação da Rede Pública de Belo Horizonte (Sind-Rede/BH), cerca de 2,3 mil educadores participaram do processo de tomada de decisão.
Questionada sobre a greve, a Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte afirmou que aguarda o comparecimento dos profissionais às escolas na data prevista. Os professores foram convocados em portaria publicada no Diário Oficial do Município de sexta-feira (23/4). A jornada prevista é de quatro horas e meia por dia de forma presencial. Também devem dedicar três dias da semana para a regência de classe.
Em nota de sua assessoria, a secretaria informou que respeita a entidade sindical, mas acredita que a decisão de retornar às salas de aula é individual. “Aguardaremos dia 26/4 para conhecer a decisão de cada um, ao serem convocados para a escola e lá conhecerem todos os protocolos de segurança implantados”, diz o texto. Em entrevista ao EM, a secretária de Educação de BH, Ângela Dalben, disse contar o bom-senso dos profissionais (leia mais na página 9).A
Aresidente do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG), Zuleica Reis, afirmou que as escolas da rede privada estão preparadas para o retorno às aulas presenciais. No entanto, não é possível prever quantas famílias vão levar seus filhos neste primeiro momento.
Nem todos vão voltar
Na rede da prefeitura, a secretaria garante que as escolas estão preparadas para o retorno, fruto do esforço de cada instituição em conformidade com as orientações municipais. A pasta prevê que nem todas as famílias mandarão os filhos para as unidades de ensino em um primeiro momento.
No período de suspensão das aulas presenciais, a secretaria informa ter adotado outras ações pedagógicas não presenciais. Desde junho de 2020, os professores da rede municipal entraram em regime de teletrabalho, com objetivo de produzir estudos sobre as comunidades nas quais as respectivas escolas estão inseridas.
Um levantamento, denominado Mapa Socioeducacional, foi elaborado pelo corpo de educadores de cada unidade levando em consideração as especificidades locais. A secretaria também determinou que os professores elaborassem atividades e roteiros de estudos para os estudantes. De acordo com a pasta, foram produzidos materiais físicos para minimizar os impactos decorrentes da dificuldade de acesso à internet e a recursos tecnológicos.
Fonte: Estados De Minas