Os números de passagens que possui o policial militar suspeito de matar Marcos Vinicius Vieira Couto, de 29 anos, na Vila Barraginha, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, é um exemplo da impunidade com alguns agentes e que acaba levando ao cometimento de outros crimes. A análise é do especialista em segurança pública Luiz Flávio Sapori, que cobra das autoridades públicas repúdio mais incisivo a esse tipo de prática.
A reportagem de O TEMPO conversou com o pesquisador após o laudo da perícia da Polícia Civil apontar que Marquinhos não tentou tomar a arma do militar, conforme alegado pela corporação após o homicídio. “A sensação de impunidade faz com que alguns maus policiais se sintam na legitimidade de cometer abuso de poder”, disse o especialista.
Apesar dos militares de Minas ainda não utilizarem câmeras nas fardas, o serviço acaba sendo registrado, visto que sempre há uma pessoa gravando as ações. Nos casos mais recentes, como por exemplo, o de Paineiras, nem isso intimidou o uso da força contra um jovem que já estava imobilizado.
Segundo Sapori, o abuso de poder acontece pois alguns profissionais estão se sentindo “livres” para agir desta forma e acabam recebendo aval até mesmo do presidente da República. “Os maus profissionais estão vindo mais à tona”, comenta.
Para mudar a realidade, o especialista defende uma “fala forte” das autoridades públicas. “Vejo uma certa falta de comando da Polícia Militar, do governo de Minas. Estão sendo poucos incisivos em condenar os abusos. É preciso uma fala forte do secretário de Segurança e do governador destacando que não vão tolerar tais atitudes. Quem está na ponta entende a mensagem da autoridade política. Estão muito em cima do muro”, pondera.
‘Não me surpreendo’
Ainda sobre o caso da Vila Barraginha, Sapori diz não se surpreender com o resultado do laudo de que a vítima não tentou tomar a arma do policial militar. “Já esperava esta conclusão. As imagens que foram disponibilizadas para todos mostraram bem nítida a ação de violência que foi quase uma execução sumária”.
Uma investigação mais ampla se faz necessária, conforme analisado pelo especialista. “Tudo caminha para a afirmação de abuso de poder. Temos que ter a investigação do Ministério Público de Minas Gerais e da Polícia Militar para confirmar a hipótese do laudo, que não é a resposta definitiva. É preciso ouvir as testemunhas e o próprio policial para juntar elementos probatórios, mas não tem como ser outra conclusão”, finaliza.
Fonte: O Tempo