Pontífice, que aos 85 anos não descarta renunciar por problemas de saúde, presidiu cerimônia neste sábado (27/08). Dois dos nomeados são brasileiros.
O papa Francisco presidiu neste sábado (27) a cerimônia de posse de 20 cardeais, incluindo dois brasileiros, com o olhar voltado para o dia em que a Igreja precisar designar o seu sucessor.
Os novos cardeais se ajoelharam diante do pontífice para receber o barrete vermelho cardinalício, o anel e título. Dezenove compareceram a cerimônia, pois o arcebispo de Gana, Richard Kuuia, teve que ser hospitalizado por problemas cardíacos depois de chegar a Roma.
“Um cardeal ama a Igreja, sempre com o mesmo fogo espiritual, seja tratando das grandes questões ou das menores, seja encontrando-se com os grandes deste mundo ou com os pequenos, que são grandes diante de Deus”, afirmou o papa na abertura do ato solene na basílica de São Pedro, no Vaticano.
O pontífice argentino, de 85 anos, que enfrenta as dificuldades a idade e não descarta a possibilidade de renunciar por motivos de saúde, prepara o futuro da Igreja com a “criação’ (o termo religioso) dos 20 cardeais, 16 deles com direito a voto no conclave que designará o próximo líder dos católicos.
A imensa basílica estava lotada de cardeais de todo o mundo, convocados para uma reunião paralela e inédita de dois dias, na segunda-feira e terça-feira.
A reunião será oficialmente dedicada à reforma da Constituição Pontifícia, aprovada em março e em vigor desde 5 de junho. Mas para muitos será uma espécie de pré-conclave, para que os cardeais façam um balanço da situação da Igreja e se conheçam melhor.
Cardeais da África, Ásia e América Latina
Na lista de 16 cardeais com menos de 80 anos que receberam o título de “príncipe da igreja, estão religiosos da Índia, Sinagapura, Mongólia, Timor Leste, entre outros países.
Também destacam-se três latino-americanos: dois brasileiros, o arcebispo de Manaus, Leonardo Ulrich Steiner – primeiro cardeal da região amazônica -, e Paulo Cezar Costa, arcebispo de Brasília, assim como o primeiro cardeal um paraguaio, Adalberto Martínez Flores, arcebispo de Assunção.
O colombiano Jorge Enrique Jiménez Carvajal, arcebispo emérito de Cartagena das Índias, tem mais de 80 anos e não poderá participar em uma eleição do futuro pontífice.
Os novos cardeais “representam a Igreja de hoje, com uma forte presença do hemisfério sul, onde vivem 80% dos católicos”, destacou o vaticanista Bernard Lecomte.
Colégio cardinalício de 132 eleitores
Ao final de seu oitavo consistório, quase um para cada ano de papado, já que em março de 2023 completará 10 anos à frente da Igreja, Francisco será responsável pela designação de 83 cardeais do total atual de 132 eleitores, quase dois terços do grupo.
Um número determinante em caso de eleição do papa, que exige justamente maioria de dois terços para a fumaça branca no Vaticano.
Fiel a sua linha a favor de uma igreja mais social, menos europeia, próxima aos esquecidos, o papa argentino selecionou dois africanos e cinco asiáticos, incluindo dois indianos, confirmando o avanço do continente na Igreja.
Entre as nomeações mais notáveis está a do americano Robert McElroy, arcebispo de San Diego, na Califórnia, considerado um progressista por suas posições sobre os católicos homossexuais e o direito ao aborto.
“Viemos dos quatro cantos do mundo para aprender a nos conhecermos”, disse o americano pouco antes da cerimônia.
Outra nomeação emblemática é a do missionário italiano Giorgio Marengo, que trabalha na Mongólia. Ele será o cardeal mais jovem do mundo, com apenas 48 anos.
“É um sinal de atenção para realidades que geralmente são consideradas minoritárias […] porque as pessoas à margem estão no coração do Santo Padre”, disse Marengo à imprensa.
A presença nos primeiros bancos da basílica do cardeal italiano Angelo Becciu, que está sendo julgado no Vaticano por desvio de fundos e a quem o pontífice privou de seus privilégios em setembro de 2020, foi interpretada como uma mensagem de perdão.
Durante o rito, o papa também aprovou a canonização de dois italianos, o religioso João Batista Scalabrini, bispo de Piacenza, e Artemide Zatti, leigo professo dos salesianos, que dedicaram suas vidas a ajudar os emigrantes que no início do século XX viviam na América do Sul, em particular na Argentina.