Os cinco primeiros ministros do futuro governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foram anunciados nesta sexta-feira (9), no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de Brasília, onde está instalado o gabinete de transição. Segundo Lula, alguns nomes foram antecipados para que possam montar as equipes. “Preciso que algumas pessoas comecem a trabalhar para montar a estrutura do governo e para que o governo comece a funcionar”, disse.
De uma forma geral, os nomes apresentados representam um perfil mais apaziguador, na avaliação do cientista político Adriano Cerqueira. “Os nomes mais importantes são os de Haddad, na Fazenda; José Múcio Monteiro, na defesa; e Flávio Dino, na Justiça. São nomes já ventilados e são um sinal de paz para os grupos militares, que têm demonstrado resistência ao governo eleito.
Para a Casa Civil foi apresentado o nome de Rui Costa (PT), governador da Bahia por oito anos, com fim de mandato agora em dezembro. Ele ocupará o cargo que é entregue a pessoa de grande confiança do presidente.
Para o Ministério da Fazenda – que será recriado –, Lula confirmou o nome de Fernando Haddad, ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo. Haddad concorreu ao governo de São Paulo neste ano, mas foi derrotado por Tarcísio de Freitas, do Republicanos, ex-ministro de Jair Bolsonaro.
Nesta quinta-feira (8), Haddad se reuniu com o ministro da Economia do atual governo, Paulo Guedes, e disse que o encontro foi muito produtivo. Foi criada uma agenda de trabalho a partir da semana que vem.
Já o Ministério da Defesa volta a ser comandado por um civil, com o anúncio do nome de José Múcio Monteiro. O ex-ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) e ex-ministro de Relações Institucionais tem um perfil conciliador e sua indicação foi bem recebida pelos militares, que contavam com participação no governo desde 2018, ainda na gestão de Michel Temer.
A lista inicial ainda é composta por Flávio Dino (PSB), senador eleito em 2022 pelo Maranhão, Estado do qual foi governador. Dino assume o Ministério da Justiça. Ele integra o grupo técnico da transição que discute Justiça e Segurança Pública.
Segundo Lula, essas duas áreas deverão ser desmembradas futuramente. O presidente eleito salientou ainda que caberá ao futuro ministro reestruturar as carreiras da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e reduzir a interferência política nas forças de segurança.
E para a pasta de Relações Exteriores Lula escolheu Mauro Vieira, ex-chanceler e embaixador do Brasil na Croácia.
Demais nomes
Os outros ministros serão anunciados na próxima semana, após a cerimônia de diplomação de Lula e do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin. Originalmente, a equipe do futuro governo só seria anunciada após a diplomação, mas Lula decidiu antecipar alguns nomes após a aprovação no Senado da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição.
Após anunciar os nomes, Lula disse que todos os ministros, até agora, são homens e prometeu mais diversidade na apresentação dos próximos cargos, a partir da semana que vem. “Vai chegar uma hora em que vocês vão ver mais mulheres do que homens e muitos afrodescendentes”, declarou.
O adiantamento dos nomes pretende desfazer impasses no Ministério da Defesa e agilizar as negociações na tramitação da PEC da Transição na Câmara dos Deputados. Na semana passada, Lula disse que estava com “80% do ministério na cabeça”, mas informou que a montagem definitiva da equipe dependia de negociações.
Sem supresas
As escolhas do presidente Lula não surpreenderam o deputado federal Lincoln Portela (PL-MG), 1º vice-presidente da Câmara e opositor ao governo eleito. Para ele, eram esperadas e mostram um corporativismo do governo. “Os ministros indicados são do mesmo grupo político. Não há novidades. Preservam a unidade”, disse.
O cientista político Adriano Cerqueira afirma que havia um temor que fosse escolhido um nome vindo do STF para o Ministério da Defesa, o que inquietava os militares. O nome do ministro Lewandowski chegou a circular como possibilidade. “Isso seria como colocar gasolina no fogo. Obrigar os militares a se subordinarem a um nome do STF seria terrível. Já o José Múcio Monteiro é um nome com perfil conservador, que teve origem no PTB, tem capacidade política e tranquiliza esses grupos militares. Mostra disposição de conversar”, avalia.
Para o estrategista da RB Investimentos, Gustavo Cruz, o nome de Haddad como ministro da Fazenda pode ter uma rejeição inicial grande do mercado. “Durante sua história política, ele levantou bandeiras relacionadas à matéria econômica, adotadas no governo Dilma, do que o modelo utilizado no primeiro governo Lula. Ele sempre fez muitas críticas ao setor bancário, setor financeiro; faz, com frequência, a defesa de taxar heranças, taxar os mais ricos. Porém, na relação com o setor, a dificuldade é a defesa de algumas estratégias consideradas ‘criativas’, que na visão de boa parte do mercado financeiro não fazem sentido. Por exemplo, a defesa feita por ele na disputa eleitoral pelo governo de São Paulo de revisar os contratos de pedágios nas rodovias do Estado. Imagina se ele leva isso para todo o país. Traria uma insegurança para todo o setor e para o modelo de concessões”, destacou.
*Por Portal Hoje Em Dia